quarta-feira, janeiro 31, 2007
As palavras dos outros
«A esperança é um instinto que só o raciocínio humano pode matar. Os animais desconhecem o desespero.»
Graham Greene, O Poder e a Glória
Estrelas de cinema (4)
AS BANDEIRAS DOS NOSSOS PAIS *****
Herdeiro espiritual de John Ford, Eastwood é um cineasta conservador – na linguagem cinematográfica e também numa certa ideia de América que remonta ao tempo dos pioneiros: mais pura, mais limpa, mais livre. E ainda na forma como ama os actores, tornando-os muito mais do que peças da engrenagem industrial pós-moderna: este elenco que respira talento do primeiro ao último fotograma é um dos melhores ingredientes do filme, que justifica nota máxima. Acabado de estrear mas já um clássico.
Com Zé Nero no porão
“O seu nome não consta da minha lista!”. As palavras do funcionário, tipicamente português na sua arrogância de quem detém um pequeno poder, causaram-me um misto de perplexidade e divertimento. Estive para lhe dizer que tinha sido o próprio primeiro-ministro, um rapaz a quem já adivinhava grande futuro desde os seus alvores albicastrenses, quem me tinha telefonado a insistir para que acompanhasse a sua comitiva na viagem à China. Mas é claro que ele não acreditaria. Ao contrário das dezenas de empresários, políticos e jornalistas que, alinhados em filas certinhas, ele ia chamando para o avião, sempre evitei os holofotes mediáticos.
Como explicar-lhe, com os motores já a roncar, o meu longo conhecimento dos ensinamentos de Mao Zedong, como descrever-lhe o pôr-do-sol em Beijing, como contar-lhe em breves momentos os sonhos de toda uma geração? Não havia tempo a perder! Agarrei num cabo atado ao avião e, com uma agilidade insuspeita para o meu 1.60 m por 85 kg, icei-me para o porão das bagagens. Depois, introduzi-me na cabine e consegui um lugar deixado vago por um empresário têxtil que (soube mais tarde) teve que ficar em Portugal porque o sistema de controlo de idas à casa de banho das suas operárias tinha avariado, pondo em risco o futuro da fábrica.
A viagem para cá correu bem, tirando um problema: fiquei sem mala, ou antes, com a mala do tal empresário do norte que ficou na pista a ver navios. Ficarei esquisito, com estes fatos dois números acima do meu tamanho.
* José Nero Fontão julga que Beijing é a Cidade Proibida
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Afinal este é que é o post zen
Post zen
Um cronista de regresso ao futuro
Falta memória nas Redacções portuguesas. Falta memória na blogosfera portuguesa. Por isso, aceitei comovido o convite que esta rapaziada do Corta-Fitas me fez para trazer um pouco da minha experiência ao convívio dos leitores. Sou do tempo em que o Jornalismo era uma Profissão honrada, em que as notícias eram escritas nas toalhas de papel de uma qualquer tasca do Bairro Alto, não raras vezes manchadas por uma nódoa do tinto que saltava do jarro de barro ou da gordura de uma batata frita mais vivaça. Em que os cotovelos traziam para o jornal as migalhas do papo-seco que nos matava o bicho em tertúlias boémias, entre mulheres de vida difícil, onde a Liberdade do pensamento não se deixava aprisionar pela Censura dos esbirros que então campeavam e que, há que dizê-lo, continuam por aí, ainda que travestidos de democratas.
Dou início a esta colaboração com o relato da viagem à China que vou fazer em companhia do primeiro-ministro. A coincidência não poderia ser mais feliz. Também eu fiz parte de uma geração que sonhou com a Revolução Cultural, em mandar pela janela os nossos anquilosados docentes universitários, em denunciar aquela tia reaccionária, em pôr a canga no chefe de Redacção. Durante duas longínquas semanas, partilhei os ideais com o Durão, com a Maotzé Morgado, o Saldanha, o Pacheco, o Coelho, o Lobo Xavier, o Carlos Andrade, o Albano e o Arnaldo Matos e tantos outros. Uma “geração de ouro” da qual me afastei rapidamente ainda hoje não sei porquê. Medo, comodismo, desilusão? Se calhar tudo isso e ainda o facto de ter casado cedo com a minha Célia, já então jornalista de causas, e ter que sustentar a casa em vez de andar em manifs. É portanto esta viagem à China que, na medida das minhas possibilidades e evitando o tema dos Direitos Humanos, irei doravante relatar.
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Com jeito
Gatos do "sim"
Ainda assim, como diz a malta da bola, o sketch é genial. Agora, o que tinha graça era que Marcelo Rebelo de Sousa respondesse no Assim Não com um vídeo de resposta a Ricardo Araújo Pereira, tal como fez com Francisco Louçã.
Vai ter filas como na Gulbenkian...
O Ministério das Finanças anda atarefado.
Achou que devia fazer uma exposiçãozita.
Adivinhem sobre o quê...
A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) vai realizar uma exposição itinerante subordinada ao tema da Educação Fiscal.
A exposição estará patente no Átrio do Ministério das Finanças, todos os dias úteis, das 8.00 às 20.00 horas, de 1 a 28 de Fevereiro de 2007. Em seguida, irá percorrer o País.
Trata-se de uma campanha de educação cívico-fiscal para jovens e de consciencialização para adultos, com que a DGCI pretende contribuir para reanimar o sentido ético e de responsabilidade da sociedade e explicitar os factores que intervêm no contrato social entre o Estado e o cidadão
Tertúlia literária (140)
- Dizes que nunca lês... Posso emprestar-te um livro?
- Claro que sim. Desde que seja o de cheques.
A nova política
Pela amostra, parece-me que líderes políticos como Marques Mendes, Jerónimo de Sousa ou José Ribeiro e Castro têm de se mexer. Ou perdem a onda...
