quarta-feira, março 28, 2007

Escritos pré-cárcere (1)

Amedrontado por o meu nome poder vir a surgir nos jornais, venho aqui publicamente admitir que também eu tive uns chequezitos passados, em anos que já lá vão, pelos senhores da Universidade Independente. Assinados se bem me recordo pelo Nuno Rocha, pessoa que gostava de ter conhecido mas nunca calhou. O que eu lá fazia era fingir que sabia dar aulas de uma cadeira do curso de pós-graduação em Assessoria de Imprensa. A coisa funcionava assim: Eu chegava e balbuciava a primeira parte da aula. Duas horas depois, no intervalo, uma simpática senhora dava-me o cheque em troca de um recibo. Nunca me queixei.
Entretanto, outro dia, vi na televisão que o Rui Verde tinha sido preso preventivamente. Ora eu e o Rui fomos da mesma turma durante a minha fugaz mas marcante passagem pela Católica. Ainda afectado pelo jantar de ontem - e por um chefe de sala italiano que queria ajoelhar-se a meus pés e beijocar-me, naturalmente possuidor de um sentido de humor muito próprio - senti que havia aqui, caso alguém pretendesse estabelecê-las, conexões suficientes para ser levado a interrogatório e sovado selvaticamente por mulheres-polícia, já com farda de Verão. Antes que isso acontecesse, decidi escrever esta confissão. Conto com o vosso perdão, a compreensão das autoridades e o meu sentimento de genuíno remorso.

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