sábado, março 31, 2007

Um país que vê passar os comboios


Chego a casa cansado, de noite. Afundo-me no sofá, ligo a televisão num canal ao acaso. Aparece-me a RTP-N, está a começar um programa que nunca vi: a Liga dos Últimos – ideia de Daniel Deusdado, apresentação de Álvaro Costa. Dois ou três minutos depois, estou conquistado: é um programa brilhante. Contrariando toda a lógica das emissões “desportivas” da TV, que só sabem lançar os holofotes sobre os primeiros, esta Liga dos Últimos vai à procura dos clubes que estão no fundo de todas as tabelas. Em Portugal e até no estrangeiro.
Esta original ideia materializa-se aqui num jornalismo de qualidade. Que nos mostra um retrato pitoresco do País – não o País que figura nos telejornais, o dos casos de sucesso ou o que grita nas ruas. É um país humilde, de gente incapaz de triunfar mas que nem por isso deixa de disputar desafios. O país dos jogos Atalaia 3-Pedra 2 e Anços 0-Santa Iria 1. Um futebol onde se contam tostões em vez de se ganhar milhões. Um futebol onde é possível o treinador perder todos os jogos e mesmo assim manter-se em funções porque é simultaneamente o presidente do clube. Um futebol onde o jogo que se pratica é tão mau que os escassos espectadores desistem de olhar para a bola.
- Porque é que está de costas para o jogo? – pergunta a jornalista.
- Porque estou mais interessado na bifana – responde o desiludido tifoso, entre duas dentadas.


É um futebol de mães desiludidas com a prestação dos próprios filhos.
- Porque está aqui?
- Porque o meu filho pertence aqui à bola. O meu filho é aquele alto que está lá dentro.
É um país espontâneo, sem truques nem maquilhagens. Um país em que um dos frustrados futebolistas amadores, cantoneiro de profissão, se apresenta desta forma defronte das câmaras:
- Sou Xuxu, um dos melhores jogadores da equipa. O problema é que chega-se ao jogo, começa logo tudo a discutir, e assim não há motivação para ganhar.
Um país em que um treinador-de-trazer-por-casa, depois de levar cinco secos, desabafa assim:
- Qual é a motivação que um treinador tem em vir para aqui à chuva para treinar quando só seis jogadores aparecem para os treinos? Além de treinar, tenho também que apanhar bolas, tenho que abrir o balneário, tenho que fechar o balneário.


É um país que vê passar os comboios. Literalmente.
- Já ganhámos cá um jogo porque a equipa adversária nunca tinha visto um comboio e quando passou o comboio começou a olhar para o comboio e nós ganhámos – lembra um fervoroso adepto do Anços.
É um país que não escolhe as palavras para dizer o que pensa:
- Esse árbitro é um passarinho e o bandeirinha é um passarão. Não são capazes...
- Porquê?
- Se fossem árbitros capazes, não vinham para aqui.
Este programa conquistou-me como nenhum outro o tem feito de há muito para cá. Os últimos, neste caso, são os primeiros.
É Portugal no seu melhor.

Corta-fiteiros de sucesso

O José Carlos Carvalho e o Rodrigo Cabrita ganharam três prémios do concurso de fotojornalismo Visão-BES de 2006. Leram bem? Um, dois, três! O JCC ganhou um dos prémios mais importantes com "Vida Quotidiana" e o Rodrigo brilhou em duas categorias, numa com a reportagem da campanha presidencial de Cavaco Silva (que fizemos juntos, eu de bloco em punho, ele de máquina ao pescoço) e outra na categoria de desporto, com uma fotografia do derby Sporting-Porto do ano passado. As maravilhas estão aqui.

Gostei de ler

1. Mestres na propaganda. De João Caetano Dias, no Blasfémias.
2. Outros grandes portugueses. De Tiago Barbosa Ribeiro, no Kontratempos.
3. A "independente". De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
4. A ASAE no clube. De Eduardo Pitta, no Da Literatura.
5. 'North by Northwest' ou o valor do vento. De Francisco Frazão, na Fábrica Sombria.
6. Uma espécie de prosa em verso. De Henrique Fialho, na Insónia.

Postais blogosféricos

1. Gosto deste blogue, Vida das Coisas. Tem boa onda, como agora se diz. Já sou visita assídua lá de casa.
2. A Cristina é "uma referência de simpatia e frescura na blogosfera", diz o João Tunes. Subscrevo.
3. Foi com muito prazer que tivemos esta semana o Rui como convidado especial de mais um jantar do Corta-Fitas. Este é um dos grandes méritos da blogosfera: proporcionar excelentes momentos de convívio entre pessoas oriundas das mais diferentes paragens.

Tertúlia literária (167)

- Porque é que nunca lês?
- Porque sou amigo das árvores. Se todos fossem como eu havia muito mais florestas do que há.

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De «O poeta e o seu tempo»


«A contemporaneidade na arte é a influência dos melhores sobre os melhores, quer dizer, o contrário da actualidade: influência dos piores sobre os piores. O jornal de amanhã já envelheceu. O que implica que a maioria dos acusados de «contemporaneidade» não merecem tal acusação, já que apenas sofrem de «temporaneidade», um conceito tão oposto ao de contemporaneidade como ao de «extratemporaneidade». Contemporâneo: omni-temporâneo. Qual de nós virá a ser nosso contemporâneo? Algo que apenas pode ser constatado pelo futuro e somente é certo no passado. Os contemporâneos são sempre uma minoria».
Marina Tsvietaieva, traduzida do espanhol por Fernando Pinto do Amaral.

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sexta-feira, março 30, 2007

Suécia: notas de viagem (VII)

Suécia à mesa. Em Roma, sê romano. Sobretudo à mesa. Nada de pastas ou pizzas. Nada de hamburgers. Só provei comida sueca, em restaurantes genuinamente suecos. São doses bem servidas, como convém a climas frios, com uso imaginativo de batatas e saladas. Peixe e carne com fartura. Para quem goste, há salsichas em diversas variedades. E arenque. Por mim, fixei-me num dos pratos nacionais suecos - pytt i panna, carnes diversas e batatas cortadas em pequenos cubos, com ovo estrelado e uma deliciosa salada de beterraba a acompanhar. E também no salmão, fresquíssimo - cru, marinado em molhos deliciosos ou bem grelhado, sem perder o suco. Para os gulosos, há uma lista infindável de bolos, tartes, chocolates.

A vingança do Pai Natal. Já me esquecia: comi também carne de rena. Como entrada, género fiambre. Em bife. Ou picada com arroz, tipo strogonoff. Senti sempre um irreprimível complexo de culpa. Será que o Pai Natal se vingará em Dezembro?

A quem puder interessar


Só para dizer que tenho, para oferta, um convite para o 3º Aniversário da agência de modelos Just Models, hoje pela noite dentro, no BBC. O médido proibe-me de comparecer. Disponham sempre.

