«A Redacção»
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«Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
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Um poema recuperado da minha caixa:
«Não foi como recordas. É mentira
a folha seca tombada sobre o teu colo,
no exacto momento em que disseste
a palavra que não queria ouvir.
Interpretas em excesso a Natureza,
nem tudo sucede porque acontecemos.
Ontem mesmo quando chorei não choveu
e isso prova a inexistência dos deuses.
Também acontece sentir-te, ausente
não estares ali mas antes a tua sombra.
Fosse um sinal estaria louco
e não é assim porque te respondo como existisses.
Foi talvez ontem. Entrei clandestino no teu quarto
abandonado e branco, no chão as cartas
que escrevi atadas pelo cordel do Tempo.
Enquanto as abria, uma folha seca tombou.
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Porreiro, mesmo porreiro,
é este nosso Primeiro.
Entre os Grandes colocado
como figura de Estado.
Viu passadas as tormentas
com sua licenciatura.
Devassaram-lhe as sebentas,
foi até à magistratura.
Mas tudo isso é Passado,
nada já isso importa.
Assinado este Tratado
abre-se uma nova porta.
É a porta da Europa. Sim!
Para Portugal o prestígio.
Jorra espumante sem fim,
não há de ressaca vestígio.
É porreiro, mesmo porreiro,
este nosso Primeiro.
Bem pode dizer o contrário
um comentador de aviário.
Que aqui fique bem patente
a vontade de todo um Povo:
Viver tendo bem ciente
a lição que deu de novo.
Quem espera sempre alcança,
água mole em pedra dura.
Seguindo em passinhos de dança
até à próxima legislatura.
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Nasci no campo, onde se cruzavam os cheiros de flor
Do limoeiro
Com o de hortelã e o do estrume. Brinquei
Por entre o milho, queimei em fogueiras o rosmaninho,
Persegui lagartixas, cobras e ouriços, capturei e destruí
Escaravelhos,
Defendi as carochas, roubei ninhos com ovos e pássaros
Implumes,
Colhi cachos ainda verdes, desesperei pelo amadurecimento
Dos figos, das romãs e dos alperces,
Tingi-me com amoras, fui irmão das abelhas, discuti com o
Vento
E mais do que a erva e as árvores aproveitei-me da chuva.
Agora moro num quarto andar e tenho um automóvel tão
Sólido como a minha infelicidade,
Viajo às vezes entre as árvores, e colinas com árvores e
Planícies com árvores
Mas está tudo longe, fora do alcance, fugindo de mim
Rapidamente, em sentido contrário,
Com a mesma rapidez com que a infância me fugiu.
Sou hoje um cidadão da pedra e do betão. Os meus pés não
Pisam já o alecrim,
Os meus olhos não se habituam já ao escuro da noite para
Observar o voo dos morcegos,
Guardo uma ideia vaga de como era um arado, tenho
Saudades
De ver o meu pai descalço a regar morangos e abóboras.
O piar dos tentilhões e dos picanços foi substituído pelo
Ruído do tráfego,
O desajeitado voar das borboletas parece-me às vezes vê-lo
Nos papéis
Que o vento levanta do chão, levando-os daqui para acolá,
E a minha vida é vivida de forma a comemorar o dia disto
E o dia daquilo
Sem comemorar nunca o dia em que começa a primavera.
Bom dia!, diz-me o cliente. Bom dia!, diz-me o fornecedor.
Bom dia!, digo eu, sem dizer nada.
Joaquim Pessoa
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