terça-feira, outubro 31, 2006

Miguel, o absolutista (I)

Quando os computadores substituíram as velhas máquinas de escrever, Miguel Sousa Tavares redigiu uma apaixonada ode em prosa em louvor do vetusto instrumento que acabara de se tornar peça de museu, proclamando-se inimigo da informática. Passou-lhe então depressa o antigo amor. Mas ei-lo agora atacado por uma nova crise de passadismo, apregoando o seu ódio à blogosfera. Num artigo saído no último Expresso, a propósito de um cobarde ataque de que foi alvo, e que o deixou compreensivelmente agastado, vem agora, com o estilo a que já nos habituou, disparar mais rápido do que a própria sombra. Dizendo coisas fantásticas como esta: “Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de sites informativos, a Internet interessa-me zero.” As “excepções” que menciona já são suficientemente relevantes para quem diz nada querer saber da Internet. Mas MST confessa ainda a sua alergia ao “universo dos chats e dos blogues”, por lhe parecer uma “preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar”. De novo o cenário apocalíptico, tão frequente nas reflexões deste comentador e de alguns outros que há décadas exprimem opiniões em regime de virtual monopólio na imprensa portuguesa, onde rende sempre mais o cenário que for pintado em tons bem negros.

Miguel, o absolutista (II)

Repito: tem MST razão em sentir-se ferido com o ataque soez que lhe fizeram. Mas daí até envolver toda a blogosfera no manto de “irresponsabilidade e impunidade” a que alude no Expresso vai uma distância que ninguém com seriedade intelectual devia percorrer. MST ignora que têm partido do mundo dos blogues que ele despreza as mais vigorosas afirmações de defesa que lhe exprimiram vários bloggers perfeitamente identificados. Gente tão diversa como o Carlos Abreu Amorim, o Daniel Oliveira, o Miguel Silva, o Rui Bebiano e o Rui Ângelo Araújo. Sobre isto, nem um sussurro dele.
A Internet tem incontáveis defeitos? Pois tem. Como têm a escolaridade universal e obrigatória (que, horror, “baixou a qualidade média do nosso ensino”, como as cassandras de serviço não cessam de proclamar), as férias pagas (que enxamearam o mundo de turistas, que MST já disse desprezar) e, em última análise, a própria democracia. MST e alguns outros como ele por vezes fazem-me lembrar aqueles oposicionistas espanhóis que, enterrada a ditadura, resmungavam entre dentes: “Contra Franco vivíamos mejor.”
Será mesmo? Apesar dos tarados que proliferam na Internet, não tenho dúvidas: este é um preço compreensível a pagar pelo progresso num mundo onde as máquinas de escrever, a televisão a preto e branco e o partido único são apenas memórias de um tempo que já passou.

Tertúlia literária (76)

- Vais sair a esta hora?
- Sim. Felizmente há luar.

Dedicado ao Francisco

O que é preciso é tranquilidade.

Após o referendo, a sesta


Datado de 1866 e erroneamente atribuído a Gustave Courbet, mas na realidade da autoria da pintora Jedis Céquevadansmatéte (Musée du Petit Palais, Paris).

O spórtengue que me desculpe...

Mas eu esta noite é mais Tokyo.

Tertúlia literária (75)

- Já leste o Berlin Alexanderplatz ?
- Para quê? Sei perfeitamente onde fica.

Notícias inúteis (3)

Manuel Pinho ainda é ministro da Economia.

Posso?

Tertúlia literária (74)

- Conseguiu ler esse romance do Mário Cláudio até ao fim?
- Consegui. Até ao fim da primeira página.

Só tenho uma palavra a dizer

Safa!

Spoooorrrtiiiiing!

Semana "à Paulo Bento"

Nesta SEMANA “à Paulo Bento” – o feriado de Todos os Santos confere-lhe uma risca ao meio – desejo à equipa do Sporting toda sorte do mundo logo à noite na “batalha” de Munique. A rapaziada bem merece.

segunda-feira, outubro 30, 2006

"Escolhas" - Uma questão de agenda?

Equívoca me pareceu a posição do professor Marcelo Rebelo de Sousa quanto à questão da despenalização do aborto, ontem nas suas “escolhas”. Ficou bem sublinhado o facto de o aborto ser matéria de referendo graças à sua iniciativa em 1996. Tudo bem; estamos-lhe gratos. Mas quanto ao assunto, eu ontem esperava uma sua posição mais… afirmativa. Hoje ao reler o resumo das suas “escolhas” no DN confirmei pelo texto a sua clara abstenção.
Entendi que aceita a pergunta a referendar como boa. Mas o que ficou a zumbir no meu ouvido foi que o professor considera precário o prazo das dez semanas de gestação na “humanitária tolerância” à mulher que aborta… E pareceu-me ouvir confirmada a minha tese de que o governo Sócrates consegue preencher a difícil agenda 2007, com mais ou menos legítimas manobras de diversão, entre a campanha para o referendo e a presidência da UE. Acho pouco.
Não conheço a agenda do professor, mas acho pouco.