Um "post" intimista
Entretanto, é aqui em casa que uma pequena revolução se prepara. Encontramos a cada canto uma parafernália diversa que nos anuncia para breve um pequeno Natal. O berço, pintado de céu azul e nuvens brancas, está ali a um canto do nosso quarto. Há mais agitação, risos e nervos, pois. A mais pequena pede mais atenção. A mala está pronta. O telefone toca constante, a família e os amigos querem saber. Ao jantar, a mãe, que já cede à emoção, pede-nos subliminarmente que preparemos os nossos corações. Entre mais uma almôndega e mais puré, os mais velhos aparentam confiança, imunes. Coisa de adolescentes. O facto é que um pequeno e absoluto rei está a chegar. Que tudo baralha e dará de novo. Graças a Deus.
terça-feira, janeiro 30, 2007
Materazzi, outra vez
O italiano voltou a levar uma cabeçada. O vídeo tem relato brasileiro, o que dá ainda mais côr a este circo
Este tipo faz-me lembrar os bons velhos tempos dos épicos duelos Fernando Couto-Mozer ou Paulinho Santos-João Pinto. Ao pé destes, o Materazzi é um menino de coro...
O fogo e as cinzas
VIAGEM A ITÁLIA, 1954. Um casal britânico ruma a Itália para vender uma propriedade de um falecido tio dela. Da propriedade avista-se a baía de Nápoles e a massa imponente do Vesúvio. Dez anos antes registara-se a última erupção digna de nota do vulcão, entretanto adormecido – metáfora perfeita para caracterizar a relação conjugal de Katherine e Alexander Joyce. “Nos teus olhos só vejo cinismo e ironia”, atira-lhe ela, enquanto ele deplora o “ridículo romantismo” dela. Logo no primeiro diálogo que travam, algures numa estrada a cem quilómetros de Nápoles, é fácil detectar os sinais de desgaste do casamento, que dura há oito anos. “É a primeira vez que estamos sozinhos desde que casámos”, lembra Katherine (Ingrid Bergman) a Alex (George Sanders), que reconhece serem “estranhos um para o outro”. Tão estranhos que dormem em quartos separados e não parecem partilhar gostos de espécie alguma. Estranho, para eles, é também aquele país meridional, inundado de luz solar, onde os pares se enlaçam, as brigas por ciúme são frequentes e há sempre uma canção romântica a irromper em fundo. É o país que encantou Byron, Ezra Pound e um jovem poeta amigo de Katherine, Charles Sutton, morto anos antes, vítima de tuberculose, depois de lhe dedicar uns versos que jamais se lhe apagaram da memória.
“É necessário que o cinema ensine as pessoas a conhecerem-se”, costumava dizer Rossellini, cultor de uma arte sem artifícios. Não conheço outro filme que exiba com tanta sensibilidade as surdas tensões capazes de abalar qualquer casamento, proporcionando o mais delicado dos retratos de uma mulher apostada em ressuscitar o amor. A mesma que, vendo circular nas ruas de Nápoles várias grávidas e jovens mães empurrando carrinhos de bebés, fala deste modo, com o coração magoado ao pé da boca: “O erro do nosso casamento foi não termos filhos.” Amarga ironia: foi ela quem não quis tê-los.
É em Pompeia que Ingrid e George parecem tornar-se finalmente conscientes de que “a vida é breve” (diz ela) e “por isso temos de aproveitá-la” (diz ele). Mas a ressurreição do fogo que julgavam extinto ocorre no mais imprevisto dos cenários: no meio de uma procissão em honra da madonna que atrai milhares de napolitanos.
“Como podem acreditar nestas coisas? Parecem crianças!”, admira-se o inglês que esconde sempre as emoções.
“As crianças são felizes”, observa a mulher, que acredita em milagres.
E é num milagre que culmina este filme que nos fala sempre da terra enquanto nos mostra o céu. Separados pela torrente da multidão, Alex e Katherine acabam por cair nos braços um do outro. É afinal possível que das cinzas renasça o fogo que arde sem se ver? “Creio porque é absurdo”, dizia Graham Greene. Para quem crê, todos os vesúvios se movem. A qualquer tempo, em qualquer lugar.
O "sim" que vota não, o "não" que vota sim
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Gostei de ler
1. O PS atrapalha-se a si próprio. De José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro.
2. Cravinho. De Coutinho Ribeiro, n' O Anónimo.
3. Lendo, vendo, ouvindo. De José Pacheco Pereira, no Abrupto.
4. Tão coisa nenhuma. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
5. Vencedores e vencidos. De José Gomes André, no Bem Pelo Contrário.
6. A nova China e o pensar velho português. De Miguel Castelo-Branco, no Combustões.
7. Warm snow. De João Caetano Dias, no Blasfémias.
8. Orgulho suburbano. De JRP, no Comboio Azul.
9. Adeus a um homem bom. De Leonardo Ralha, no Papagaio Morto.
PS: retrato de família
Manhã sombria
Foto daqui
Texto publicado também ali
Etiquetas: Aborto
É uma chatice para a Rádio Renascença...
...que Portugal seja um Estado de direito.
Lisboa, 30 Jan (Lusa) - A emissora católica Rádio Renascença lamentou hoje ser obrigada a passar o tempo de antena do “sim” no referendo sobre o aborto, por considerar que as rádios privadas deveriam ficar de fora desta imposição legal. “Gostaríamos que esta obrigação [legal] não pesasse sobre as rádios privadas, mas pesa e, numa rádio com a identidade da Renascença, pesa naturalmente muito, até porque a nossa posição sobre o aborto e sobre o direito à vida é bem conhecida”, refere a estação numa nota lida hoje, no dia em que começa a campanha para o referendo de 11 de Fevereiro, antes do noticiário das 8:00.
