terça-feira, outubro 09, 2007

A vida é dela

«Eu pensava que a minha mãe não era uma pessoa justa faltava-lhe a independência que faz a alma imortal. Achou sempre, e meu pai também, que o meu talento era devido a meu irmão e que eu o usurpara, como Jacob a Isaú. Contudo, meu pai mandou dactilografar o meu primeiro romance, e ainda hoje me pergunto o que foi feito dessa senhora Champollion que decifrou o que eu escrevi.
Viciei-me na leitura, minha mãe achava que eu estava a isolar-me demasiado, a perder o contacto com a realidade. Dava-me tarefas caseiras, vestia-me à inglesa com saias de pregas e peúgas pelo joelho.Eu queria que me deixassem em paz com o Cagliostro e a du Barry e outros. Gente perversa e fascinadora. Hoffmann também, e as suas fantásticas narrativas.
Como se podia escrever assim? Era um milagre, uma criação do mundo.
Escrevi o Mundo Fechado enquanto a minha filha dormia; a cozinha era de telha vã e havia um ratinho esperto ao qual eu punha comida na despensa todas as noites.E lá vinha o aroma das tílias anunciando os exames e o seu terror laureado de esperanças».

Etiquetas: