terça-feira, fevereiro 05, 2008

«A Redacção»

Após recomendação do Conselho de Redacção do Expresso - que considerou não ter existido censura da direcção do jornal quando impediu a publicação da crítica de Dóris Graça Dias a «O Rio dos Flores» - o texto interditado por Henrique Monteiro já pode ser lido aqui, na edição online.

Etiquetas:

terça-feira, janeiro 29, 2008

Sim, por que não?

JOSÉ ANTÓNIO PINTO RIBEIRO, «Breve Sumário da História de Deus: uma visão augustiniana da História?».
Já agora e depois de ter sido simpaticamente corrigido na caixa de comentários, estou com o Pedro Sales:

Etiquetas:

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Na mesa de cabeceira

«Se em algum sítio se desleixa a agricultura, então será em Portugal. Chamou-me logo a atenção como eram aqui débeis os rendimentos básicos do Estado. Nenhum povo no mundo tem tamanha alergia ao trabalho como o povo português. Refiro-me sobretudo aos portugueses que vivem deste lado do Tejo e que, por assim dizer, já respiram ares africanos. Se não permanecessem aqui tantos estrangeiros para fazer os trabalhos braçais, não acredito que se conseguisse encontrar um barbeiro ou um alfaiate...».
Perro Cristão Entre Muçulmanos, Joris Tulkens, Edição Guerra & Paz.

Etiquetas:

quinta-feira, janeiro 10, 2008

E a seguir, o STOP do Bairro


Citando Carlos Vaz Marques, «Francisco José Viegas, romancista, poeta, jornalista, gastrónomo, blogger, judeu, transmontano, portista» vai estar hoje na «sua» Casa Fernando Pessoa a propósito do novo livro de poemas «Se me Comovesse o Amor», com apresentação de Pedro Mexia e leituras de Ricardo Araújo Pereira. Tudo começa às 18.30H, mas devo chegar atrasado.
As minhas desculpas ao autor, mas não sei de quem é a fotografia.

Etiquetas:

terça-feira, janeiro 01, 2008

«Receita de Ano Novo»

«Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre».

Etiquetas:

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Afinal vai mais um poema

Sou um bocado conservador, prefiro o prazer à dor.
Aliás, um murro na cabeça provoca-me incerteza.
Talvez não seja um liberal porque aceito isso mal.
Concedo. Mas que querem? Não gosto de sentir medo.

«Não há insegurança» dizem com candura de criança
bloggers respeitáveis em espaços inquestionáveis.
Bom, então está certo. Sou eu que não acerto.
Tenho o QI limitado face ao crime organizado.

Devia desconfiar dos polícias e acreditar nas notícias:
«Há menos crimes agora e processos na Boa Hora».
As estatísticas (acredito) medem mesmo cada grito
com a precisão matemática da porrada mais fanática.

Talvez viver sossegado num condomínio fechado.
Encerrar as crianças num parque com seguranças.
Não passear de madrugada a pé por qualquer estrada
e só caminhar na praia enquanto o Sol não caia.

Estou certo que, então, serei de igual opinião:
O mundo não está perigoso e é um assunto escabroso
que na verdade nada interessa. Pois é. Homessa!

(A realidade não se engana. Os gajos é que não vão de cana).

Etiquetas:

sexta-feira, novembro 16, 2007

Para a nossa Maria Inês

Um poema recuperado da minha caixa:

«Não foi como recordas. É mentira
a folha seca tombada sobre o teu colo,
no exacto momento em que disseste
a palavra que não queria ouvir.

Interpretas em excesso a Natureza,
nem tudo sucede porque acontecemos.
Ontem mesmo quando chorei não choveu
e isso prova a inexistência dos deuses.

Também acontece sentir-te, ausente
não estares ali mas antes a tua sombra.
Fosse um sinal estaria louco
e não é assim porque te respondo como existisses.

Foi talvez ontem. Entrei clandestino no teu quarto
abandonado e branco, no chão as cartas
que escrevi atadas pelo cordel do Tempo.

Enquanto as abria, uma folha seca tombou.

Etiquetas:

sexta-feira, outubro 26, 2007

Também à sexta...


