Amor, versão 2007
Já me aconteceu outras vezes, volta hoje a acontecer. No restaurante onde janto, reparo numa mulher muito bonita. Mira de soslaio, com ar de infinito enfado, o companheiro que não tira os olhos do telemóvel. Enquanto ela contempla o prato, com visível falta de apetite, ele entretém-se com um gadget qualquer do aparelho, que não pára de buzinar. E assim passam a refeição: ele alheado, ela resignada àquela solidão a dois. São ambos jovens, presumíveis namorados. Ao ver uma falta de chama tão evidente naquela mesa interrogo-me porque se tornou tão démodée a arte do namoro, do galanteio, do prazer de partilhar pequenos momentos inesquecíveis. Um imenso cansaço apodera-se das relações humanas nesta sociedade em que o real cede lugar ao virtual. Namorar um aparelho up to date é que está a dar. E milhares de “bjs” por sms tornam-se mais excitantes do que beijar à moda antiga.
Penso nisto enquanto os vejo sair, já paga a conta. Ela segue em frente, irradiando elegância e tédio. Ele atrás, de olhos fitos no aparelho que não cessa de apitar. Um par perfeito dos nossos dias.
Penso nisto enquanto os vejo sair, já paga a conta. Ela segue em frente, irradiando elegância e tédio. Ele atrás, de olhos fitos no aparelho que não cessa de apitar. Um par perfeito dos nossos dias.