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Alemanha: um caso exemplar

Na política tudo muda muito depressa. Veja-se o caso da Alemanha: a actual chanceler, Angela Merkel, é a dirigente mais popular da Europa. As mais recentes sondagens atribuem-lhe 75% das preferências populares – algo de fazer inveja a qualquer dos seus colegas da União Europeia, incluindo José Sócrates. A tímida democrata-cristã que veio do Leste e fez uma desastrosa campanha nas legislativas de Setembro de 2005, derrotando o desgastado social-democrata Gerhard Schroeder por um ponto tangencial (35% contra 34%) “passeia-se hoje entre os grandes da terra” - como há dias sublinhava o insuspeito El País - deixando-se beijar por Jacques Chirac ou massajar no pescoço por George W. Bush. Os sociais-democratas do SPD, que formam uma “grande coligação” com a CDU em Berlim, estão a ser os grandes prejudicados por esta espécie de “bloco central” à moda alemã: o seu ministro das Finanças, Peter Steinbruck, ultrapassa pela direita os democratas-cristãos, fazendo subir o IVA de 16% para 19% (ainda assim inferior a dois pontos percentuais ao da taxa vigente em Portugal) e dando luz verde ao aumento da idade da reforma, outrora um tema tabu na Alemanha. Pior que isso: como também acentua o El País, o SPD “tem tido quase tantos treinadores como o Real Madrid de Florentino Pérez". Schroeder trocou a política por uma luxuosa avença na empresa de gás russa Gazprom - prenda do amigo Vladimir Putin. Seguiram-se Franz Muntefering, Matthias Platzeck e o actual líder, o apagado Kurt Beck, primeiro-ministro da Renânia-Palatinado. Não admira que o SPD (que liderou o Governo entre 1998 e 2005) tenha hoje 556 mil militantes – uma cifra muito inferior à que tinha há 30 anos, quando dispunha de mais de um milhão de filiados, nos dias gloriosos de Willy Brandt e Helmut Schmidt.
É um caso exemplar: a incompetência tem hoje elevados custos políticos. Um caso que deve suscitar profunda meditação aos políticos portugueses, que se julgam imunes ao desaire. A popularidade esfuma-se tão depressa como surge nestes tempos marcados pelo signo do efémero.

Tertúlia literária (166)

- Quando é que você tomou conhecimento com a obra de Saramago?
- No ano da morte de Ricardo Reis.

Rosebud

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A minha sexta-feira


A musa e as suas liras. Gina Lollobrigida.

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Notícias do nosso mundo

Uma boa e uma notícia. No primeiro caso, pode ser que a partir de agora Nani se concentre mais a jogar e a falar menos, seguindo o belo exemplo de João Moutinho. No segundo, é uma pena, pois Coentrão é daquelas jovens promessas que valia a pena pôr a rodar em Alvalade para ver se pegava. Mas vejamos a coisa pelo lado positivo, a equipa do outro lado da Segunda Circular precisava mais de tempero do que a nossa. Aquilo é tudo um bocado insonso...

Ena pá!

Sou a pessoa mais sintonizada com o espírito do Tempo que existe (e a mais modesta também). Ainda não tinha desaparecido para o fundo dos arquivos o meu post sobre o grande Russ Meyer e as suas ainda maiores actrizes, quando me foi dada a portentosa notícia de que já amanhã - sim, amanhã - a banda de Manuel João Vieira volta a apresentar-se ao vivo, pelas 23h, no Cabaret Maxime. O pretexto é o lançamento em dvd da trilogia das Vixens e a inclusão de duas superstripers promete. A entrada é a 10€, com oferta de bebida.

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Vai mais um croquete?

É já no próximo dia 3 de Abril que o Nuno Costa Santos lança a versão em papel das suas melancomicidades, editada pelas Produções Fictícias. A Dona Bina e o Márcio convidaram-me para estar no Teatro Tivoli às 18.30H e eu convido-vos também. «Aforismos de pastelaria», diz ele, o autor, que promete estar presente mas falar pouco. Há ainda lugar para dois videos dos Daltonic Brothers e uma actuação dos Dead Combo. E croquetes, espero eu.
Para quem esteve na melhor festa de 2006 que foi a do meu aniversário, esclareço que o Nuno foi também o DJ responsável pela selecção de música dos anos 80 que pôs toda a gente a dançar.

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Stonehenge explicado

É um dos vídeos mais vistos do You Tube. Um norte-americano reformado da construção civil explica como se consegue mover blocos de uma tonelada com um pedaço de madeira e duas pedras que nos cabem na palma da mão. Vejam que vale a pena...

Partilha espiritual

O «Astavakra Gita» - cujo nome não consigo escrever correctamente por insuficiência do teclado - «O Cântico da Consciência Suprema», foi agora editado com tradução do sãoscrito (como ele diz e grafa), comentários e glossário da autoria do meu amigo Pedro Teixeira da Mota, primo da nossa Isabelinha. É um clássico da literatura espiritual e uma obra indiana da tradição Advaita Vedanta. «O comportamento da pessoa firme não é artificial nem reprimido e contudo brilha, mas já não é o da pessoa ignorante simulando paz, com a mente cheia de desejos», podemos nós ler. E depois, entender. Para o Pedro, um abraço estreito por esta sua dádiva.

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Lugar aos novos

A Oriana Alves (filha do Fernando Alves) é a detentora de uns olhos lindissímos e de uma simpatia contagiante. O seu namorado, Changuito, uma figura conhecida de todos os que há anos frequentam as noites e iniciativas do Teatro A Barraca. Os dois decidiram abrir, logo no início da calçada da Bica, a livraria-bar da Mariquinhas, especializada em poesia. Recentemente, editaram também através da BOCA um audiolivro de poemas de amor para crianças, da autoria do colombiano Jairo Aníbal Niño. Passem por lá, para um chá ou uma tosta mista como há poucas na capital, boa música e as palavras daqueles, vivos ou mortos, que nos mostram o mundo para além do véu da realidade.

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Friday


Lindsay Lohan.

Musica do meu tempo (4)


Simple Minds - "Don't You Forget About Me"

quinta-feira, março 29, 2007

Nos 50 anos da RTP (14)


A minha mais remota memória da televisão, ainda a preto e branco, é povoada por séries do velho Oeste. Séries de cobóis, como lhes chamávamos na época – ainda o termo western estava pouco vulgarizado entre os espectadores comuns. Já aqui falei de Bonanza, a minha preferida. Mas houve várias outras. Guardo delas recordações difusas, mas retenho relances do encantamento com que as via, tarde fora, nessa suave aprendizagem do mundo através do ecrã mágico da televisão. Séries como O MAIORAL (NBC, 1962-71), SHENANDOAH (ABC, 1965-66), OS MONROE (ABC, 1966-67) e HIGH CHAPARRAL (NBC, 1967-71). Que me apresentaram o herói solitário, montado num cavalo em direcção ao infinito. O herói imperfeito, muitas vezes zangado com a vida, mas sempre capaz de um gesto solidário, de um acto de abnegação. Havia então uma fronteira nítida entre maus e bons. Nada pode estar mais fora de moda em tempos de vale-tudo. Talvez por isso sinta ainda mais nostalgia destes séries simples – retratos de uma época sem lei mas em que havia uma justiça imanente e a ética não dependia das cotações da bolsa ou das manchetes matutinas. Quando me lembro delas logo recordo os versos de Shenandoah, uma das mais belas canções de sempre: “Oh, Shenandoah, I love your daughter, / Away, you rolling river! / For her I've crossed the stormy water, / Away, I'm bound away, / 'Cross the wide Missouri.”
E sinto-me eu também a cruzar o Missouri. A sulcar oceanos, a galgar montanhas, a galopar nas pradarias. Novamente como uma criança capaz de todos os sonhos.