Após a marcação do referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, os responsáveis da emissora católica declararam - também numa nota lida antes de um noticiário - o apoio da Renascença ao “Não”.
No entanto, ressalvaram que esta posição da emissora não afectaria o pluralismo do serviço noticioso da RR.
Na nota lida hoje, a RR promete cumprir a lei dos tempos de antena e disponibilizar uma hora diária aos movimentos e partidos que participam oficialmente na campanha pelo referendo.
“Durante a campanha temos o dever legal de acolher a propaganda de todos. De quem defende o ´não` e dos defensores do ´sim`”, refere a nota, sublinhando que a RR sempre respeitou e respeitará o pluralismo informativo.
A Igreja Católica, maioritária em Portugal, é frontalmente contra a liberalização da interrupção voluntária da gravidez (IVG), que vai ser sujeita a referendo nacional a 11 de Fevereiro.
segunda-feira, janeiro 29, 2007
Pê-esse-dê sem páua póinte
Sócrates também ouve. E se o Estado não fosse laico certamente encomendaria ao padre Melícias uma missa de acção de graças por ter uma oposição assim.
Rádio Clube renascido
A obra e o criador
pois ela é independente do obreiro/
no deitar a língua de fora, no grande manguito aos Autores/
é que se vê se a obra está completa/
Há dias, a propósito da morte do Cesariny, alguém defendeu em conversa comigo que a obra é sempre maior que o criador porque o criador desaparece e a obra fica. Mas achei que era um argumento pobre, que não vai à essência. O que eu descubro nestes versos do Cesariny é outra coisa. Sim, a criação, completa, torna-se independente do autor. Autónoma. Destacada. Outra. Pode assemelhar-se ou ser completamente diferente dele(a), mas seguramente liberta-se (deita a língua de fora e faz manguitos). Assim, manifesta em si mesma que o autor(a) agiu por algo maior (tenha ou não consciência disso). Mas isso não nos permite dizer que a obra é, por si mesma, maior que o criador(a). Isso seria uma “coisificação” da arte. A arte só é grandiosa na medida em que se reporta a algo mais que ela, porque não é ela que é eterna, é aquilo que ela diz. E para mim, o que a “obra consumada” diz é Deus.
Café ao lanche
Em casa, numa casa que conheço desde sempre, estão as mulheres da minha vida. Já estenderam a toalha e puseram a mesa. O almoço espera por mim no fogão. Ainda quente, feito como eu gosto, numa medida certa de tempero e dedicação. Para o lanche, há café e bolachas da Fábrica Santo António. São as minhas preferidas e as tias lembram-se. Ou sabem. Não há em mim gesto, virtude ou vício que não conheçam.
Servem-me almoço e histórias, mostram as inovações no jardim e os pintainhos novos no galinheiro. E falam do futuro porque há sempre um em casa das minhas tias. Para mudar a cerca ou construir um muro, para apanhar as ameixas ou o feijão. O ritmo das estações, o tempo das azáleas, a altura de dispor as orquídeas ou de podar as roseiras.
O quintal, a casa, os nossos dramas de família, o diz-que-diz. O nosso passado, o que fazemos. Eu, a minha tia Teresa, a tia Conceição, a tia Alice. As primas Adelaide e Vera. Em conversa de domingo, rememorando episódios, de rir ou chorar. Coisas que só nós entendemos. Peripécias, pedacinhos de vida partilhada.
Quem mais se lembra das covinhas que os sorrisos faziam à minha cara ou das vezes que entalei os dedos no Fiat 600 verde alface do meu tio Humberto? Onde irei desencantar um desespero como o que provoquei à minha tia Alice quando perdi os sentidos no chão da sua sala? E a devoção da minha tia Conceição no depósito de cinco contos para ajudar nos estudos em Lisboa?
As histórias fazem os laços, os laços fazem a família. A mim, coube-me esta, com estas mulheres. E, nelas, na sua força e nas fragilidades, sinto sempre que regresso a casa, ao mundo protegido da infância, a esse país de onde emergimos todos. É por isso que apanho a carreira 11, que suporto os balanços do autocarro e faço que não percebo que a paisagem mudou.
As terras foram ocupadas por blocos de apartamentos e construções clandestinas, os carros acumulam-se nas estradas, nos caminhos e becos. Na ronda, a polícia passa multas de estacionamento e, quando desço as escadas para o almoço no aconchego das tias, passo por caras que não reconheço. São os novos moradores.
Da voragem, que subiu pela encosta e engoliu o nosso tempo de colheitas e sementeiras, ficou a memória, a família, a casa dos meus avós, os vizinhos de sempre. E o carinho das mulheres da minha vida. De cabelos prateados, rugas no rosto, o coração no mesmo lugar. À minha espera.
(esta crónica foi publicada no DN-Madeira)
domingo, janeiro 28, 2007
A experiência Calatrava
Há uns tempos escrevi sobre a extraordinária experiência que é frequentar a Gare do Oriente. A fotografia lá em cima é gira, não é? Foi tirada do site da União Europeia, provavelmente co-financiadora deste gigantesco cadinho de gripes e constipações.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível estar porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados. Cabem lá as couves, as batatas, a garrafa de azeite, as laranjas, os queijos e os bolos de azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens. Eu já pertenço à geração tupperware, mas viajei com muitas alcofas em que facilmente lhes adivinhava o conteúdo.
