domingo, janeiro 28, 2007

A experiência Calatrava


Há uns tempos escrevi sobre a extraordinária experiência que é frequentar a Gare do Oriente. A fotografia lá em cima é gira, não é? Foi tirada do site da União Europeia, provavelmente co-financiadora deste gigantesco cadinho de gripes e constipações.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível estar porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados. Cabem lá as couves, as batatas, a garrafa de azeite, as laranjas, os queijos e os bolos de azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens. Eu já pertenço à geração tupperware, mas viajei com muitas alcofas em que facilmente lhes adivinhava o conteúdo.
Acontece que há pouco tempo tive que fazer mais uma viagem e reparei numa espécie de "aquário"no piso inferior que serve de sala de espera. O envidraçado deve ser para não estragar a estética. A Expo foi em 1998 e só praticamente nove anos depois se lembram de encontrar uma solução que permita minorar o desconforto dos passageiros: a obra primeiro, os homens depois.
Este post é a propósito de quê? Do frio, claro. A notícia do dia. E de um país que também se faz para fora de Lisboa.