Uma é loura, outra é morena


Fiquei a saber pelo PPM que a Atlântico faz dois anos e, ao mesmo tempo, que a insuspeita FHM também celebra os mesmos dois anitos. Pelo generoso link que o PPM fez tive acesso a um importante concurso entre as meninas que se revezam para ser capa e destaque da FHM e não pude deixar de reparar que a maioria das meninas diz que não tem namorado (será verdade?), mas há lá uma que afirma qualquer coisa como "agora não respondo, noutra altura pode ser que vocês tenham acesso a essa informação". Muito bom...
Os nossos parabéns às duas revistas, de que somos fãs por razões diferentes.

Um café por 25 cêntimos

Zapatero tramou-se. O presidente do Governo espanhol respondeu a cem perguntas que “cidadãos comuns” lhe fizeram em directo na televisão. Tudo muito escorreito, tudo muito bem arquitectado. Pena ter escorregado na resposta à mais simples das perguntas: quanto custa um café? “Oitenta cêntimos”, arriscou o líder socialista. “Isso era no tempo do seu avô”, retorquiu-lhe o “cidadão comum”. Ficou óbvio como Zapatero está divorciado da realidade.
Gostava de ver esta ideia transposta para Portugal. Aposto que nem todos os líderes políticos aceitariam o repto. E não é seguro que saibam quanto custa um cafezinho aí por fora. Em compensação devem saber os preços praticados nos bares do Parlamento: lá uma bica custa apenas 25 cêntimos.
Preço especial para os representantes do povo não irem à falência...

É outra coisa

Vi na semana passada uma entrevista de Gordon Brown à Sky News, onde o sucessor de Tony Blair se sujeitava às perguntas do pivot de serviço acompanhado por uma audiência que, em directo, ia aprovando ou reprovando as respostas do ministro das Finanças. A imagem era aterradora em termos de entrevista televisiva. Brown - que estou certo ainda vai levar uma banhada à grande e à inglesa de David Cameron, líder dos tories - aparecia na imagem ladeado por dois enormes gráficos digitais, um encarnado e um verde. Um significava a rejeição por parte dos telespectadores, outro a aprovação. Tratava-se, portanto, de um arriscadíssimo exercício político e jornalístico, com dados de audiometria em directo, ao minuto, e Brown esteve à altura. Embora tenha tido na maior parte dos casos (sobretudo quando falou de impostos e de ambiente) uma nota muito negativa (sempre a roçar os 70%), o futuro líder trabalhista não desarmou. Demonstrou grande maturidade democrática e um enorme sentido de Estado e de respeito pelos cidadãos britânicos. Diria que foi um bravo scotsman.
Quantos por cá se sujeitariam a uma prova desta grandeza?..

A manchete de f.

D. Fernanda (f.), a tão proclamada jornalista das (suas) causas, oferece-nos hoje no Diário de Notícias (DN) a manchete do dia. A senhora, provavelmente da janela do seu gabinete, vislumbrou um cartaz do PNR ali ao Marquês de Pombal, berrando uma inconsequente imbecilidade contra os emigrantes... e toca de lhe dar um bombástico relevo. Parece-me estranha esta súbita e incontida generosidade da jornalista, que assim dá voz e acalenta esta minoritária e desfavorecida causa "nacionalista".
O que é um facto, é que com apenas € 1750,00 e um cartaz, com a ajuda de f., o Sr. Pinto Coelho (por certo sem assessoria de imprensa, que se a tivesse rapava aquela hedionda barbicha) conseguiu multiplicar incomensuravelmente os resultados do seu investimento publicitário.
De resto, a magnifica fotografia do Rodrigo Cabrita na capa do DN, exprime subtilmente a insignificância do facto: o trânsito que escoa rápido pela rotunda, furtivo e indiferente àquela propaganda, como de resto estão os portugueses. Tão bem habituados a conviver com os partidos totalitaristas da esquerda.

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Jaz morto e arrefece

Maria José Nogueira Pinto bateu com a porta, rasgando o cartão de militante do CDS. O desfecho lógico de um processo que encheu de lama o partido fundado em 1974 por Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa. Os pequeninos instintos políticos de alguns, o espírito de facção de outros, a falta de visão estratégica de quase todos puseram o CDS à beira do abismo, afastando-o ainda mais do seu eleitorado natural, remetido nos últimos 20 anos a parcelas cada vez mais residuais. O partido que já teve um vice-primeiro-ministro (Freitas), um presidente da Assembleia da República (Oliveira Dias), um presidente da Câmara de Lisboa (Nuno Abecasis) e o melhor ministro da Defesa de que me lembro (Amaro da Costa) é hoje palco das cenas mais indecorosas da democracia portuguesa. A demissão de Maria José é um dos últimos actos de dignidade saídos daquele ninho de intrigas - o que aliás só surpreende quem a não conheça. Daqui para a frente, só pode esperar-se o pior: a cisão do partido em dois blocos microscópicos é o cenário menos mau. Agora pouco importa se o líder será escolhido em congresso ou eleito em directas. E é irrelevante se vai chamar-se Paulo ou José. Ganhe quem ganhar, herda um cadáver. O CDS jaz morto e arrefece.

Pois...

"Paulo Portas caiu na tentação dos miúdos que abrem as prendas antes do Natal."
Mário Bettencourt Resendes, na SIC Notícias

Música do meu tempo (3)


The The - "The Beat(en) Generation"

É preciso ter azar...

O campeão nacional português de ralis despistou-se e passou hoje a ferro quatro pessoas. Os velhos traumas estão de volta.

Quando a gravata é melhor do que o acepipe

Felizmente não costumo frequentar o selecto restaurante do Clube de Empresários, em Lisboa. Não sei o que o meu amigo Duarte Calvão, gastrónomo encartado, pensa do assunto: das raras vezes que lá fui, achei aquilo caro e mau. Pelos vistos não sou o único a ter opinião negativa desta casa onde há mais gravatas de seda do que acepipes recomendáveis: a Autoridade para a Segurança Alimentar mandou fechar o estabelecimento por falta de condições higiénicas. É (facto raro em Portugal!) uma autoridade que faz jus ao título: a responsável do restaurante, que recusou obedecer à ordem, já foi constituída arguida por desobediência. E agora com licença: vou almoçar ao Galeto. Pode ser mau também, mas é muito mais barato.

Campanhã sem til

Não consigo evitá-la. Na plataforma do metro, lá surge aquela vozinha asmática, que parece de uma aluna do ensino básico, a debitar "notícias" no brevíssimo intervalo de anúncios sonoros. Penso: o que dirá a sisuda Comissão da Carteira Profissional de Jornalista desta amálgama de "notícias" e publicidade que atroa toda a rede do metropolitano de Lisboa? Tento abstrair-me: não consigo. "Começaram as demolições no bairro da Campanha", debita a vozinha. Assim mesmo, sem til na Campanhã. Felizmente o metro não tarda a chegar, as portas fecham-se. Enfim, algum sossego até à próxima estação.

Pausa poética


Conferência à Imprensa

O processo
- O que importa é virá-lo do avesso,
Mudar as intenções,
Interpretar,
Sofismar -
Deve ser rápido e sumário.
Termos, preceitos, norma,
É tudo forma,
Matéria de processo e convenção.
Ao cabo, é o Calvário
Que é preciso atingir.
Alguém tem de subir.
Eu não quis, sou juiz.

Aos senhores,
Mais propagadores
De tudo o que acontece
- De todo o que parece
Que acontece
E passa a acontecer -
E disto e daquilo-
E da Verdade, às vezes
-.......................