Mais Genesis
Falta pouco mais que um mês e já faço a contagem decrescente para assistir na Aula Magna à recriação de dois históricos espectáculos dos Genesis, Foxtrot (1973) e Selling England by the Pound (1974) feita pelos Musical Box. Tenho os bilhetes bem escolhidos e bem guardados para os dois concertos, nos dias 1 e 2 de Março, quando me irei reencontrar em delírio com umas centenas de doentes "Genesianos" da era Gabriel. Alguns membros desta “irmandade” de fãs, inevitavelmente já os conheço há muito. Será uma vez mais tempo de uma comovida comunhão, revisitando a melhor banda musical dos anos 70. Tempo para cantarmos sílaba a sílaba aqueles loucos e incompreensíveis versos de Gabriel, e acompanharmos emocionadamente as guitarras de Steve Hackett e Mike Rutherfordo, o piano e o órgão de Tony Banks, e a bateria de Phil Collins. Pessoalmente anseio pela hora em que vou ver pela primeira vez na vida a actuação em palco do célebre tema Supper’s Ready, uma peça épica de 19 minutos na qual, segundo reza a história, Peter Gabriel depois de vestir a pele do Narciso (na foto), terminando, qual anjo branco, elevado aos céus cantando os versos finais, retirados do Livro do Apocalipse: Theres an angel standing in the sun, and hes crying with a loud voice, This is the supper of the mighty one, Lord of lords, King of kings,Has returned to lead his children home, To take them to the new jerusalém!!!
Os Musical Box, são uma banda de tributo canadiana, liderada por Denis Gagné e Serge Morissette que, respeitando os mais pequenos detalhes cénicos e a composição complexa e pouco dada a improvisos da banda original, foram "aprovados" e por diversas vezes elogiados pelos elementos da lendária banda. Há uns anos, quando os Musical Box actuaram em Bristol, receberam um espectador muito especial: o próprio músico, cantor e compositor Peter Gabriel que levou os seus filhos para que testemunhassem um pouco da sua própria história!
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Saudades de Goa
sábado, janeiro 27, 2007
O caso da manta
Ao Expresso, MRS revelou hoje que está a pensar continuar com a ideia dos vídeos online durante a presidência portuguesa da União Europeia, no segundo semestre deste ano, e, quem sabe, quando voltar à tona o debate sobre o Tratado Constitucional Europeu. A isto se chama marcação cerrada ao Governo...
Mais uma
P. S. - Agora fora de brincadeiras, parabéns pelos três anos do Tugir. Keep up the good work
Fica para a próxima
Afinal,não consegui ir à festa da Atlântico. Que pena, pelas 'postas' do Vítor Cunha e do PPM percebe-se que deve ter sido do melhor. See you soon...
Estrelas de cinema (3)
20, 13 ****
Norte de Moçambique, noite de Natal de 1969. No auge da guerra, a consoada costumava ser um período de tréguas entre o exército português e a Frelimo. Não foi assim naquelas horas em que todas as emoções vieram à superfície: a guerrilha atacou em força, sobressaltando os militares portugueses aquartelados nesse mato do fim do mundo, enquanto um drama paralelo se desenrolava na caserna, espaço concentracionário onde ao curso da guerra se somava a tensão sexual que redundaria em tragédia. O realizador Joaquim Leitão e o produtor Tino Navarro oferecem-nos uma obra memorável – a primeira a abordar os fantasmas do conflito colonial sem os estafados lugares-comuns da praxe, sem contrabando ideológico nem ladainhas politicamente correctas: 20,13 tem uma trama muito bem arquitectada e desempenhos notáveis, reunindo talvez a melhor galeria de actores secundários de um filme português. As cenas de “acção” são credíveis, os diálogos não soam a falso, até os sotaques – pormenor sempre descurado nas fitas lusas – são bem trabalhados: é possível ouvir um minhoto, um alentejano ou um ilhéu com as pronúncias de origem, sem o habitual tom declamatório que não convence ninguém. E há ainda um tabu que se desfaz: a homossexualidade na instituição militar. Tema aqui abordado com rara sensibilidade e notável subtileza - nada muito distante de Reflexos num Olho Dourado, a obra-prima de John Huston, baseada na novela homónima de Carson McCullers, que propiciou a Marlon Brando um dos melhores desempenhos da sua carreira.
Houve por cá quem torcesse o nariz ao filme? Claro que sim: certos “críticos” continuam a não perdoar os realizadores capazes de prender a atenção dos espectadores com a narração de uma boa história. Pior para eles: produções como esta revelam que o cinema português está a mudar, reconciliando-se com um público que nunca devia ter afugentado.
As palavras dos outros
"A todas las mujeres hay que pedírsela, porque la que no te lo da, te lo agradece."
Porfirio Rubirosa
(Com a devida vénia à Minha Rica Casinha)
Postais blogosféricos
1. É um novo blogue, com entrada directa para a nossa lista de favoritos: A Rota da Seda, da Margarida Pinto.
2. Também a Geração Rasca entra a partir de hoje, com todo o mérito, nos endereços de blogues que recomendamos.
3. Zona Fantasma, de Luís Rainha e Jorge Mateus: outro novo blogue a seguir com atenção.
sexta-feira, janeiro 26, 2007
Agora é que é!
Indignados
O Paulo e o Rodrigo exerceram o seu direito à indignação, insurgindo-se contra os blogues de esquerda que incluem alguma extrema-direita nas suas listas de endereços. Confesso que também fiquei indignado: por esta não esperava, Joana.
Isto 'tá muito esverdeado
Ele é vídeos do Sporting, ele é gráficos pirosos de leões, ele é reacções ofendidas. Está tudo muito verde aqui. Ora vamos lá equilibrar isto.
Quem disse que está frio?
"Que raio, não se arranjam poi aí umas morenas? É tudo louras", protesta na caixa de comentários um dos ilustres anónimos que nos visitam às sextas-feiras. Sem desprimor para a donzela antecedente, e com o devido pedido de licença ao FAL, aqui fica a Eva Longoria, que até pode ser uma excelente dona-de-casa mas não parece nada desesperada...