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Os livros de hipermercado e o outro...

Hoje Mário Soares, juntamente com Federico Mayor, e Rosado Fernandes lançam livros. Mas esses são livros de hipermercado, quando comparados com este.

As duas primeiras páginas do livro são cadeiras de todo o género e feitio. A ironia mantém-se a propósito do local da apresentação de hoje. Vai ser no ministério das Finanças...

Perguntar não ofende, pois não?

Alguém me explica, como se tivesse 10 semanas, qual a razão para o Clube Safo se pronunciar a favor (ou já agora mesmo que fosse contra) da despenalização do aborto? Ou faltou-me aprender algumas coisas na escola?

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A César o que é de César

Normalmente evitaria polemizar com João César das Neves (JC das N). Tenho sempre a impressão de que discutir com ele é como discutir com um taxista e, no final, somos nós que pagamos a factura. Pode ser que me engane mas tenho dúvidas (ao contrário dele, pelo que parece).
Hoje, JC das N defende a geração que fez o 25 de Abril. Uma malta injustiçada pelas críticas que lhe fazem os jovens que «mesmo com cursos superiores, não conseguem carreira estável e andam no desemprego, a recibo verde ou trabalho temporário». Apesar disso, escreve JC das N, «a geração anterior sofreu muito».
Ora pode ser que tenha sofrido, pelo menos aqueles que não andaram nos copos na Sorbonne e em Oxford. Mas a verdade é que, de gestão e microeconomia, nenhum deles percebia nada. Veio a revolução e a ideia brilhante que tiveram foi obrigar quem sabia o que era uma empresa a sair do país e entregar a gestão ao Estado e aos “colectivos”. O ouro foi para o bandido e para o estrangeiro, como pagamento das dívidas das experiências marxistas-maoistas-leninistas e a agricultura ficou em cacos com as terras ao abandono.
Depois, foi o rebound. No rebound, em português a tabelinha, a bola da ideologia já estava enfiada no buraco e na mesa de bilhar restava outra bola: Os «tachos» do esquema rotativista criado pela dita geração. Uns TLP estatizados, por exemplo, tinham dois edifícios. Um para o partido no Governo e outro para os quadros na prateleira, que alternavam alegremente. A malta continuava a não perceber nada de gestão e microeconomia mas já sabia como gerir a sua conta bancária e os interesses entre as capelinhas.
Hoje, a geração seguinte quer governar isto e não consegue. Há facturas para pagar que nunca mais acabam e dívidas do tamanho do continente africano. JC das N vem falar-nos de «sofrimento»? Tenha dó! Quem sofre, todos os dias, somos nós. E temos sorte se não for até ao final da vida.

O andar de baixo

Hoje de manhã liguei a TSF no carro e não, como tem sido habitual, a Oxigénio ou a Nostalgia (depende dos estados de espírito). Pela rádio de notícias fiquei a saber que o Luís Inácio "Lula" da Silva considera que a sua vitória "é a vitória do andar de baixo sobre o andar de cima". Diz o reeleito Presidente da República do Brasil que este segundo mandato será dedicado aos pobres, que naquela terra são milhões. Claro que sim, até porque o primeiro mandato foi dedicado ao PT e a manobras de vários dos seus colaboradores mais directos. Mesmo assim, foi reeleito. Porque o País, dizem os especialistas, está em crescimento, respira saúde económica, a indústria passou a ser de ponta e houve um ataque ao gap que separa ricos e pobres. Claro que sim.

P. S. - Eu que vivo num segundo andar e nem conheço bem quem está no primeiro ou no R/C estou bem arranjado se a moda pega por cá...

On the street

Gravatas, caro João? Dê uma vista de olhos a este blog. No Sartorialist parece tudo muito casual. Parece, mas não é.

Nada como começar o dia com um passeio pelas ruas de Nova Iorque. Espero que o tempo esteja agradável.

Charvet Event At Saks San Francisco - Vintage Style, San Francisco

Indo ao essencial


Marcelo Rebelo de Sousa considera que «Sócrates devia remodelar na Primavera». Eu não estou de acordo: A moda das gravatas monocromáticas já passou e o tempo de abandoná-las é agora, em pleno Outono/Inverno. Dizem que as cornucópias se preparam para regressar mas prefiro outro come back mais recente, as gravatas de linha com riscas horizontais. Para um ar professoral blasé, não há melhor e, ao que parece, Sócrates tomou-lhe o gosto de falar ex catedra.
P.S. Notem como consegui, num texto tão curto, incluir um termo anglo-saxónico, um francês e outro em latim. Tal António Lobo Antunes, se tivesse que escolher um homem culto, escolher-me-ia.

domingo, outubro 29, 2006

Ele é maior que o Camões

O imeeeeenso escritor Lobo Antunes, deslumbraaaaado com o Seu próprio umbigo, confessa hoje em entrevista à revista do Público: "Honestamente, se tivesse de escolher um escritor escolhia-me a mim." Frase fabulosa do Homem que com notório orgulho revela sentir-se "cada vez mais autista". Ele, que não hesita em comparar-se a Faulkner e Scott Fitzgerald, garante que se está nas tintas para o que se passa no mundo. "Não leio jornais, é muito raro ver um noticiário na televisão", admite, com natural enfado, o Monstro Sagrado da Literatura Portuguesa a quem a estúpida academia de Estocolmo vem negando o Nobel que há muito Lhe devia ter sido outorgado. "É óbvio que estou a escrever cada vez melhor", confidencia o Génio, com ar de quem nunca se engana e raramente tem dúvidas.
Cheguei ao fim desta entrevista rendido incondicionalmente ao talento do Artista que deu Os Cus de Judas à literatura portuguesa. Cesse tudo o que a musa antiga canta: o Antunes até ao Eça e ao Camões suplanta.

Grandes contos (8): Cardoso Pires

Estilista incomparável no romance, José Cardoso Pires foi também um excelente cultor da narrativa curta, atingindo a expressão máxima da sua arte de ficcionista num dos melhores volumes de contos de toda a literatura portuguesa: Jogos de Azar (1963). São oito histórias com raízes muito diferentes: umas tinham sido originalmente publicadas no livro de estreia do autor, O Caminheiro e Outros Contos (1949), de temática tradicional, embora inovadores e arrojados na escrita; outros constam da obra Histórias de Amor (1952), de cunho mais urbano e até político, que acabaria por ser apreendida pela PIDE. Exigente ao extremo, o autor viria a expurgar vários deles ao lançar esta colectânea. Foi mau juiz em causa própria, o que aliás é frequente em literatura.
Jogos de Azar é, na definição do escritor, um conjunto de "histórias de desocupados, de criaturas privadas de meios de realização", num país de horizontes estreitos e ansiedade à flor da pele, pastoreado por um ditador quase invísivel. Um país ainda acentuadamente rural e cheio de marcas campestres transplantadas para as malhas citadinas. É nesse terreno de inadaptados, verdadeiros apátridas, que circulam as personagens de um filme como Verdes Anos, de Paulo Rocha (estreado no mesmo ano de Jogos de Azar), e também as que José Cardoso Pires introduz nestes contos.
Um deles, o que me traz aqui, chama-se Week End: história de um amor fugaz que se dissolve na espuma dos dias, por imposição das circunstâncias. Uma história banal como as ondas do mar a rebentar na praia, mas também como elas de uma beleza indescritível. Cardoso Pires revigorou a técnica narrativa então vigente em Portugal, muito adjectivada e cheia de inúteis preciosismos literários, impondo um ritmo quase cinematográfico às suas histórias, assente num discurso directo credível por influência dos melhores autores americanos - Hemingway, desde logo.
É um estilo despojado, directo "ao osso" da intriga (para usar uma expressão a que JCP recorria com frequência), que nos apresenta as duas figuras centrais deste enredo: ele apaixonado e disponível, ela casada e incapaz de tornear o espartilho das convenções sociais. Despedem-se num quarto de hotel à beira da praia, numa tarde ardente de sol. Não podia ser mais acentuado o contraste entre a atmosfera exuberante de calor meteorológico e o gelo afectivo subitamente instalado naquele aposento, entre os "banhistas sentados na esplanada, perdidos no tempo", e os dois jovens desamparados que contam os minutos para o último capítulo de um romance chegado ao fim. "Nada disto faz sentido. O pior é estamos cercados por coisas sem sentido e termos de aceitar o cerco", diz-lhe ela, resignada.
Nesta admirável teia de metáforas, oculta em diálogos só na aparência banais, o cerco expandia-se das paredes daquele quarto, atingindo a dimensão do País submerso na ditadura. Linhas paralelas de uma linguagem afinal só tornada eficaz pelo talento sem medida de um escritor como Cardoso Pires.

Valem o que valem

Hoje, contra todas as sondagens, espero que Alckmin vença Lula nas eleições. E acho que ele tem hipóteses, porque já no primeiro turno era dado como vencido e foi o que se viu. Aliás, estou farto de sondagens, de políticos que se guiam por elas e, sobretudo, de comentadores e jornalistas armados em especialistas que dizem aquilo que a última sondagem indicou, como se fizessem grandes análises políticas. As sondagens, só para citar casos recentes que me vêm à memória, falharam nos EUA, na Alemanha, no Equador, no México, em Itália, no Brasil e em Portugal, nomeadamente nas autárquicas. Quando elas falham, os tais analistas e jornalistas, que diziam que não sei quem "não tinha hipóteses", surgem com a mesma desfaçatez de sempre a fazer novas análises, baseadas, muitas vezes, em novas sondagens. O pior é que há muita gente que orienta o seu sentido de voto em função de quem tem ou não tem as tais hipóteses e isso falseia completamente o sistema democrático. Por tudo isso, mesmo sem hipóteses nenhumas nas sondagens, que vença Alckmin.