Reinaldo Ferreira, foto de Rui Knopfli.
N.1922/F. 1959

quarta-feira, março 28, 2007

O regresso da barbárie


Hoje almocei em Monsanto, no clube de ténis, onde às vezes também vou ao fim de semana, e uma das coisas que mais me impressionou - porque tem sido recorrente nos últimos tempos - foi a confirmação de que voltou a prostituição àquela zona. e em pleno dia. Tanto do lado do parque infantil, como também do lado do clube de ténis, voltaram a aparecer prostitutas a vender o que têm e sobretudo o que não têm. É pena, porque se há coisa que muita gente reconhecia à Câmara de Lisboa era a erradicação daquela espécie de Monsanto. Primeiro, a CML colocou uma série de pilares de cimento impedindo o estacionamento, depois mandou pintar uma faixa lateral na estrada com um traço contínuo amarelo. Agora voltou tudo ao que era. Parece que a vontade de resolver a questão estava mais relacionada com a proximidade da residência oficial de um determinado presidente da CML do que com o bem estar das famílias lisboetas...

Para quando uma quota para morenas?

Regresso à Assembleia da República, onde há muito não entrava. Alguns rostos conhecidos, que revejo com gosto. Mas encontro também muitos deputados que não conhecia. Deputadas, sobretudo: a bancada parlamentar do PS está cheia delas, por virtude do sistema de quotas que o partido implantou nesta legislatura. Mas reparo melhor: são todas louras. Dir-se-ia que não são portuguesas, mas luso-suecas. É uma flagrante discriminação das morenas. Eis a altura indicada para exigir da direcção socialista uma nova quota dentro da quota já existente: há que abrir lugar às morenas no grupo parlamentar. E porque não também às ruivas? Este latifúndio de louras, tão pouco representativas da identidade nacional, tem de ser combatido energicamente por um partido que se diz progressista e em sintonia com os valores do País profundo.

Música do meu tempo (2)


Prefab Sprout - "When Love Breaks Down"

Apesar dos danos irreversíveis que me causaram

Atribuo já aqui uma medalha de mérito mirim

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Força Nuno! Grande abraço

Nuno Miguel Guedes no Tradução Simultânea

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Um retrato social



Ontem, enquanto jantávamos, a RTP passou o 1º episódio do programa de António Barreto "Portugal-Um retrato social".Segundo li aqui, ali e também no Hoje há conquilhas, trata-se de um programa revelador de um país que mudou e um retrato sério das mudanças sociais verificadas em Portugal ao longo das últimas quatro décadas.
Se alguém entretanto encontrar o video do programa, faça o favor de nos dizer. Acho que por aqui todos gostaríamos de o ver.
Obrigada.

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Mas que pouca vergonha é esta?!


Quem é este Zelito Viana? Insinuações torpes, charutos fálicos
e olharzinhos matreiros? Eu já lhes conto!

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Escritos pré-cárcere (1)

Amedrontado por o meu nome poder vir a surgir nos jornais, venho aqui publicamente admitir que também eu tive uns chequezitos passados, em anos que já lá vão, pelos senhores da Universidade Independente. Assinados se bem me recordo pelo Nuno Rocha, pessoa que gostava de ter conhecido mas nunca calhou. O que eu lá fazia era fingir que sabia dar aulas de uma cadeira do curso de pós-graduação em Assessoria de Imprensa. A coisa funcionava assim: Eu chegava e balbuciava a primeira parte da aula. Duas horas depois, no intervalo, uma simpática senhora dava-me o cheque em troca de um recibo. Nunca me queixei.
Entretanto, outro dia, vi na televisão que o Rui Verde tinha sido preso preventivamente. Ora eu e o Rui fomos da mesma turma durante a minha fugaz mas marcante passagem pela Católica. Ainda afectado pelo jantar de ontem - e por um chefe de sala italiano que queria ajoelhar-se a meus pés e beijocar-me, naturalmente possuidor de um sentido de humor muito próprio - senti que havia aqui, caso alguém pretendesse estabelecê-las, conexões suficientes para ser levado a interrogatório e sovado selvaticamente por mulheres-polícia, já com farda de Verão. Antes que isso acontecesse, decidi escrever esta confissão. Conto com o vosso perdão, a compreensão das autoridades e o meu sentimento de genuíno remorso.

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Um sinistro mundo de sombras (1)


Ando a ler com muito interesse as memórias de Albert Speer, o arquitecto preferido de Hitler que se tornou ministro alemão do Armamento e foi condenado a 20 anos de prisão no Tribunal de Nuremberga. O III Reich por Dentro (edição portuguesa Livros do Brasil), o livro que escreveu enquanto esteve encarcerado em Spandau, dá-nos um retrato minucioso de um dos mais despóticos regimes de todos os tempos – um regime que vivia amarrado à vontade tirânica de um só homem, que subiu ao poder pelo voto democrático e logo suprimiu a democracia, mergulhando a Europa na mais sangrenta carnificina. Speer, que chegou a ser o virtual delfim do ditador, sentiu-se fascinado pelo poder hipnótico de Hitler. Mas, segundo revela, o fascínio deu lugar ao ódio à medida que ia conhecendo cada vez mais em pormenor os meandros do nazismo nos dramáticos meses finais, quando o ditador, entrincheirado no bunker, sem contactos com o exterior, procurava gerir a guerra consultando os mapas que conservava no gabinete e mandava avançar divisões que já tinham sido dizimadas. Speer dá-nos o testemunho de uma camarilha demente, afogada em ódios fratricidas, movendo-se por mero instinto criminoso, já sem qualquer vínculo com o povo que lhes dera o voto inicial, prontamente espezinhado. Um sinistro mundo de sombras de que felizmente nos chegou este relato em primeira mão. Para que nunca mais ninguém se iluda. Para que nunca mais ninguém se esqueça.

Um sinistro mundo de sombras (2)

Eis uma das revelações mais surpreendentes do livro: o fascínio que Hitler sentia por Estaline mesmo depois de os alemães terem sido clamorosamente derrotados pelos russos em Estalinegrado. Em 1943, escreve Speer, o ditador nazi falava do soviético “com subido apreço, não se esquecendo de salientar as analogias existentes entre a sua própria resistência e a de Estaline”. E chegou a dizer que, “depois de obtermos a vitória sobre a Rússia, o melhor que havia a fazer era confiar a administração da Alemanha a Estaline”. Escreve ainda Speer: “Em geral, considerava Estaline uma espécie de colega seu. Quando o filho do governante russo caiu prisioneiro, foi talvez pelo respeito que tributava ao pai que Hitler ordenou que lhe dessem um tratamento especial.” Tinha bons motivos para isso: se não fosse o pacto Hitler-Estaline (e que ele próprio traiu em Junho de 1941), celebrado dez dias antes da invasão da Polónia pelos nazis, em 1939, a tropa alemã não teria mergulhado o mundo na II Guerra Mundial.

Um sinistro mundo de sombras (3)

O respeito que Hitler reservava a Estaline não se estendia, naturalmente, aos líderes do mundo livre. Segundo Speer, “para ele Churchill não passava, segundo frequentemente repetia nas conferências com o seu estado-maior, de um demagogo borrachão e incompetente”. E “afirmava, com toda a seriedade, que Roosevelt não era vítima de paralisia infantil, mas de paralisia sifilítica e, por esse facto, um deficiente mental”.

Súbita nostalgia


Alguém se lembra disto?

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Momento tablóide

A FHM tem uma edição especial (mas mesmo especial!) de aniversário. E Sofia Aparício. «Aos 36 anos, continua um ícone de sensualidade», dizem eles. Basta a fotografia a duas páginas de Pedro Ferreira para perceber que têm razão. Quando renascer, quero ser o Pedro Boucherie Mendes mas com melhor feitio. Embora, uma vez, ela me tenha mostrado uma tatuagem que não se vê nas imagens da revista. Nina, nina.