Jogo sujo
quinta-feira, janeiro 25, 2007
Entrar a abrir
E por aí fora. O leitor está conquistado: quer saber tudo sobre Raven. E não descansa enquanto não chega ao fim.
A nova blogosfera
Lisboa à deriva
24 horas
Marques Mendes apelou à estabilidade na CML e à necessidade de a actual equipa cumprir o seu mandato, sabendo que está vigiado por vários lados neste caso concreto. Pelo PS, pela restante oposição camarária (que é bastante activa em Lisboa, com José Sá Fernandes e Ruben de Carvalho), por Maria José Nogueira Pinto e pela sombra dos santanistas. Até ver, e apesar de não ter gostado do episódio da Baixa-Chiado (que lhe custou os pelouros), Nogueira Pinto tem sido o garante dessa estabilidade. Carmona será presidente da CML até Nogueira Pinto decidir roer a corda com mais violência. Este caso das buscas revelou isso mesmo, tendo sido a vereadora a primeira a afastar a possibilidade de eleições antecipadas na CML.
Esta notícia também é relevante, pois demonstra mais uma vez (como no afastamento de Pedro Portugal Gaspar da Baixa-Chiado) o envolvimento directo de Mendes na crise da CML. Para já está a conseguir domar a fera, mas até quando? É que, se o "circo" der para o torto, também poderá sair ferido.
Episódios da vida parlamentar (2)
Conversas à lareira
A partir de agora, nada será como dantes. Um político pode perfeitamente passar a usar o You Tube para responder a um adversário, sem qualquer moderação, edição ou selecção. Este fenómeno a que estamos a assistir está a acontecer num dado registo, de campanha para um referendo (ao aborto), mas poderá vir a dar-se fora destes momentos. Por exemplo, numa campanha interna para a liderança de um partido, numa disputa autárquica, como reacção a um processo ou a uma atitude do Parlamento. Quem quiser fazer uma declaração ao País, e não tiver o meio ou o espaço para o fazer, poderá usar uma ferramenta como o You Tube.
Para já, Marcelo está a fazê-lo com conta, peso e medida, defendendo as suas convicções sobre o aborto. E com graça. No terceiro vídeo há até alterações no "enredo". Em vez de sentado no sofá e a conversar com a menina que o entrevista, Marcelo está de pé, à lareira, com o braço encostado e em mangas de camisa. Em vez de dirigir-se à sua audiência como no primeiro ou de simular uma entrevista, desta vez trata-se de uma conversa.
Quem diz que Marcelo não está a preparar-se para, a seu tempo, se lançar noutros voos? O sinal destes dias é evidente. Não é líder do PSD como em 1998 e esse facto não o impediu de querer participar e ter opinião. Como só tinha o palco da RTP ao domingo e a coluna no Sol ao sábado, resolveu criar o seu espaço. As conversas à lareira de sua casa. Não ficou, como tantos outros, resguardado no seu palco, caladinho nos momentos decisivos. Não esperou que a caravana passasse, apanhou-a.
No melhor pano...
O dramático atentado da ETA em Barajas, a 30 de Dezembro, e a consequente derrapagem política de Zapatero, tornaram evidente o alinhamento do El País com o actual Executivo espanhol, bem patente nas manchetes diárias do jornal madrileno de então para cá - quase todas a "puxar" pelo Governo ou a lançar farpas à oposição. Seguem-se exemplos bem elucidativos:
4 de Janeiro
Zapatero expondrá al Congreso da nueva etapa antiterrorista
6 de Janeiro
Zapatero reúne un gabinete de crisis para responder a ETA
7 de Janeiro
Gobierno y ETA habían convenido otro encuentro en enero o febrero / Zapatero: "El proceso ha llegado a su punto final"
8 de Janeiro
El Gobierno ofrece um pacto de mínimos que valga PP y PNV
9 de Janeiro
Zapatero y Rajoy dialogan de nuevo tras el atentado sin acercar posturas
10 de Janeiro
ETA declara vigente el altro el fuego mientras amenaza com volver a actuar
11 de Janeiro
PNV y PSE se unem em la presión para aislar a Batasuna por su apoyo a ETA
13 de Janeiro
El PP boicotea las dos grandes marchas contra el terrorismo de Madrid y Bilbao
14 de Janeiro
Primera entrevista al Presidente del Gobierno tras el atentado / "ETA sólo tiene un destino: el fin"
15 de Janeiro
Zapatero pedirá hoy apoyo al PP para ampliar el Pacto Antiterrorista al PNV
16 de Janeiro
Rajoy se atrinchera contra la oferta de Zapatero de un gran frente anti-ETA
17 de Janeiro
Las exigencias de Ibarretxe y del PP impieden el pacto que impulsa Zapatero
19 de Janeiro
Zapatero sella con Ibarretxe su alianza frente a ETA pese a las divergencias
Dir-se-á: outros jornais fazem o mesmo. É verdade. Mas o El País habituou-nos a uma exigência maior. Por isso a decepção é ainda mais notória.
Portugal no Tube III
Mais um pedaço de Portugal vindo do You Tube. Um bom exemplo de como o radicalismo é a pior das doenças.
Começa a negociação a sério
Portugal participa como observador e agora torna-se claro que foi um erro substancial não ratificar o documento. O País encontra-se numa espécie de limbo: não chumbou o tratado, mas também não concluiu o processo, pelo que terá pouco a dizer na negociação que se segue.
A Espanha já explicou o que poderá ser a posição conjunta dos 18 países que ratificaram o texto: ninguém ali deseja alterações substanciais. Madrid defende mais política de imigração e de energia, a inclusão dos critérios de Copenhaga (que regulam os alargamentos) e pouco mais. É natural que quem tenha já ratificado queira o mínimo de alterações.