Será na Casa Fernando Pessoa, a 9 de Novembro e a partir das 21.30H, que será lançado o meu poemático opúsculo. Apresentação curta, descontraída e sincera pelo José Mário Silva, vinho a cargo da Quinta do Couquinho, queijadas e empaduças criadas pelos génios e gémeos Malato das Queijadas de Oeiras. Música a cargo de um convidado especial ainda no segredo dos deuses. Apoio da Casa Fernando Pessoa, Francisco e Ricardo (ça va sans dire) e da Revista Blitz. Está convidado o mundo inteiro. Exceptuando o livro, é tudo à borla. Sou um mãos largas, é o que é.
Adenda: Ia cometendo aqui um lapso imperdoável. Esquecer-me de agradecer ao Eduardo pelo tempo e paciência na revisão da obra. Um abraço.

Etiquetas:

quarta-feira, outubro 24, 2007

É hoje às 15

Ainda não li. Mas a contribuição da nossa Maria Inês é certamente a melhor de todas.

Etiquetas:

terça-feira, outubro 23, 2007

Sem título

Porreiro, mesmo porreiro,
é este nosso Primeiro.
Entre os Grandes colocado
como figura de Estado.

Viu passadas as tormentas
com sua licenciatura.
Devassaram-lhe as sebentas,
foi até à magistratura.

Mas tudo isso é Passado,
nada já isso importa.
Assinado este Tratado
abre-se uma nova porta.

É a porta da Europa. Sim!
Para Portugal o prestígio.
Jorra espumante sem fim,
não há de ressaca vestígio.

É porreiro, mesmo porreiro,
este nosso Primeiro.
Bem pode dizer o contrário
um comentador de aviário.

Que aqui fique bem patente
a vontade de todo um Povo:
Viver tendo bem ciente
a lição que deu de novo.

Quem espera sempre alcança,
água mole em pedra dura.
Seguindo em passinhos de dança
até à próxima legislatura.

Etiquetas: ,

terça-feira, outubro 09, 2007

Lá estarei


O Luís Filipe Cristóvão acaba de lançar mais um livro de poemas. Tendo em conta o facto de ele ser meu editor não me excederei em elogios. Limito-me a transcrever um dos meus preferidos poemas dele (publicado no Prazeres Minúsculos), a anunciar que o lançamento em Lisboa será na próxima sexta-feira (às 21.30H, na livraria BookHouse do Monumental) e a acrescentar que quem não o ler é babuíno.

a terceira pessoa

naquela pintura estão os amantes deleitados sobre a cama
e pelo escuro do retrato quase não se percebe, ao fundo,
a imagem deslizante da terceira pessoa, a que segura o copo,
que pode ser de água da vida sempre pronta a renascer
que pode ser de cicuta, breve gesto para a morte.

naquela pintura estão os amantes deleitados sobre a cama
e nos enrolados cabelos do retrato quase não se percebe
se na cama se ama ou se guerreia sem solução
o que pode ser o encontro anunciado pela manhã
o que pode ser o refúgio escondido pela noite.

naquela pintura estão os amantes deleitados sobre a cama
aqueles que irão respirar um do outro o breve gozo
amansando em sua volta o suor eléctrico dos seus corpos
que ainda podem ser de reencontro
que ainda podem ser de mor sucesso.

naquela pintura estão os amantes deleitados sobre a cama
e a mão do pintor, onde estará senão no copo
imperceptivelmente seguro pelo incógnito olhar ao fundo
e assim aos amantes foge o entendimento do ódio
e assim aos amantes só resta perecer.

Etiquetas: ,

A vida é dela

«Eu pensava que a minha mãe não era uma pessoa justa faltava-lhe a independência que faz a alma imortal. Achou sempre, e meu pai também, que o meu talento era devido a meu irmão e que eu o usurpara, como Jacob a Isaú. Contudo, meu pai mandou dactilografar o meu primeiro romance, e ainda hoje me pergunto o que foi feito dessa senhora Champollion que decifrou o que eu escrevi.
Viciei-me na leitura, minha mãe achava que eu estava a isolar-me demasiado, a perder o contacto com a realidade. Dava-me tarefas caseiras, vestia-me à inglesa com saias de pregas e peúgas pelo joelho.Eu queria que me deixassem em paz com o Cagliostro e a du Barry e outros. Gente perversa e fascinadora. Hoffmann também, e as suas fantásticas narrativas.
Como se podia escrever assim? Era um milagre, uma criação do mundo.
Escrevi o Mundo Fechado enquanto a minha filha dormia; a cozinha era de telha vã e havia um ratinho esperto ao qual eu punha comida na despensa todas as noites.E lá vinha o aroma das tílias anunciando os exames e o seu terror laureado de esperanças».