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Jantar mistério

E a propósito de amigos meus, o Rui Neto Pereira continua em força com o seu Espiatorio. Gosto particularmente, por razões corta-fiteiras, do Baile Mistério na casa dos Távoras. O enredo? «Corre o ano de 1755 e a família Távora oferece um baile em honra de Soror Inácia de Mascarenhas, que vai entrar no convento das Carmelitas Descalças. Mas é apenas um pretexto para fazer oposição ao novo secretário do reino, o futuro Marquês de Pombal. E eis que surge a notícia de que D. Luís da Cunha foi assassinado. Inspirado em factos reais». Quando quiserem saber o que é ser Távora por uma noite, falem com o Rui.

Vai um croquete?

Estão hoje todos convidados para o lançamento do sétimo romance do meu grande amigo Paulo Nogueira, escritor e também cronista e crítico literário do Expresso. A apresentação vai estar a cargo de Ferreira Fernandes, redactor principal do Diário de Notícias. É a partir das 19H00, no Restaurante do El Corte Inglés, sétimo andar. O livro, editado pela ASA, chama-se «Estamos Todos Tão Sózinhos» mas podem ir acompanhados.

Do vinil ao digital numa mesa para muitos


Impressionistas? Digo, impressionados? Na ausência dos maravilhosos fotógrafos deste blog, foi a fotografia possível. Têm razão:pior era impossível. Eu estraguei o resto.
Pois foi mais um jantar de Corta-Fitas sem gravatas nem passwords. E um convidado de quem é difícil não simpatizar. Foi um prazer Rui Castro. Mesmo longe de Porto de Mós (viras à esquerda a seguir ao sinal), o Duarte não se livrou das graçolas do costume, do cabrito, das batatinhas, isso é que é comida, nem dos pratos ou dos vinhos. Ter um gastrónomo entre nós é um privilégio.
A blogoesfera tem destas coisas. Gente que se encontra dentro e fora do blogger, que se cruza aqui e ali, que se importa, que se alegra com as vitórias, que se entristece com o sofrimento, que brinda à felicidade, aos convidados, a nós e à nossa vida. O blog é um pretexto, um fantástico pretexto para sair do blogger, beber gins tónicos, sumos de tomate, comer risotto ou penne, com cortes epistemológicos entre duas garfadas.
E rir, dizer mal, dizer bem, as mulheres (as giras), os blogs, quem nos lê, quem nos comenta (obrigada a todos) e as confidências que (também) nos unem.
Falou-se dos resultados do referendo ali do lado, com a "penalização da posse e consumo do pó de talco" a ganhar com um grande margem e discutiu-se o tema do próximo inquérito. Lamentavelmente estava a falar com alguém e não percebi nada.
A grappa final foi já tarde e a más horas, mas dias não são dias e nem todas as noites são assim.
E é tudo. Foi o relato possível. O nosso bem-haja aos nossos leitores. Também são eles que nos unem. Por cá, vamo-nos cruzando entre uma draft e um publish. Foi um prazer. Uma boa noite e mais um copo de água.

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terça-feira, março 27, 2007

Ecos do concurso

De Badajoz para lá, eis como é vista a vitória póstuma de Salazar.

Stand up comedy in the (White) House

Lewis Black, um dos melhores humoristas dos EUA, sobre Washignton

Vemos, ouvimos e lemos


Cerca de cem mil pessoas desceram há dias à rua em Pamplona, numa impressionante manifestação, gritando em uníssono “Navarra é Espanha”. Vão de mal a pior os nossos vizinhos: o simples facto de ser necessário fazer estas proclamações é um sinal evidente de que o Estado ameaça implodir. Quem brinca às autonomias, como o primeiro-ministro Zapatero tem feito enquanto persiste em arranhar as feridas mal cicatrizadas da guerra civil, acaba queimado. Com a Catalunha a um passo da independência e outras regiões com vontade crescente de lhe seguirem os passos, Espanha é hoje uma palavra cada vez mais destituída de sentido. Valha-lhes o rei, último símbolo da unidade nacional. Mas à medida que o tempo passa talvez já nem o prestígio do monarca consiga estancar a crise, agravada pelas absurdas concessões do Governo socialista aos separatistas bascos com mãos sujas de sangue. Portugal devia acompanhar com mais atenção o que se passa do outro lado da fronteira. Vêm aí tempos muitos difíceis. Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar.

Pérolas de Lula


1. "Sexo é uma necessidade orgânica, uma necessidade da espécie humana e da espécie animal. Como não temos controle disso, o que precisamos é educar."
Lula da Silva, defendendo o uso do preservativo
2. "É preciso melhorar a massa encefálica dentro do cérebro para as pessoas compreenderem que as mulheres devem ser respeitadas."
Lula da Silva, em homenagem às mulheres
...................................................................................................
ADENDA
"Entreouvido no hospício: ‘Meu filho está cada dia pior, coitado. Antes achava que era Napoleão. Agora pensa que é o Lula'.”
Millôr Fernandes, in Veja

Postais blogosféricos

1. Este blogue merece boa nota. E uma leitura atenta, apesar da mistura estranha. Mel com Cicuta não será um pouco indigesto?
2. O Blue Lounge foi de licença sabática. Espero que o Rodrigo não demore a reabrir a loja...
3. Também o French Kissin' fechou as portas. Mas aposto que o João não conseguirá estar muito tempo longe da blogosfera. Um abraço para ele.
4. Parabéns ao João Carvalho Fernandes. Pelo quarto aniversário do Fumaças.

Prémio «Quem Manda Sou Eu e Quem Paga Vocês»

«Mário Lino rejeita atrasar concurso para a construção da Ota». (Sem fotografia, por razões que as senhoras compreenderão)

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Entre os melhores do mundo

Estava à espera que algum dos meus colegas de blogue mencionasse o jogo Portugal-Bélgica, de sábado, que terminou com uma goleada lusa por 4-0. Em Alvalade. O estádio-talismã da nossa selecção de futebol. Como nada disseram, avanço eu. Para reiterar duas ideias que já aqui exprimi noutras ocasiões: Scolari é o melhor seleccionador de sempre ao serviço da “equipa de todos nós”; esta selecção – que, recorde-se, já derrotou a brasileira – é também a nossa melhor de sempre. Digam o que disserem os detractores do técnico gaúcho, que continuam a rogar-lhe pragas, Scolari soma e segue. E desta vez emendando a mão: com Ricardo Quaresma e João Moutinho, como aqui anotei no Verão, esta selecção torna-se ainda mais forte. Foram apenas os melhores jogadores em campo contra os belgas, formando com Cristiano Ronaldo o trio-maravilha da turma das quinas. Ou me engano muito ou já não saem do onze-base.
Valha-nos o futebol para estarmos entre os melhores do mundo. A “qualificação” de que o engº Sócrates tanto fala começa aqui. À flor da relva, como diria o Gabriel Alves.

Causa e efeito

com sotaque à Schwarzenegger.