Se Nicolas Sarkozy vencer as eleições francesas (forte possibilidade) já sabemos o que irá propor o novo presidente da França, um mini-tratado, o que significa simplificar todo o documento, limitando-o a duas ou três partes (metade da actual dimensão). A ideia, obviamente, deverá desagradar aos 18, que ficam com forte capacidade negocial se as grandes potências decidirem ir por aí. Se vencer Ségolène Royal, o cenário pode complicar-se, pois a sua posição ainda não é clara e o Partido Socialista está muito dividido sobre a matéria.
Há ainda a terceira possibilidade, de redacção de um novo tratado baseado no actual. Trata-se de uma solução difícil, pois há 18 países que ratificaram e apenas dois que recusaram.
Ao participar na reunião de Madrid, Portugal confirma a sua proximidade em relação à primeira tese, a de haver apenas pequenas alterações. É, no fundo, a posição tradicional portuguesa em matérias europeias: escolher o campo intermédio, onde pareça estar a maioria, e tentar ajustar a sua posição, enquanto a negociação prossegue. Pouca ambição e nada de rupturas. Mas, neste caso, ainda com menos lastro.
Conversa de táxi
Onde está Mendes?
Tudo isto num processo que começou, como se sabe, com os afastamentos de Pedro Santana Lopes, Helena Lopes da Costa e Pedro Pinto da corrida à CML. Três pessoas que, ou muito me engano, ou estarão neste momento a ver no que isto vai dar. Isso é certo. É que, caso Carmona não se aguente à frente da CML, Santana e 'sus muchachos' avançam para o terreno e serão os primeiros a querer, secretamente numa primeira frase, e depois às claras, que haja eleições antecipadas em Lisboa. Um cenário nada utópico nas mentes santanistas e que devia merecer todos os cuidados preparatórios da parte de Marques Mendes.
Não esqueçamos que Marques Mendes entrou, e bem, numa cruzada pela credibilização da vida autárquica, tendo até negado a Isaltino Morais e Valentim Loureiro as candidaturas sob a chancela do PSD, pelo que não se compreende agora o seu silêncio. Não esqueçamos também que este processo das buscas da Polícia Judiciária na CML acontece numa altura em que Carmona Rodrigues já não tem a maioria no executivo, após o episódio que envolveu Maria José Nogueira Pinto, que se recusou a aceitar pressões nunca desmentidas da parte do líder do PSD na constituição da equipa que ia liderar o projecto da Baixa-Chiado. Nogueira Pinto ficou sem os seus pelouros na CML, mas deixou Carmona numa situação extremamente frágil perante a oposição interna. Que não se cansará de pedir a sua saída.
Tertúlia literária (138)
- Pepetela enganou-me.
- Então porquê?
- Pensava que era ela. Mas afinal é ele.
- Ele como?
- Pepetela é nome de gajo!
- Não acredito. Pepetela só pode ser nome de mulher.
- Garanto-te. Termina em ela, mas só agora soube que é um homem.
- Não fazia ideia... Como é que o nome de um escritor pode ter um erro gramatical tão grande?
Sobre o caso de Torres Novas
Ao estado a que as coisas chegaram, o mais difícil é afinal o mais urgente: cumprir os interesses da menina, promovendo-se a sua sã convivência com a família adoptiva e paralelamente a sua gradual aproximação ao pai legítimo, relação sem a qual a criança dificilmente crescerá de forma saudável. A menina é definitivamente o elo mais fraco, o ser mais frágil de todo este macabro folhetim. Tem o seu destino ao sabor de duvidosos altruísmos e de uma fatídica burocracia.
Justiça em questão
As palavras dos outros
«Entre todos os males de que padece o nosso tempo, o maior e mais lamentável é o abuso da dor.»
Padre António Vieira
Gostei de ler
1. O apelo dinamarquês. De Eduardo Pitta, no Da Literatura.
2. O acessório não é o acessório! De Lutz Bruckelmann, no Quase em Português.
3. Correntes e fantasmas. Do Paulo Pinto Mascarenhas, na Atlântico.
4. Clima de medo. Do Carlos Lima, na Grande Loja do Queijo Limiano.
5. As pessoas têm de saber a verdade. Do Leonardo Ralha, no Papagaio Morto.
6. Faroleiro. De Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos.
7. Onde a tradição ainda é o que era. De Carlos Romão, n' A Cidade Surpreendente.
8. Blade Runner. De Miguel Morgado, n' O Cachimbo de Magritte.
9. Kiss Me Stupid. De Francisco Valente, n' O Acossado.
10. Babel. Da Bárbara Baldaia, n' O Insubmisso.
11. Ideias soltas sobre a blogosfera. Da Marta Romão, no Astro que Flameja.
quarta-feira, janeiro 24, 2007
O regresso do zézinho
A tensão subiu-me e de que maneira!
Nomeações para os Óscares 2006
Melhor Filme
Eleição presidencial
"Cooperação estratégica" Belém-São Bento
A eternização do processo Apito Dourado
O MIC de Manuel Alegre
A instituição do Dia do Cão, pelo PSD, na Assembleia da República
Melhor Realizador
Aníbal Cavaco Silva
Fernando Pinto Monteiro
Joe Berardo
José Sócrates
Marcelo Rebelo de Sousa
Melhor Actor Principal
Alberto João Jardim
Diogo Freitas do Amaral
Jorge Nuno Pinto da Costa
Manuel Alegre
Mário Soares
Melhor Actor Secundário
Francisco Louçã
Jerónimo de Sousa
José Ribeiro e Castro
Luís Marques Mendes
Manuel Maria Carrilho
Melhor Actriz Principal
Ana Gomes
Carolina Salgado
Maria José Morgado
Odete Santos
Paula Teixeira da Cruz
Melhor Actriz Secundária
Helena Roseta
Joana Amaral Dias
Maria de Belém Roseira
Maria de Lurdes Rodrigues
Maria José Nogueira Pinto
Melhor Filme Estrangeiro
O caso dos voos da CIA em Portugal
Os cartunes dinamarqueses que chocaram Freitas do Amaral
O braço de ferro entre Portugal e a Austrália a propósito de Timor
O jogging de Sócrates no "calçadão" do Rio de Janeiro
A alergia ao picante do casal Cavaco Silva na Índia
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Escolhas minhas, naturalmente: Hollywood não quer saber disto para nada. Vote quem quiser, quem puder e quem souber.