Etiquetas:

quinta-feira, setembro 20, 2007

O lugar de Aquilino


«Um grande escritor chegou ao seu lugar», titula o DN em editorial. Na minha casa de família, há muitos anos que reservei para Aquilino o lugar mais alto que lhe podia oferecer: o sótão. Herdeiro da sua obra completa, li «O Romance da Raposa» porque sim, «O Malhadinhas» porque a isso me obrigaram na escola e - essa sim com verdadeiro deleite - a tradução em três volumes da «Retirada dos Dez Mil» de Xenofonte, uma obra magnífica.
Os outros livros de Aquilino, recheados de vetustas palavras e regionalismos, eram e são para mim de tão obscuro significado e hermetismo como a Cabala judaica. Sentia-me estúpido ao lê-los. Não dispondo de um dicionário suficientemente capaz para me esclarecer os sinónimos, nem tendo ao lado nenhum professor catedrático de literatura, a tarefa de ler não era só ingrata e dolorosa, era impossível. O meu pai elogiava e recomendava Aquilino, mas apenas para em seguida encolher os ombros quando a pergunta que lhe fazia ultrapassava o seu vocabulário, aliás bastante vasto. Há muitos livros que tenho e nunca li. E desses também muitos que ainda lerei. Outros, independentemente do lugar onde possa jazer o seu autor, permanecerão para sempre e como Aquilino mortos, mortas que estão também desde há muito essas palavras que nunca entendi.

Etiquetas: ,

quarta-feira, julho 25, 2007

É logo à noite


A pedido do António Manuel Venda, aqui fica o convite para que apareçam hoje na Casa Fernando Pessoa, onde José Eduardo Agualusa apresentará «O que Entra nos Livros». Espero sair do concerto no Coliseu a tempo de ainda dar um merecido abraço ao autor.

Etiquetas:

segunda-feira, julho 09, 2007

Os meus livros

A mim ninguém me pergunta o que estou a ler. Acho mal. Só por isso vingo-me deixando aqui as minhas escolhas entre os anunciados best-sellers para este Verão. São só cinco os escolhidos, não é verdade? Então aqui vão:
«Fui tramado e Fontão é o meu Fado», de Carmona Rodrigues, Edições ACP com prefácio de Carlos Barbosa.
«A Acupunctura Urbana e os Condomínios Bonsai», de Helena Roseta, edição da autora e prefácio da autora (disponível em sistema print on demand).
«Viver com Simpliscidade Cansa», de António Costa, Edições Ideiafix. Com poster desdobrável de Margarida Vila-Nova e capa com Margarida Vila-Nova.
«Tudo o que penso e por extenso», de Fernando Negrão, Edições IBLL-TPC. Todos os exemplares são autografados pelo Eusébio.
«Um Zé, outro Zé e obras paradas ao pontapé», de José Sá Fernandes, Edições Fundo do Túnel. Com prefácio do Arquitecto Ribeiro Telles e mapa anexo das hortas de Lisboa, classificadas de acordo com a qualidade das couves galegas.

Etiquetas:

segunda-feira, junho 18, 2007

Um poeta é isto

Nasci no campo, onde se cruzavam os cheiros de flor
Do limoeiro
Com o de hortelã e o do estrume. Brinquei
Por entre o milho, queimei em fogueiras o rosmaninho,
Persegui lagartixas, cobras e ouriços, capturei e destruí
Escaravelhos,
Defendi as carochas, roubei ninhos com ovos e pássaros
Implumes,
Colhi cachos ainda verdes, desesperei pelo amadurecimento
Dos figos, das romãs e dos alperces,
Tingi-me com amoras, fui irmão das abelhas, discuti com o
Vento
E mais do que a erva e as árvores aproveitei-me da chuva.
Agora moro num quarto andar e tenho um automóvel tão
Sólido como a minha infelicidade,
Viajo às vezes entre as árvores, e colinas com árvores e
Planícies com árvores
Mas está tudo longe, fora do alcance, fugindo de mim
Rapidamente, em sentido contrário,
Com a mesma rapidez com que a infância me fugiu.
Sou hoje um cidadão da pedra e do betão. Os meus pés não
Pisam já o alecrim,
Os meus olhos não se habituam já ao escuro da noite para
Observar o voo dos morcegos,
Guardo uma ideia vaga de como era um arado, tenho
Saudades
De ver o meu pai descalço a regar morangos e abóboras.
O piar dos tentilhões e dos picanços foi substituído pelo
Ruído do tráfego,
O desajeitado voar das borboletas parece-me às vezes vê-lo
Nos papéis
Que o vento levanta do chão, levando-os daqui para acolá,
E a minha vida é vivida de forma a comemorar o dia disto
E o dia daquilo
Sem comemorar nunca o dia em que começa a primavera.
Bom dia!, diz-me o cliente. Bom dia!, diz-me o fornecedor.
Bom dia!, digo eu, sem dizer nada.
Joaquim Pessoa