Sericotalho, bacalhau, azeite e alho

Como observou um atento anonymous, hoje há jantar corta-fiteiro. Começa tarde e a más horas e promete acabar sabe-se lá quando, tendo em conta a animação e cortacasaquice do costume. Como gosto de risotti quase tanto como de Coca-Cola e sardinhas, já escolhi os «ravioli de bacalhau, caldo de parmigiano, catalão de porco preto e camarões». Nem sequer percebo se isto é um prato só ou que diabos é «catalão». Mas a aventura é a aventura, embora amanhã seja dia de trabalho. Buá! (Título roubado à saudosa Cândida Branca Flor, com quem uma noite dancei em Rossio ao Sul do Tejo).

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Tertúlia literária (165)

- As minhas lombadas são melhores que as tuas.
- Lá vistosas são. Mas não tens nada que se compare às minhas badanas. E tomaras tu teres uns prefácios como os meus.

Museu do cinema (IV)


Não há muitos realizadores de cinema com tantas obras-primas. John Ford é único, o mais influente e imitado de todos os tempos. Nos anos 40, realizou de seguida um trio de filmes (O Vale Era Verde, Homens para Queimar, A Paixão dos Fortes) que talvez representem a culminação, até hoje, desta arte. Ford fez ainda a trilogia da cavalaria, A Desaparecida, O Homem que Matou Liberty Valance. Todas obras-primas. Conto pelo menos mais uma dezena de filmes magníficos: de Young Mr. Lincoln a Patrulha Perdida, passando por The Informer, As Vinhas da Ira ou Sete Mulheres.
A obra é vastíssima, acumulada entre 1917 e 1966 (quase meio século). Ford fez filmes de guerra, westerns, películas sentimentais, adaptações literárias. Há poucos realizadores tão versáteis e, ao mesmo tempo, que conseguissem dar aos seus trabalhos um cunho tão pessoal.
O tema preferido de Ford é a força e virtude dos seres humanos perante a adversidade: vejam-se a inesquecível Maureen O’Hara em O Vale Era Verde, Henry Fonda em A Paixão dos Fortes, sobretudo John Wayne em Homens para Queimar.
É sobre este último, realizado em 1945, que queria deixar algumas linhas. Foi o filme que mais me impressionou até hoje, não sei a razão exacta. É a história dos homens de uma unidade da marinha durante a invasão japonesa das Filipinas. No fundo, a maior derrota americana da Segunda Guerra Mundial. Ford servira na marinha durante o conflito (chegou a contra-almirante) e viu muitas tragédias semelhantes.
Na realidade, They Were Expendable desmente o título. Enquanto os combates se agravam e a derrota é consumada, a unidade tem de abandonar barcos e tripulações, deixando-os para trás. O destino dos que são abandonados é conhecido de quem vê o filme: estão condenados à morte e, apesar de tudo, aceitam o seu destino trágico. O filme é pungente sem nunca puxar à lágrima ou cair no sentimentalismo.
Homens para Queimar apresenta-nos a Humanidade no seu melhor. Não é uma exaltação da guerra, mas profundamente pacifista. Há duas cenas fabulosas nesta obra: o baile das enfermeiras, com a luz das persianas no hospital condenado; e a saída do último avião, com os dois oficiais que têm de ficar em terra, para darem o lugar aos dois atrasados, que estavam acima deles na lista dos que têm direito a viver. Ford explica-nos o que é a verdadeira coragem: por vezes, é apenas prosseguir, quando o acaso escolhe as suas melhores vítimas.

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Fora de Estrutura

A partir de agora escrevo também de Fora de Estrutura, onde ombrearei com um grupo de amigos meus, marginais cidadãos e radicais cristãos. Para uma escrita de intervenção, de evangelização. Porque os caminhos da liberdade e de vida são para ser partilhados.

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Nas colunas


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A pérola da Atlântico

Recebi, muito simpaticamente enviada pelo Paulo Pinto Mascarenhas através da nossa Miss Pearls, a versão em pdf da revista Atlântico, que estará esta quinta-feira nas bancas. É o primeiro número do seu terceiro ano. E é, indubitavelmente e como sabe qualquer pessoa que tenha tentado fazer uma revista em Portugal e falhado - como sucedeu comigo - uma aposta ganha. Dois anos depois, a Atlântico sai para a rua com 76 páginas, conseguiu incluir cronistas e bloguistas do melhor que temos por cá, ter um blogue de referência, um programa de rádio(«Descubra as Diferenças» na Europa Lx) e afirmar o seu espaço de uma forma coerente, respeitada e tida em conta. Parabéns a todos. Não sendo dos vossos, nem por isso vos admiro menos.

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Ainda o Lobo Mau


Caro Henrique, eu não defendo de forma alguma a proibição de passeios, sejam os passeantes PNRs ou outros. Por mim, até podem fazer um piquenique em frente à Loja do Cidadão. O que discordei em relação ao que escreveste - mas não apenas tu - foi que os salazaristas existentes são pouquinhos e não devem, deduz-se, ser levados muito a sério. Ora acontece que eu - entendendo em particular as idiossincracias de alguns amigos - classifico os salazaristas em geral na classe dos extremistas. E levo todos os extremistas a sério, venham eles da direita ou da esquerda. Para mim, o Lobo Mau existe. E ter medo dele parece-me uma reacção muito saudável. Abraço (na fotografia, alguém mais bem conservado do que tu e eu, et pour cause).

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Caligrafia digital

Chama-se Fontifier e, por uns módicos nove dólares, permite-nos criar uma fonte de letra para o computador baseada na nossa caligrafia, em sete simples passos. Eu já dei os primeiros quatro. A partir daqui só a pagantes...

Olha o tubarão

Hoje é dia da apresentação oficial da TubarãoEsquilo, uma «rede editorial» dirigida pelo jornalista Paulo Querido. O nome é patusco, mas o projecto parece bem a sério e com pernas virtuais para andar, os participantes são remunerados de acordo com a publicidade gerada e, se alguém percebe a potes de Internet em Portugal, Paulo Querido é certamente um deles. A todos os envolvidos, os meus desejos de sucesso.

Um blog com vistas


"In the midst of winter, I finally learned that there was in me an invincible summer."
Albert Camus (Holiday Inn Maputo)
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(Por falar em jantares, será que o restaurante se vê daqui?)

À lareira com um português


Também tenho algumas ideias sobre o concurso-de-que-todos-falam. Acontece que cheguei sempre atrasada ao blogger e como já foi (quase) tudo (muito bem) escrito, fiquei (quase) sem nada para dizer, para grande sorte dos estimados leitores. Dito de outra forma: lucky you.
Assim sendo, resta-me ali o cantinho direito da lareira e a leitura de um texto bem humorado, após um fim de semana de futebol, ainda mais futebol e só futebol: Um Portugal-França feminino visto por Almada Negreiros
Crónica de 04.10.1923 no Diário de Lisboa, intitulada “Nenette ou o “football” feminino”
Vieram a Lisboa dois “onzes” femininos, o que, apesar da aritmética, fazia mais de vinte e duas jogadoras porque também havia várias suplentes. Na “gare” dizem que foi uma enchente de alto lá com ela, tendo também comparecido um piquete de infantaria da Guarda por causa das dúvidas. Apesar disto, os conquistadores sportivos executaram à risca o seu programa de recepção que excedeu todas as expectativas. […] A verdade é que nesse dia o nosso temperamento ardente de meridionais tinha mobilizado ali para a estação a fina flor da exuberância nacional com todos os seus gestos e os mais adequados para receber raparigas desacompanhadas. Foi em cheio!