O estado do CDS (1)
“Qualquer palavra minha dita neste momento seria certamente desestabilizadora”, observou Portas. Tradução: o que disser, talvez logo na noite de 11 de Fevereiro, vai abalar a actual liderança do Caldas. Ribeiro e Castro tem três semanas para fazer as malas. Ou melhor: para não as desfazer, já que nunca chegou a despedir-se de Bruxelas. Uma atitude de visionário.
O estado do CDS (2)
Se o Caldas tivesse categoria para imitar Hollywood, Portas seria o mais sério candidato aos Óscares de Melhor Argumento Adaptado e Melhores Efeitos Especiais. Melo recebia a estatueta para Melhor Som. E Castro levava para casa um Óscar honorário, daqueles destinados a distinguir uma carreira que chega ao fim.
Hoje é sobre jornalistas IV
Ao contrário do que nos querem fazer querer as sumidades empoleiradas do politicamente correcto, há duas respostas possíveis à pergunta do dia 11 de Fevereiro. Há o SIM e há o NÃO. Ao contrário do que nos fazem querer os arautos da nova e rasteira inquisição, não há uma resposta BOA e uma resposta MÁ. Não há uma facção de HONESTOS, e outra de HIPÓCRITAS. Os INTELIGENTES e os ESTÚPIDOS, os CULTOS e IGNORANTES.
Etiquetas: Jornalismo
A nós as nossas garras
terça-feira, janeiro 23, 2007
Amor, versão 2007
Penso nisto enquanto os vejo sair, já paga a conta. Ela segue em frente, irradiando elegância e tédio. Ele atrás, de olhos fitos no aparelho que não cessa de apitar. Um par perfeito dos nossos dias.
Colecção de crónicas (VIII)
Li a história num blogue de guerra, Blackfive.net, da autoria de um militar americano que assina blackfive. A necessidade de criar um blogue surgiu, segundo conta, após saber da morte em combate de um seu amigo, o major Mathew Schram, mortalmente ferido numa emboscada, no Iraque, quando comandava uma coluna de abastecimentos. A emboscada foi clássica: os insurrectos atacaram o primeiro veículo da coluna de oito camiões e conseguiram imobilizá-lo. O oficial estava no interior da coluna, num Humvee com maior flexibilidade. Agindo com rapidez, Schram ordenou um contra-ataque, para evitar que o último veículo também fosse imobilizado. A acção deu tempo à coluna para sair do local, mas o Humvee atraiu o fogo inimigo e acabou atingido. Schram morreu nesta acção.
O que levou Blackfive a lançar o seu blogue foi o facto de também ter caído na mesma emboscada um veículo onde viajava um jornalista americano, de uma conhecida revista. A lógica da acção dos insurrectos continuava a ser a de se imobilizar o último veículo da coluna. A destruição deste, agora um carro civil, era mais fácil. O jornalista teria morrido, se não fosse a corajosa decisão de Schram de avançar contra os insurrectos no seu Humvee. Blackfive tem a certeza de que o jornalista deve a sua vida ao sacrifício do major, no entanto o nome de Schram não surgiu em nenhuma das reportagens.
Para mim, com as devidas proporções de violência, esta é uma crónica difícil de escrever. Em várias incursões em “território Comanche”, estive em perigo relativo. E não posso deixar de pensar nos acasos que me levaram a essas situações e, ao mesmo tempo, nos riscos que algumas pessoas correram para me protegerem da minha própria estupidez.
Esqueci o nome de um taxista de Bissau, uma bisarma, que me defendeu (literalmente) no funeral de Ansumane Mané, onde uma multidão enraivecida, maioritariamente muçulmana, já nem fazia esforço para conter a sua hostilidade em relação a forasteiros, nomeadamente brancos. Às tantas, eu era o único europeu no local; estava no meio de uma turba imprevisível; arriscara demasiado. E, então, quando me começava a assustar com aquilo (era indescritível) reparei no corpanzil do rapaz, que afastava gente enfurecida da minha volta, largando os braços para os lados, criando um espaço vazio. Ele era mandinga e vi-o a discutir várias vezes, na sua língua, com tipos que me olhavam como quem olha para um frango a depenar...
Já contei aqui a história de outro dos meus anjos da guarda. Infelizmente, não guardei o nome dele em nenhum apontamento. A fronteira do Koweit parecia intransponível. Enfim, passavam colunas infindas de camiões americanos (as guerras, hoje, são ganhas pela logística), mas impedia-se a passagem de civis, excepto por um ponto no deserto, que exigia GPS. Um dia conseguimos, mas sem jipe e, de facto, era suicídio tentar permanecer ali. Eu é que não sabia. Estava numa cidade iraquiana da fronteira, chamada Safwan, e pensei em permanecer no hospital (uma espécie de centro de saúde, que esvaziava à noite) até ver a cara do médico com quem conversava. Mal perguntei se podíamos pernoitar ali, ele empalideceu. Percebi de imediato, pela sua expressão, que isso era uma loucura. Só mais tarde soube que, à noite, reinava o caos mais absoluto na cidade.
