Alemanha: um caso exemplar
Na política tudo muda muito depressa. Veja-se o caso da Alemanha: a actual chanceler, Angela Merkel, é a dirigente mais popular da Europa. As mais recentes sondagens atribuem-lhe 75% das preferências populares – algo de fazer inveja a qualquer dos seus colegas da União Europeia, incluindo José Sócrates. A tímida democrata-cristã que veio do Leste e fez uma desastrosa campanha nas legislativas de Setembro de 2005, derrotando o desgastado social-democrata Gerhard Schroeder por um ponto tangencial (35% contra 34%) “passeia-se hoje entre os grandes da terra” - como há dias sublinhava o insuspeito El País - deixando-se beijar por Jacques Chirac ou massajar no pescoço por George W. Bush. Os sociais-democratas do SPD, que formam uma “grande coligação” com a CDU em Berlim, estão a ser os grandes prejudicados por esta espécie de “bloco central” à moda alemã: o seu ministro das Finanças, Peter Steinbruck, ultrapassa pela direita os democratas-cristãos, fazendo subir o IVA de 16% para 19% (ainda assim inferior a dois pontos percentuais ao da taxa vigente em Portugal) e dando luz verde ao aumento da idade da reforma, outrora um tema tabu na Alemanha. Pior que isso: como também acentua o El País, o SPD “tem tido quase tantos treinadores como o Real Madrid de Florentino Pérez". Schroeder trocou a política por uma luxuosa avença na empresa de gás russa Gazprom - prenda do amigo Vladimir Putin. Seguiram-se Franz Muntefering, Matthias Platzeck e o actual líder, o apagado Kurt Beck, primeiro-ministro da Renânia-Palatinado. Não admira que o SPD (que liderou o Governo entre 1998 e 2005) tenha hoje 556 mil militantes – uma cifra muito inferior à que tinha há 30 anos, quando dispunha de mais de um milhão de filiados, nos dias gloriosos de Willy Brandt e Helmut Schmidt.
É um caso exemplar: a incompetência tem hoje elevados custos políticos. Um caso que deve suscitar profunda meditação aos políticos portugueses, que se julgam imunes ao desaire. A popularidade esfuma-se tão depressa como surge nestes tempos marcados pelo signo do efémero.
É um caso exemplar: a incompetência tem hoje elevados custos políticos. Um caso que deve suscitar profunda meditação aos políticos portugueses, que se julgam imunes ao desaire. A popularidade esfuma-se tão depressa como surge nestes tempos marcados pelo signo do efémero.