Postais blogosféricos

1. Há um ano que este excelente Andarilho anda exilado. Parece que ainda foi ontem que tudo começou...
2. Também este blogue arrancou há um ano. Um beijinho de parabéns, Paula. Com votos de que esse circo nunca perca as asas.
3. Entretanto, este já festejou dois anos. E pela pedalada que revela prepara-se para comemorar muitos mais. Parabéns a todos quanto o fazem, a começar pelo Jorge.
4. Joaquim Vieira está na blogosfera. O seu Observatório de Imprensa é já de consulta imprescindível. Entrou na nossa lista de favoritos.
5. As crónicas madrilenas da Rita têm cada vez mais salero. É um prazer lê-las por cá. Rititi surge também a partir de agora na barra lateral do Corta-Fitas.
6. Com selo de Bruxelas, Fátima Rolo Duarte envia-nos este blogue. Que é dos mais deslumbrantes, em termos visuais, que tenho conhecido até hoje.
7. O Carlos teve uma ideia genial: votar no Colombo como melhor português de todos os tempos. Uma "microcausa" hilariante, na montra do Small Brother. Fartei-me de rir.

Gostei de ler

1. Querido Líder. De João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
2. Os copyright do PS. De Luís Novaes Tito, no Tugir.
3. A mulher do patrão. De Miguel Abrantes, na Câmara Corporativa.
4. Reconforto. De Luís Januário, n' A Natureza do Mal.
5. Anónimos & companhia. De Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.
6. Zaroff. De Henrique Fialho, na Insónia.
7. Lou. De José Bandeira, na Bandeira ao Vento.
8. Regresso a casa. De Rita Barata Silvério, na Rititi.
9. Ética da personagem. De João Paulo Sousa, no Da Literatura.
10. Não sei como dizer-vos. De Carla Carvalho, no Welcome to Elsinore.
11. Os homens e o choro das mulheres. De Sofia Vieira, na Maresia.

Momentos Kodak (23)


Maria José Nogueira Pinto, vereadora do CDS em Lisboa, continua à espreita de uma oportunidade no primeiro plano da política portuguesa. Perfil para tanto não lhe falta. Se fosse ela a liderar os democratas-cristãos será que o partido andaria tão em baixo nas sondagens?
(Julho 2005)
Foto: Rodrigo Cabrita

Blogues em revista

Insónia: "Este é, sem dúvida, o país de quem muito acha e pouco pensa." (Henrique Fialho)

Tomar Partido: "Sócrates está em processo de santanização e a capitalização da oposição de esquerda à descida conjunta do bloco central(!) demonstra que não existe oposição à direita." (Jorge Ferreira)

Bicho Carpinteiro: "É caso para dizer que as sondagens se juntam às manifestações..." (José Medeiros Ferreira)

Bloguítica: "As gaffes de Manuel Pinho e Castro Guerra não foram verdadeiramente problemáticas. Afinal, a verdade é que um e outro são descartáveis. A única pessoa que não é descartável é o primeiro-ministro...O que nas últimas semanas abalou a relação de confiança entre José Sócrates e o eleitorado foi a introdução de portagens nalgumas SCUT e de taxas moderadoras nos internamentos e operações ambulatórias. Aqui, sim, a relação de confiança sofreu danos." (Paulo Gorjão)

Hoje Há Conquilhas: "Marcelo Rebelo de Sousa continua a brincar aos políticos, como a minha prima brincava com bonecas quando era pequenina, mas poucas dúvidas restam de que é mais um sinal da corrida à sucessão de Marques Mendes." (Tomás Vasques)

Vidro Duplo: "Era tão imaturo que nunca passou de espermatozóide." (Sara)

O Amigo do Povo: "Podia votar em D. João II. Mas D. João II, um dos maiores, senão o maior rei português, el hombre, como lhe chamava Isabel a Católica, apostou e perdeu. Foi uma pena. E que pena." (Fernando Martins)

Blasfémias: "A razão humana nunca conseguiu fundar uma civilização. Pelo contrário, a fé religiosa já fundou várias; na realidade, todas." (Pedro Arroja)

Notícias inúteis (2)

José Sócrates foi reeleito secretário-geral do PS.

Redundância à portuguesa (2)

"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
Pergunta do referendo aprovado na Assembleia da República

sábado, outubro 28, 2006

Hora de Inverno


Modelos conservadores que resistem à mudança da hora.

Machismo?

"Verdadeiramente, o tempo das mulheres está a chegar."

"As mulheres começam a não aceitar ficar na sombra dos 'grandes homens', querem ter existência própria."

"... o facto de as mulheres serem mais autónomas do que os homens poderá fazer com que estes se tornem apêndices dispensáveis." (Apêndices dispensáveis? Esta é a melhor de todas!!)

José António Saraiva (JAS) em "Casais do Futuro", no Sol (o link não está disponível, o que é lamentável. Quem quiser que compre a edição em papel).