Etiquetas:

Hoje acontece


No ICRL, oportunidade para ouvir Florin Turcanu, um dos melhores peritos romenos sobre Mircea Eliade e autor de «Mircea Eliade - Prizonierul istoriei», uma monumental obra sobre esse mestre do pensamento que viveu em Portugal grande parte da sua vida. A palestra é às 18.30H na Av. Luís Bivar, 61, 4º andar.

Etiquetas:

terça-feira, junho 12, 2007

Por detrás das muralhas

Eduardo Pitta é poeta - sete livros publicados e uma antologia – mas também ensaísta e diarista. É crítico literário do Público, mas ainda o principal autor do blogue Da Literatura . Eduardo Pitta é tudo isto e, acrescento porque vem ao caso, homossexual. Gay, queer, ou lá o que quiserem chamar-lhe.
Se isso é para aqui trazido é tão-somente porque, quer este «Cidade Proibida» quer a sua anterior trilogia de contos, «Persona» (agora reeditada pela QuidNovi), lidam com as vidas e os conflitos entre homens que preferem homens e as regras e constrangimentos sociais. No caso de «Persona», o cenário é a África da guerra colonial. Neste «Cidade Proibida», é essencialmente a Lisboa actual habitada por uma alta e ilustrada burguesia.
Podemos, pois, ler a obra de Pitta acreditando que existe a chamada «literatura de género». Ou optar pela convicção de que tal coisa, a existir, não invalida que haja boa ou a má literatura, independentemente da parceria que preferimos na cama.
Numa tessitura que reúne mais de 40 personagens, «Cidade Proibida» é uma história com muitas histórias lá dentro. Cada uma das figuras carrega com ela um passado, um meio, uma educação que as agrupa em famílias de sangue ou de afinidade, núcleos irredutíveis e protegidos por densas muralhas. Delas, cada uma só sai para a amálgama ocasional e democrática do sexo, anónimo ou quase. Já o amor, esse acaba por não vencer. E, quando o romance termina, Rupert e Martim já não estão juntos, afastados que foram pelas suas diferenças culturais e sociais, mais fortes do que a relação que os unia. Com um peso exagerado dos estrangeirismos compensado por um conhecimento profundo dos hábitos e costumes do meio que retrata, Eduardo Pitta não condescende com sentimentalismos ou redondilhas. O sexo é apresentado a cru, os tiques mostrados sem contemplação, a História portuguesa recente mencionada sem pruridos ou filtros de boa consciência. Por tudo isto, obra «de género» ou não, «Cidade Proibida» é um romance igual a poucos. Texto a publicar na próxima revista Blitz.

Etiquetas:

sábado, junho 09, 2007

E «o pá» quem era?

«A minha primeira entrada no forte é, precisamente, na manhã seguinte a uma reportagem da Televisão em que se ouvia um oficial dizer constantemente «pá». Pois era. para aqui, para acolá. Eu até pensei: aqui está um rapaz em vias de poder ser director do Diário de Notícias». Vera Lagoa, «Crónicas do Tempo», Livraria Internacional, Novembro de 1975

Etiquetas:

terça-feira, junho 05, 2007

A prosa viperina de Maria Armanda

Distracções
«Ao contrário de algumas senhoras da nossa melhor sociedade que levam dos cocktails das Embaixadas bombons para os filhos (como dizia Valéry Larbaud numa das suas crónicas de «Jaune Bleu Blanc») Luís de Sttau Monteiro anda muito preocupado por ter deixado distraidamente, dentro de um guardanapo, na Embaixada de França, os seus dois dentes postiços...» 22/3/66


Simone vai representar Portugal
Amália escolheu e creio que escolheu bem. Simone é bonita e canta bem. Mas...Amália, você tem responsabilidades. Leve-a primeiro a uma boa modista ou...ao trapo americano». 21/9/66
Vera Lagoa, «Bisbilhotices...», Editorial Ibis, 1968

Etiquetas: