quinta-feira, setembro 20, 2007

O lugar de Aquilino


«Um grande escritor chegou ao seu lugar», titula o DN em editorial. Na minha casa de família, há muitos anos que reservei para Aquilino o lugar mais alto que lhe podia oferecer: o sótão. Herdeiro da sua obra completa, li «O Romance da Raposa» porque sim, «O Malhadinhas» porque a isso me obrigaram na escola e - essa sim com verdadeiro deleite - a tradução em três volumes da «Retirada dos Dez Mil» de Xenofonte, uma obra magnífica.
Os outros livros de Aquilino, recheados de vetustas palavras e regionalismos, eram e são para mim de tão obscuro significado e hermetismo como a Cabala judaica. Sentia-me estúpido ao lê-los. Não dispondo de um dicionário suficientemente capaz para me esclarecer os sinónimos, nem tendo ao lado nenhum professor catedrático de literatura, a tarefa de ler não era só ingrata e dolorosa, era impossível. O meu pai elogiava e recomendava Aquilino, mas apenas para em seguida encolher os ombros quando a pergunta que lhe fazia ultrapassava o seu vocabulário, aliás bastante vasto. Há muitos livros que tenho e nunca li. E desses também muitos que ainda lerei. Outros, independentemente do lugar onde possa jazer o seu autor, permanecerão para sempre e como Aquilino mortos, mortas que estão também desde há muito essas palavras que nunca entendi.

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