À lareira com um português
Também tenho algumas ideias sobre o concurso-de-que-todos-falam. Acontece que cheguei sempre atrasada ao blogger e como já foi (quase) tudo (muito bem) escrito, fiquei (quase) sem nada para dizer, para grande sorte dos estimados leitores. Dito de outra forma: lucky you.
Assim sendo, resta-me ali o cantinho direito da lareira e a leitura de um texto bem humorado, após um fim de semana de futebol, ainda mais futebol e só futebol: Um Portugal-França feminino visto por Almada Negreiros
Crónica de 04.10.1923 no Diário de Lisboa, intitulada “Nenette ou o “football” feminino”
Vieram a Lisboa dois “onzes” femininos, o que, apesar da aritmética, fazia mais de vinte e duas jogadoras porque também havia várias suplentes. Na “gare” dizem que foi uma enchente de alto lá com ela, tendo também comparecido um piquete de infantaria da Guarda por causa das dúvidas. Apesar disto, os conquistadores sportivos executaram à risca o seu programa de recepção que excedeu todas as expectativas. […] A verdade é que nesse dia o nosso temperamento ardente de meridionais tinha mobilizado ali para a estação a fina flor da exuberância nacional com todos os seus gestos e os mais adequados para receber raparigas desacompanhadas. Foi em cheio!
Vestindo pobremente, em magote, pelas ruas, as francesas riam, atrasavam-se, desatavam a correr:
- O que é aquilo? Perguntou uma senhora nacional com um chapéu à moda de Paris e uma obesidade tremenda desde as bochechas até aos tornozelos errados.
- São as jogadoras de foot-ball.
- Cavalonas! Mais valia que fossem aprender a coser!
(…)
O jogo foi muito mais cheio de interesse do que tinha imaginado, mas a mais interessante de todas era precisamente a que jogava pior. Isto só pode acontecer no foot-ball feminino.
Desportos & Letras: exposição bibliográfica-Biblioteca Nacional, 2004
Vieram a Lisboa dois “onzes” femininos, o que, apesar da aritmética, fazia mais de vinte e duas jogadoras porque também havia várias suplentes. Na “gare” dizem que foi uma enchente de alto lá com ela, tendo também comparecido um piquete de infantaria da Guarda por causa das dúvidas. Apesar disto, os conquistadores sportivos executaram à risca o seu programa de recepção que excedeu todas as expectativas. […] A verdade é que nesse dia o nosso temperamento ardente de meridionais tinha mobilizado ali para a estação a fina flor da exuberância nacional com todos os seus gestos e os mais adequados para receber raparigas desacompanhadas. Foi em cheio!
Vestindo pobremente, em magote, pelas ruas, as francesas riam, atrasavam-se, desatavam a correr:
- O que é aquilo? Perguntou uma senhora nacional com um chapéu à moda de Paris e uma obesidade tremenda desde as bochechas até aos tornozelos errados.
- São as jogadoras de foot-ball.
- Cavalonas! Mais valia que fossem aprender a coser!
(…)
O jogo foi muito mais cheio de interesse do que tinha imaginado, mas a mais interessante de todas era precisamente a que jogava pior. Isto só pode acontecer no foot-ball feminino.
Desportos & Letras: exposição bibliográfica-Biblioteca Nacional, 2004