Nas colunas


Maria Del Mar Bonet - L'àguila Negra

Os actores e os outros

Fernando Trueba, Óscar da Academia de Hollywood pelo filme Belle Époque (1994), ultima o lançamento de uma nova edição da sua obra Mi Diccionario de Cine (que, confesso, bem gostaria de ter na minha estante). Em recentes declarações ao El País, o realizador espanhol observa: “Os actores secundários são, de facto, os actores. Os protagonistas, os galãs, as estrelas ou qualquer que seja o nome que lhes damos, não são mais que seres privilegiados que, devido ao mistério da absorção dos rostos pela luz e à insaciável sede de beleza física dos humanos, conseguem cobrar salários muito superiores aos de um primeiro-ministro.”
Acreditem: ele sabe do que fala.

Palmas para Pacheco

É um dos melhores textos que tenho encontrado desde sempre na imprensa portuguesa: “A degradação da privacidade e da intimidade”. Foi escrito por José Pacheco Pereira e saiu no Público de quinta-feira. Pode ser lido aqui.

Postais blogosféricos

1. Uns partem, outros chegam. Entre os que estão quase a chegar, e que até já permitem uma espreitadela, inclui-se O Cachimbo de Magritte. Aqui ficam os meus votos de boas-vindas. E os parabéns pelo inspirado nome dado ao blogue.
2. Um regresso que merece ser assinalado: Lutz Brückelmann volta em forma, reactivando o Quase em Português.
3. O Francisco Valente, na linha do que já aqui escrevi, questiona n'O Acossado alguns critérios de João Bénard da Costa na organização do próximo ciclo de cinema da Gulbenkian. Tem toda a razão no que se refere ao Fellini: O Conto do Vigário é um bom filme, mas o mestre italiano fez muito melhor. Desde logo, As Noites de Cabíria, uma obra-prima que bem gostaria de rever no Grande Auditório da fundação.
4. Da "esquerda bem pensante", moi? Olhe que não, caro António Machado, olhe que não...

Redundância à portuguesa

"Voltamos com uma breve síntese à uma. Até lá."
SIC-Notícias, noticiário do meio-dia

Gostei de ler

1. Queda de Sócrates 2. De Pedro Magalhães, no Margens de Erro.
2. Grandes Portugueses, grande confusão. De Bruno Cardoso Reis, n'O Amigo do Povo.
3. Ministério da Cultura ou Ministério do Património? De Miguel Castelo-Branco, no Combustões.
4. A Mentira. De Carlos Carvalho, no César & Dama.
5. O bufo. De Daniel Oliveira, no Arrastão.
6. The Black Dahlia. De Francisco Valente n'O Acossado.
7. Mesa para sete. Da Isabel, na Miss Pearls.

Notícias inúteis (1)

Luís Filipe Vieira foi reeleito presidente do Benfica.

Mesmo sem ter visto o Dr. House *

No Alexandre Soares Silva, alguns sketches das séries "Yes, Minister " e "A Bit of Fry & Laurie":" Me deixe só dizer (me deixe, me deixe),(larga a minha blusa) que é a melhor comédia política que já vi - política no sentido de mostrar o que é o dia-a-dia da política e da burocracia. É brilhante."
E também 10 Melhores Séries de TV :"então é claro que você tem que ficar completamente atônito porque a lista não coincide completamente com a que você faria. "
* Imperdível, Alexandre.



Uma delícia, este comentário sobre a destruição do Palácio Monroe (Rio de Janeiro) em 1976:
"Quanto ao texto do Globo, como é que alguém em plena década de setenta ousa falar em "regras da estética"? Quem escreveu isso provavelmente usava costeletas e tinha um palitinho no canto da boca. Até consigo vê-lo datilografando isso com seus dedos ocres de Chanceller, "o fino que satisfaz". E devia usar uma camisa bem justa na barriga. "

Fragmentos únicos da literatura (2)

«Falam os médicos, os notários, os empreiteiros, os varredores, os motoristas, os professores e toda a lista de profissões de estatística e não há corporação que fique de fora neste zunzunar do paleio, vendedores de automóveis, mediadores de seguros, sapateiros que passam a vida a cantar, empregados de mesa, agentes de autoridade, doentes de hospitais, operadores imobiliários, empregados forenses, e também engenheiros, sem-abrigo, vagabundos, telefonistas, padeiros, patinadores, engraxadores e vândalos. Imigrantes provindos de países sombrios aprendem aqui a soltar as línguas, aderem ao velho ofício de dar à taramela, por isto e por aquilo, por tudo, nada. Passam-se dias, meses, anos, remoem as depressões, adejam os perigos e o país a falajar, falajar».
Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina

sexta-feira, outubro 27, 2006

Ui...

Um amigo, especialista na matéria, recomendou-me a exposição de pintura de Barahona Possolo, que é inaugurada dia 2 de Novembro (entre as 18 e as 23 horas), no Museu Nacional de História Natural. Confesso que, pela amostra, fiquei cheio de medo...

