Jaz morto e arrefece
Maria José Nogueira Pinto bateu com a porta, rasgando o cartão de militante do CDS. O desfecho lógico de um processo que encheu de lama o partido fundado em 1974 por Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa. Os pequeninos instintos políticos de alguns, o espírito de facção de outros, a falta de visão estratégica de quase todos puseram o CDS à beira do abismo, afastando-o ainda mais do seu eleitorado natural, remetido nos últimos 20 anos a parcelas cada vez mais residuais. O partido que já teve um vice-primeiro-ministro (Freitas), um presidente da Assembleia da República (Oliveira Dias), um presidente da Câmara de Lisboa (Nuno Abecasis) e o melhor ministro da Defesa de que me lembro (Amaro da Costa) é hoje palco das cenas mais indecorosas da democracia portuguesa. A demissão de Maria José é um dos últimos actos de dignidade saídos daquele ninho de intrigas - o que aliás só surpreende quem a não conheça. Daqui para a frente, só pode esperar-se o pior: a cisão do partido em dois blocos microscópicos é o cenário menos mau. Agora pouco importa se o líder será escolhido em congresso ou eleito em directas. E é irrelevante se vai chamar-se Paulo ou José. Ganhe quem ganhar, herda um cadáver. O CDS jaz morto e arrefece.