Vestindo pobremente, em magote, pelas ruas, as francesas riam, atrasavam-se, desatavam a correr:
- O que é aquilo? Perguntou uma senhora nacional com um chapéu à moda de Paris e uma obesidade tremenda desde as bochechas até aos tornozelos errados.
- São as jogadoras de foot-ball.
- Cavalonas! Mais valia que fossem aprender a coser!
(…)
O jogo foi muito mais cheio de interesse do que tinha imaginado, mas a mais interessante de todas era precisamente a que jogava pior. Isto só pode acontecer no foot-ball feminino.

Desportos & Letras: exposição bibliográfica-Biblioteca Nacional, 2004

segunda-feira, março 26, 2007

Americanos fora do Vietname, já!


Mal foram conhecidos os resultados do concurso da RTP, logo algumas aves agoirentas desataram a soltar a língua contra o actual regime democrático, que não permite ao bom povo as condições de vida existentes na Escandinávia: isto basta, garantem, para justificar a nostalgia por Salazar. "Há famílias que voltaram a cozinhar com fogareiros a petróleo, por não terem dinheiro para pagar o gás", alertou Fernando Dacosta. Está explicado por que motivo Salazar e Cunhal têm tantos admiradores. E eu a pensar que, apesar de tudo, em Portugal nunca se tinha vivido tão bem como agora...
"A democracia é o pior dos sistemas, exceptuando todos os outros", dizia Churchill, democrata de gema e vencedor incontestado deste concurso na Grã-Bretanha. Segundo Odete Santos, ele era afinal um grande malandro que andava a trocar correspondência às escondidas com Mussolini. Nunca vi nenhuma dessas cartas. Sei, isso sim, que Churchill escrevia imenso a Salazar e depois da guerra visitou várias vezes a ilha da Madeira. Odete tem razão: isto anda tudo ligado. O neoliberalismo e tal, fascismo nunca mais, ianques fora do Vietname, já. Vocês sabem do que é que eu estou a falar. Ah, esta última frase não era ela que dizia - era o Octávio Machado, outro grande português, apesar de baixa estatura. Não importa: parabéns à RTP mesmo assim. Para o ano há mais. Ou para o século que vem.
E agora com licença, que vou ali cozinhar com fogareiro a petróleo. Rapidamente e em força, como dizia o velho senhor das botas.

Ainda bem que o mata-mouros não ganhou

Salazar perseguiu e torturou, por vezes até à morte, os seus opositores. Nesta sessão final dos Grandes Portugueses ficou claro que o mesmo fizeram D. João II e o Marquês de Pombal - já para não falar em D. Afonso Henriques, que começou por espadeirar contra a própria mãe. Fica-se com a sensação de que vários destes "grandes portugueses" eram afinal gente pouco recomendável.
Por mim, tal como a Clara Ferreira Alves, teria votado em Fernando Pessoa (oitavo classificado, 2,4%). Um homem que nunca conheceu ninguém "que tivesse levado porrada". E além disso não era bêbado nem homossexual, como garantiu uma sua sobrinha, presente na assistência.
Também teria votado de bom grado em D. Afonso Henriques (quarto lugar, 12,4%), que a Leonor Pinhão quis transformar em herói progressista avant la lettre. Mas, aqui para nós, ainda bem que não ganhou: só o facto de ter morto todos aqueles mouros seria motivo mais do que suficiente para Portugal sofrer um atentado da Al-Qaeda. Safa!

Os anos da rádio

A telefonia foi para mim durante muito tempo uma inestimável companhia e uma janela para o mundo, principalmente o da música. Tenho uma leve reminiscência da primeira que me fez companhia: foi um pequeno “transístor” forrado a cabedal castanho oferecido pelos meus avós no final dos anos sessenta. Foi através da rádio que ouvi passar a música, as modas, os acontecimentos. Até a revolução e as "inventonas". Na minha telefonia, confesso, passaram também muitos domingueiros relatos de futebol, pois não havia outra forma de acompanhar a jornada desportiva. Com aquela histérica verborreia do locutor, emocionado, eu roía as unhas todas.
Criado no meio de uma família grande e com muitos irmãos, foi com a música e com os livros que delimitei o meu espaço e preservei minha empreendedora solidão. De olhar fisgado numa qualquer luzinha do aparelho passei deliciadas e indolentes horas. Era assim que os meus sonhos mais secretos voavam leves.
De ouvido na telefonia privei intimamente com muitos mais ou menos simpáticos locutores. Do Igrejas Caeiro ao Carlos Cruz, passando pelo Luis Filipe Barros, do João David Nunes à Maria José Mauperrin, passando pelo Jorge Perestrelo. Foram muitas as vozes para as quais inventei caras, sempre tão diversas das reais. Que nunca se nos deveriam ser desvendadas para evitar desilusões maiores. Olhe-se bem a figura que nos saiu da simpática voz do Nuno Markl!
Em pequeno, lá em casa na sala de estar havia um velho aparelho Grundig por debaixo da televisão. No chão, eu sentava-me de pernas cruzadas, esperando ansioso por algum sinal de vida, algum som, enquanto as válvulas aqueciam. Tudo começava quando uma pequena barra luminosa se enchia com uma estranha e líquida luz azul que assinalava a plena sintonização da frequência. Normalmente o aparelho estava sintonizado no programa 2 da Emissora Nacional (pelo meu pai), donde eu mudava para o Rádio Clube Português, que me parecia bem mais animado. Era nesta estação que ouvia umas cançonetas e com sorte apanhava a emissão dos Parodiantes de Lisboa que desesperadamente galhofavam trivialidades que eu mal entendia. Tudo isto com o patrocínio da casa Sol, na Rua da Vitória.
Carregando-se nuns botões beje marfim do grande rádio, trocavam-se os mundos que soavam como apitos díspares, sirenes várias ou misteriosos sinais de morse. E orações muçulmanas. Mas aquele rádio já tinha “frequências modeladas” e eu sentia com gosto a diferença no troar da orquestra no grande altifalante. O horário imperialista da televisão cedo acabou com estas veleidades radiofónicas.
À noite no aconchego do quarto, no meu “transístor” tocava o Quando o Telefone Toca, entre um livro da Condessa de Ségur e um álbum de Spirou em luta contra o terrível Zorglub. Foram os meus tempos de infância ao som dos Beatles, de Angie, dos Procol Harum, de Mammy Blue ou de José Cid...
Mais tarde, depois da revolução e durante o PREC, em FM (um pouco para lá dos 108 MHz), podia-se espantosamente sintonizar as transmissões da Polícia Militar. E testemunhar assim todo um mundo louco que se desconstruía. Enquanto medrava a minha ansiosa adolescência, veio o rock n’ roll do Programa 4 da RDP. O João David Nunes, o Punk Rock, o programa Dois Pontos com os álbuns inteirinhos, o Em Órbita para ouvir música antiga e… as tabelas de “tops”. Foi nessa época que descobri a MPB nos Cantores do Rádio do José Nuno Martins. Tudo isto em FM Estéreo, transmitido com os emissores de Bornes, Braga, Faro, Gardunha, Guarda, Lamego, Lisboa, Lousã, Monchique, Porto e Valença (!). Era a gloriosa alvorada do FM num país que, arquivada a revolução e a aventura marxista, despertava para o mundo. Virou-se então a vida da rádio para o Rock em Stock, com um Pão com Manteiga ao Fim-de-Semana, e o rock em português. Já entrados nos anos 80, às vezes de noite ouvia o Café Concerto de Maria José Mauperrin. Foi então que descobri as margens da cultura musical urbana, Brian Eno, Ryuichi Saakamoto e os Telectu de Jorge de Lima Barreto, entre outras doces intelectualices.
Finalmente por alturas do “boom” da liberalização da rádio, ainda me deixei cativar pela Correio da Manhã Rádio. Uma fantástica rádio digitalmente programada que me fornecia musica às toneladas. Sem palavras, sem parar. Para gravar, namorar ou estudar. Foram os meus tempos de Lloyd Cole, The Smiths e das luzidias pérolas da editora 4 AD.
Em 1988, numa trágica e inesquecível manhã de Agosto, com o Chiado em chamas, descobri a TSF. A notícia em rajadas, tipo matraca, que por muitos anos consumi com gosto.
De então até hoje oiço a rádio quase exclusivamente para fins informativos, no automóvel. Ouvir música tornou-se um ritual mais raro e quase solene. Momentos especiais arrancados à rotina familiar e com música escolhida com o meu critério e dependente da minha disposição. Mas é certo que continuo um aficionado da boa telefonia que no meu carro por momentos ainda descubro.