FF

Por um blogue, o ‘Corta-Fitas’, cheguei a um dos combates mundiais do ano: a publicidade entre marcas de carro. Por cá, País brando, uma marca não morde noutra, a publicidade proíbe-o. Veja, a seguir, o que perdemos.
Anúncio da BMW: “Parabéns à Audi por ser o Carro do Ano/2006, na África do Sul – Da BMW, o Carro Mundial do Ano/2006”. Resposta da outra: “Parabéns à BMW pelo Prémio do Carro do Ano – Da Audi, vencedora de 6 Sucessivos 24 Horas de Le Mans”...
Eu adoro estas picardias – quando se trata de me convencerem, gosto que o façam com brio. Lembro-me de que a Pepsi roubou Michael Jackson à Coca-Cola e fez um anúncio onde, por acaso, o cantor se queimou nas filmagens.
Anúncio da Coca: “Parabéns à Pepsi por ter contratado Michael Jackson. Pena é darem tanto azar.”

Ferreira Fernandes, Correio da Manhã

Robert Kagan em Lisboa

Há dois dias voltámos a ouvir defender a tese de que no mundo se trava fundamentalmente uma batalha entre liberalismo e despotismo. O norte-americano Robert Kagan esteve em Lisboa para proferir uma conferência em torno do tema "O Fim da História" defendendo que o liberalismo não triunfou no nosso tempo, por isso "temos de nos armar belicamente e diplomaticamente e precisamos de estadistas dos dois lados do Atlântico". A advertência, que visa os europeus, vem confirmar o pensamento que tem vindo a desenvolver de que o liberalismo ocidental, com todos os seus valores, está em perigo. "Ao contrário do que se pensava em 1990, sabemos hoje que a Rússia e a China não seguiram o caminho do liberalismo político, mas os seus próprios modelos. O liberalismo ocidental não foi quem necessariamente triunfou no nosso tempo" (o optimismo de Fukuyama deu lugar ao pessimismo de Huntington). Segundo Kagan, é na necessidade bélica (ou na guerra como necessidade) que "reside a mais importante diferença filosófica entre europeus e norte-americanos". E não é por um conjunto de ideólogos liberais-conservadores estarem na retaguarda das decisões militares da actual administração norte-americana. É uma diferença que "não se elimina consoante os protagonistas de um ou do outro lado do Atlântico, não depende de quem é o Presidente dos Estados Unidos ou da França. Existirá com quem quer que seja o sucessor de George W. Bush, porque os Estados Unidos têm uma sensibilidade distinta dos europeus em relação ao uso da força". Ora, se há assim uma diferença tão grande, continuamos sem saber onde estará o entendimento. Já agora, é curioso que esta tese tenha sido sublinhada na conferência "Que Valores para Este Tempo" que decorreu desde quarta-feira até hoje na Gulbenkian.

À descoberta

Chama-se Jessica Rabbit, não é nada ao eng. Sousa Veloso do saudoso TV Rural, e tem um blogue para passar a limpo.

Sexta-feira

Petra Nemcova.

"Reprogramar" o PSD

"Evidentemente, consoante o ponto de vista, Francisco Pinto Balsemão é a pessoa certa, ou errada, para liderar a revisão do programa. O histórico social-democrata será fiel ao princípio de que é preciso mudar para que tudo fique na mesma."
Paulo Gorjão, Bloguítica

Mais alto, mais longe



Clicar em cima para aumentar.

Recebido por e mail, assinadas por José Alberto.

Sinais dos tempos

Eu fico chateado, lá isso fico: a “festa” do Halloween está aí para ficar. Entre os miúdos definitivamente já faz parte do calendário. Suspeito até que a minha filha pequena, orgulhosa, na terça-feira vai construir e trazer do colégio uma máscara “horrenda”. Comigo surtirá por certo todo o feito. É que eu fico (secretamente) horrorizado com estas invasões “barbaras” dos “S. Valentins”, das “bruxas” e quejandos. No restaurante aqui em baixo já anunciam uma ementa temática para a celebração. O “consumidor” integrou a nova “tradição”?
Experimente-se sondar numa escola do 2º ciclo os significados atribuídos às datas 31 de Outubro e do dia seguinte (dia de Todos os Santos)…
São os danos colaterais da implacável e liberalíssima globalização.
E qualquer dia ainda escrevo sobre a aberração do anafado Santa Claus que hoje, qual insaciável Narciso, abancou definitivamente nas palhinhas dos nossos presépios…

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Jingle

String of pearls

Anticomunismo primário

Creio que é assinada pelo nosso Pedro Correia a notícia publicada no DN desta semana que diz que o escritor Mário de Carvalho saiu do PCP no ano passado. Fico espantado não por ele ter saído, mas sim por ter esperado por 2005 para o fazer. Nunca li nada dele, mas quero acreditar que seja um bom escritor, embora agora tenha mais dúvidas. Será que é mais um daqueles medíocres promovidos pela esquerda bem pensante dos jornais? Porque, como se perguntava hoje Lobo Antunes, o melhor escritor do mundo, na entrevista à Judite de Sousa: "como é que alguém pode ainda ser comunista?"

quinta-feira, outubro 26, 2006

Sinais de Belém

A decisão do Presidente da República de requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitucionalidade e da legalidade da proposta de referendo sobre o aborto é mais que um pró-forma. Cavaco Silva comprometeu-se, ainda em campanha eleitoral, a convocar o referendo, se, uma vez em Belém, a Assembleida da República lhe fizesse chegar uma proposta da maioria nesse sentido. É o que fará, certamente. Para além do ofício dirigido ao presidente do TC, uma exigência legal e constitucional, Cavaco Silva há-de dar nos próximos tempos um sinal político, um sinal pessoal, um cunho. Como se sabe, em 1998 Cavaco Silva acabou por ver o seu nome associado a um movimento pelo "não", onde pontuavam outras figuras de relevo do PSD, do CDS/PP e muitos independentes. Muitos deles, coincidência ou não, estiveram com Cavaco nas eleições presidenciais do início deste ano.
Com a atitude hoje tornada pública, Cavaco revela um equilíbio entre o que é o cumprimento do dever institucional como PR e o cumprimento do que foi dito e prometido em campanha eleitoral (coisa rara hoje em dia). Só falta o cumprimento com o que são os seus princípios pessoais, íntimos e também, porque não dizê-lo, ideológicos. Aí, a decisão será três em um. Quem duvida que Cavaco Silva venha a dar sinais até à realização do referendo pode ler (ou reler) o discurso que o Presidente fez ontem na Fundação Calouste Gulbenkian, intitulado "Que valores para este tempo?" e que passou despercebido a muito boa gente.
Parece que não, mas está lá tudo. Quem quiser ler com mais atenção pode até dedicar-se a um bom exercício, que é verificar quantas vezes é referida a palavra vida no discurso. Fica aqui um extracto e o respectivo link: "De facto, sem um ideal de vida em comum e sem os valores que o realizam, não haveria laços que ligassem os homens no tempo. Um grupo sem valores comuns não seria uma sociedade, porque nele faltaria o sentido, a esperança, o futuro. Aí só haveria a força, para manter os homens juntos. E a força, concordarão comigo, não funda o laço social".
Numa altura em que José Sócrates tem tanto para explicar - entre introdução de portagens em algumas SCUT, aumento dos preços da electricidade, taxas moderadoras nos internamentos hospitalares, entre outras "trapalhadas" (como lhes chama a oposição) -, fica ainda demonstrado que o primeiro-ministro, enquanto tal ou como secretário-geral do PS, foi demasiado cedo para o terreno em defesa do "sim" no referendo à interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas de vida. Tão cedo que ainda mal o projecto de lei do referendo estava a ser aprovado no Parlamento já estava o chefe do Governo a defender o "sim" em colóquios, convenções e conferências. Muitas, ou todas, dirigidas ao consumo interno da preparação para o congresso socialista. Sem sequer ter o decoro de esperar pelos passos necessários para a tomada de decisão de Belém. Fosse essa a decisão final ou uma exigência intermédia, como a de hoje.

Troca de mimos

Primeiro foi a BMW.



A seguir respondeu a AUDI,



a Subaru,



e por fim a Bentley :)

A importância dos movimentos associativos

Em Portugal há pouco associativismo

Tertúlia literária (73)

- Passas-me esse livro, por favor?
- Qual? O vermelho da China?
- Não. O verde da Líbia

(Assobios, abaixo-assinados e lenços brancos para o mail do Corta-Fitas, por favor)

Carta aberta a Bernardino Soares (1)

Meu caro,
Lembrei-me de lhe escrever estas linhas ao saber as últimas notícias relacionadas com a Coreia do Norte. Não, não se trata de mais nenhum teste nuclear: depois do voto unânime no Conselho de Segurança da ONU em oposição total ao teste anterior - a que se juntou até a China, governada por um "partido irmão" do norte-coreano - o ditador de Pyongyang terá agora de pensar duas vezes antes de prosseguir na sua louca escalada rumo ao clube atómico em vez de providenciar condições para alimentar os habitantes do país, que não dispõem sequer das calorias necessárias ao sustento quotidiano.
Claro que há por lá muita falta de pão. Mas interessa-me agora sublinhar a falta de outro bem essencial: a liberdade. Refiro-me, caro Bernardino, à notícia divulgada esta semana sobre a ausência absoluta de liberdade de imprensa na República "Popular Democrática" da Coreia, característica que a coloca à cabeça de todos os países do mundo nesta matéria. Uma vergonhosa lista negra, divulgada pelos Repórteres Sem Fronteiras. Diz o mais recente relatório desta prestigiada organização internacional que a Coreia do camarada Kim Jong-Il forma, com a Eritreia e o Turquemenistão, o "trio infernal da liberdade de expressão". São três países onde jamais alguém como eu poderia dirigir-lhe umas linhas deste género: a blogosfera lá é uma miragem. Aliás, o próprio acesso à Internet também. São, de resto, países onde também você nada faria do que faz agora: um líder parlamentar, naquelas paragens, está condenado ao desemprego. Se há coisa que não existe em Pyongyang é parlamento.
E no entanto, Bernardino, aqui há uns anos você admitiu que a Coreia do Norte fosse uma democracia. Foi numa entrevista ao Diário de Notícias que deu imenso que falar e lhe valeu inúmeras críticas. (Não críticas internas, claro: o PCP é um partido onde todos estão sempre de acordo, obedecendo "à vontade do colectivo", como se diz no jargão comunista.) Confesso-lhe que dei algum desconto a essas desastrosas declarações, interpretando-as como um deslize provocado pela sua inexperiência, pela sua extrema juventude à época e pela necessidade de agradar à geração da clandestinidade, que tutelava o partido.