A terceira pessoa que me salvou e cujo nome nunca soube foi uma mulher franzina. Decorriam eleições na Guiné e houve um incidente na estrada, com a população muito excitada por não poder votar no bairro ali perto. Estava com o Leonardo Negrão e fomos ver. Mas, de súbito, a população ficou descontrolada e um rufião começou a tentar transformar aquela simples entrevista num desafio (como se eu fosse das autoridades). Num gesto inesperado, o rapaz tirou-me o chapéu da cabeça. Não reagi nem mostrei medo, mas a situação só não degenerou porque uma mulher de aparência frágil tirou o meu chapéu das mãos do rufião e, num gesto lento, puxando-me pelo ombro, fazendo-me inclinar, colocou-o na minha cabeça, como se me coroasse. E, a partir desse momento, tão belo tinha sido o gesto, só houve sorrisos à minha volta...
Etiquetas: Crónicas
Pontapés na gramática
Não sei se os adeptos de Ségolène Royal na blogosfera portuguesa sabem, mas a senhora voltou a fazer das suas. Numa visita "oficial" à China (o país ideal para a nova esquerda europeia, pelos vistos), a candidata socialista nas presidenciais francesas do fim do ano inventou uma nova palavra - "bravitude" -, o que tem gerado grande discussão no seu País. Leia-se este excerto da reportagem da RFI: "Pendant trois jours, une trentaine de journalistes français suivront de près la candidate, toujours enveloppée dans un grand manteau couleur neige, très photogénique. Au fil de son parcours, elle égrènera les proverbes chinois (choisis dans un recueil qu’elle garde dans son sac) et forgera même un néologisme, la «bravitude», qui fera couler beaucoup d’encre".
A gaffe podia ser coisa pouca, não tivessem os franceses (tal como nós, lembre-se Guterres e o PIB) uma grande predilecção por políticos gaffeurs. A tirada estará até ao nível das que Jacques Chirac veio produzindo ao longo dos anos (aliás, estão compiladas em livro) e deverão estar a deixar Nicolas Sarkozy bastante preocupado, pois poderá não estar à altura da sua adversária no pontapear da gramática francesa...
P.S. (1) - Lamento ter de voltar ao assunto da indumentária da candidata (que, como se vê pela peça jornalística 'linkada', é um tema muito em voga), só que reparei nesta fotografia da senhora que acho merecedora da vossa atenção. Então não é que Ségolène se faz apresentar em cerimónias políticas ao mais alto nível de bota alta e saia curta?..
P.S. (2) - Meus caros Carlos Manuel Castro e Luís Novaes Tito sugiro que leiam a Rititi para verem mesmo o que está a dar...
E, Carlos, registo que já começou a perceber as várias incongruências da candidata e concordo consigo num ponto: ainda nos fomos rindo à conta daquela "estória" da 'toillette'.
Marcelo entra no jogo
Marcelo demonstra assim ser o primeiro político em Portugal a compreender o fenómeno e a saber usá-lo, com algumas ajudas é certo. Lá fora, Ségolène Royal gravou uma mensagem de Ano Novo para difusão na Internet e Hillary Clinton também não se esqueceu dos sites quando há dias se lançou nas primárias norte-americanas. É caso para dizer que Marcelo já percebeu seguramente onde está o futuro. Será que o professor irá passar a usar estes meios para, ciclicamente, poder ter intervenções certeiras na actualidade política para além do seu programa na RTP1, mesmo após o referendo?
Já agora, uma sugestão e uma pergunta aos colaboradores de Marcelo nestas andanças: 1) Em relação ao primeiro vídeo, era escusado o professor dizer a hora, os minutos e os segundos em que decorria a gravação. Dá ideia de um homevideo muito rudimentar; 2) Quem será a menina que entrevista Marcelo no segundo vídeo? Pelo visionamento não dá para perceber o nome, porque o comentador refere-se à sua pseudo-entrevistadora (isto porque se presume que não seja uma jornalista, porque só faz uma única pergunta) muito depressa. Em abono da credibilidade do vídeo, era bom que se apresentasse, porque senão as semelhanças com o vídeo de Ségolène passam a ser muitas. No da candidata presidencial francesa a câmara tremia para dar a ideia que era um vídeo amador (quando aquilo foi mais que pensado pelos spindoctors), no do potencial candidato presidencial português de 2011 ou 2016 pode parecer uma simulação de uma entrevista, o que é mau. Do primeiro para o segundo vídeo nota-se a evolução. Marcelo sente-se muito mais confortável no papel de entrevistado do que sozinho a dirigir-se à Nação. Mesmo que, no caso, se trate de uma pseudo-entrevista.
Estrelas de cinema (2)
DÉJÀ VU **
A ficção científica cruza-se com o policial usando a Nova Orleães pós-furacão Katrina como cenário. Ingredientes interessantes, tal como o desempenho de Denzel Washington. Pena que o argumento resvale para um amontoado de peripécias, em grau crescente de inverosimilhança, que retiram credibilidade à interessante questão que serve de premissa: e se uma máquina digital capaz de nos fazer recuar no tempo fosse capaz de impedir um brutal atentado terrorista e dar-nos a conhecer os mais ínfimos passos do seu autor? A duração excessiva desta película de Tony Scott, agravada por uma escusada pirotecnia de efeitos especiais, tão em voga no cinema americano, impede-a de ganhar asas. Déjà vu: já vimos disto noutro tempo e noutros locais.
A capa do dia (7)
A ler
1. "O Apelo Dinamarquês", por Eduardo Pitta.
2. "Boas Notícias", por Marta Romão.
3. "As razões de um 'sim' à IVG e resposta a alguns 'nãos'", por Vasco Rato.
4. "O Preço e o Valor", por Fernando Sobral.
5. "A Situação e os Colaboracionistas", por João Gonçalves.
6. "Um Homem Bom", por Luísa Rego.
7. "Avé Pierre! par Pedro Cem", 'postado' por Mendo Castro Henriques.