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Sexualmente incorrecto

Feminista de serviço, Maria Elisa lamentou várias vezes não ter havido nenhuma mulher entre os dez finalistas. "Em Inglaterra, ao menos, esteve a Princesa Diana", lembrou. "Mais valia não ter estado", contrariou-a o escritor Helder Macedo, defensor de Camões (5%, quinta posição). Foi o momento mais sexualmente incorrecto da noite.

Passado só o bife

Passado, em Portugal, só o bife. Os que de facto mereciam ganhar o polémico concurso da RTP foram ultrapassados pelos representantes do século XX português - um dos piores da nossa História, como bem assinalou Paulo Portas, defensor de D. João II. O Príncipe Perfeito ficou em sexto lugar, só com 3% dos cerca de 260 mil votos recebidos. Ainda assim melhor do que o Infante D. Henrique (2,7%), o Marquês de Pombal (1,7%) e Vasco da Gama (0,7%).

Avante, Zé Miguel

Aristides de Sousa-Mendes, terceiro classificado (com 13%) nos Grandes Portugueses, repartiu o pódio com Salazar e Cunhal. José Miguel Júdice, que o defendeu com brilhantismo, pode recandidatar-se a bastonário dos advogados. Eis um sinal de que a reeleição é certa.

Air guitar Yeeeeeah!

Já que estamos em época de disparates, mais vale um que nos faça rir...
Official Air Guitar Nation Trailer


Estreou este mês nos EUA

L' Air du Temps

«A Calvin Klein e a gigante francesa de cosméticos, Coty, uniram forças no lançamento de CK in2u, uma fragrância que foca a geração “tecnosexual”, um termo que a empresa patenteou para definir os jovens nascidos entre 1982 e 1995, que são fanáticos por internet, blogs, mensagens escritas, chats, mp3 e toda a diversidade tecnológica que permeia o nosso dia-a-dia. A nova fragrância fala-nos de como a Internet se transformou numa forma de comunicação, assim como de uma geração cuja vida amorosa é definida, em parte, pelos encontros casuais». In, Newsletter da Moda Lisboa, 26.03.2007

Este país dava um filme

«Cavaco foi ao cinema». Ou melhor, à igreja. Igreja essa que «foi minuciosamente vistoriada pela segurança do Presidente». O filme chama-se «Dot.com» e a má da fita é uma multinacional sediada em Madrid. Tudo isto é tão tuguich zeitgeist que até causa impressão. Imperdível, como escrevia o crítico.

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Portugal dos pequeninos

Não sei o que querem dizer aqueles que afirmam que o fenómeno Grandes Portugueses é “só” um programa de televisão. Estão a enganar-se a si próprios ou a mais alguém? Quem é esta gente que se entretém com qualquer escabrosos Reality Shows à semana, e ao Domingo aprova a liberalização do aborto? São os mesmos que depois votam Oliveira Salazar o “melhor português de sempre” por SMS ou na Internet?
Vivemos definitivamente num país modernaço, sem xailes ou coletes, mas com perfume caro e unhas de gel… onde se usam gravatas de marca e telemóveis da terceira geração. Mas perigosamente inculto e esquizofrénico.

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Gostei de ler

1. Pessoa de bem? De João Miguel Almeida, n' O Amigo do Povo.
2. Preconceitos de esquerda e fantasmas da direita, unidos, não foram vencidos. De José Adelino Maltez, em Sobre o Tempo que Passa.
3. A vitória do santinho. De Luís M. Jorge, em A Vida Breve.
4. Europa. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
5. Sair do charco. De Eduardo Nogueira Pinto, no 31 da Armada.
6. África agónica. De Miguel Castelo-Branco, no Combustões.
7. Na má horas dos "pides de Leste". De João Tunes, na Água Lisa.
8. Comunismo descartável. De Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.
9. A política de trincheira. De Pedro Adão e Silva, no Canhoto.
10. Socialmente ignorados. De Helder Robalo, no Pensamentos.
11. Parabéns a Dinis Machado. De Vítor Dias, no Tempo das Cerejas.
12. Eu hoje acordei assim... De Carla Hilário Quevedo, na Bomba Inteligente.

Momento histórico

Foi apenas um concurso, houve logo quem dissesse. Nada disso: foi um momento histórico. A única vez em que Salazar venceu uma eleição sem chapelada.

Extremistas só a feijões

Concursos destes propiciam a atracção dos extremos. Uns por convicção. Outros (a grande maioria) só para chatear. Uns porque andam "fartos disto tudo". Outros porque gostam de ver os trejeitos de irritação do establishment político e televisivo, como aconteceu agora. Vale o que vale. A feijões, os tugas radicalizam-se; a sério, aconchegam-se no bloco central. Melhor assim do que ao contrário.

Snif, snif


O meu amigo José Manuel Barroso, na bancada dos convidados nesta emissão final dos Grande Portugueses, foi o único a contestar os méritos de Cunhal, segundo classificado e quase levado em andor por Odete Santos. Na hora de todos apontarem defeitos às personalidades que defendiam, a comunista foi incapaz de dizer mais que isto: "Era excessivamente modesto." Quase fazia chorar as pedras da calçada.

Cem anos ao serviço da humanidade


Estive a guardar para este momento o assunto verdadeiramente “quente” da semana. E cujo é o artigo, publicado na revista de domingo do Correio da Manhã, celebrando os 100 anos do soutien. Na realidade, a palavra cujo centenário agora se cumpre é brassiere, utilizada pela primeira vez em 1907, como aliás lembra o CM, pela revista Vogue.
Para um homem, a reacção perante um soutien reparte-se, em norma, nestas duas fases: Uma de admiração e espanto, boca aberta num ah! silencioso de homenagem ao divino e ao seu potencial criador. E uma outra de confronto com a realidade desvelada após a sua remoção, a qual pode ser gratificante ou quiçá de algum desapontamento.
Remover um soutien utilizando apenas uma mão foi algo que me requereu anos de treino. Não é facilmente explicável através do recurso a diagramas mas, mesmo que fosse, não partilhava convosco essa técnica tão complexa como a arte do Tai Chi, nem que me oferecessem em troca uma Coca-Cola e três sardinhas.
Reza a História que foi um objecto incendiado e vilipendiado por algumas mulheres que o associavam à opressão chauvinista. Hoje, é comovente ver os balúrdios que gastam na Intimissimi (belos posters, by the way). Mudam-se os tempos, mudam-se as copas. Mas a vida permanece, bela para a vista e suave para o tacto. Anima mundi, como diziam os antigos.

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