Carta aberta a Bernardino Soares (2)

Já passou muito tempo, você nunca proferiu a rectificação que se impunha. E no entanto, Bernardino, você não tem sequer a desculpa de pertencer ao núcleo dos velhos resistentes que sacrificaram conforto, bens materiais e às vezes até a própria vida no combate por ideais, podendo por isso ser mais facilmente desculpados quando faziam da liberdade um conceito meramente instrumental, para efeitos proclamatórios, e não um objectivo insubstituível de toda a acção política. Você nasceu com o 25 de Abril, você despontou na vida partidária quando já se tinha visto tudo, ouvido tudo, lido tudo. Não podia ignorar. Não pode ignorar os crimes cometidos em nome do "socialismo" na Coreia do Norte, esse país a que o seu partido acaba de se associar com uma declaração de solidariedade do Comité Central, textos laudatórios no Avante! e sobretudo com uma posição na Assembleia da República que nenhum outro partido subscreveu.
Você, Bernardino, é líder parlamentar, membro do Comité Central e da Comissão Política do PCP. Cargos não lhe faltam: nos últimos anos, ninguém tão jovem ascendeu tão rapidamente no partido. São, por isso, também maiores as suas responsabilidades. Isto leva-me a pedir-lhe uma palavra de demarcação do totalitário regime de Pyongyang, que nas palavras sábias de Mário de Carvalho - um dos mais prestigiados intelectuais comunistas, embora já sem cartão de militante - é "uma monarquia tirânica que só tem trazido desgraça e miséria à sua população". O escritor não concebe que "pessoas de esquerda" exprimam apoio a Kim Jong-il. Aqui para nós, eu também não.
Você ainda é de esquerda, meu caro? Se for, pronuncie-se, arriscando dizer o que outros não falam com receio de represálias internas. Lembre-se sempre: você é da geração do 25 de Abril. O que poderá haver em comum entre a Revolução dos Cravos e o tirano de Pyongyang que sonha com bombas atómicas enquanto condena o povo à fome?

Brejeirice


Pronto. Desculpem lá qualquer coisinha, mas não resisti.

A oposição e as trapalhadas do Governo

"Se o líder da oposição fosse outro, José Sócrates poderia estar metido em grandes sarilhos. Acontece que o Primeiro-Ministro tem um seguro de vida política chamado Luís Marques Mendes. Por mais que se esforce, justa ou injustamente, a verdade é que o presidente do PSD não é encarado pelo eleitorado como uma alternativa. Não é e parece-me que nunca será".
Paulo Gorjão, Bloguítica

Isto sim é gramática!

É uma ganda malha! O primeiro álbum de Ornette Coleman em dez anos e a sua primeira gravação ao vivo nas duas últimas décadas. Com a provecta idade de 76 e ainda com muito fôlego que sobra, Ornette (aqui também ao vivo mas em 1979) tocou na Alemanha no dia 14 de Outubro de 2005. O resultado foi este «Sound Grammar». Don't miss it. E se não gostam de jazz, aprendam a gostar.

Conversa de blog?

Mas que chatice! Pensou ela pondo um ar enfadado. E agora de que é que falo? Não sou nenhuma Karen Blixen, não levo uma vida errante, assim à primeira vista não me lembro de qualquer aventura, não tenho cão nem gato e histórias de faca e alguidar, só se as inventar. Doenças! Daquelas levezinhas. Há quem goste... mas uma clavícula partida e uma sinusite não entusiasmam ninguém. Não bastam já estes espirros tão inoportunos... Sempre há aquele clássico: a astrologia. Talvez tão clássico que já nem se use! De política? Temo fúrias reformistas. Uma praga. Viagens é sempre um bom tema. Sim e não. Não consigo sorrir perante a imagem de duas semanas em caminhadas na montanha, quedas de água e a cheirar florinhas. Restaurantes, comida e vinhos? Uma futilidade, argumento que serve bem para calar a falta de orçamento. E o melhor mesmo é não falar de música. Gostos não se discutem, mas dez minutos de música na viagem para lá e outros dez no regresso, é pouco. Livros: aí está um tema que me alegra, mas convém não arriscar. O perigo francófono está por todo o lado.
Deixa ver mais diferenças irreconciliáveis... futebol, claro, política nem pensar, cinema é melhor não arriscar. O melhor é ficar em casa. Afinal até tenho um blog.

5ª Feira

Fotog.

O que é que se passa, Mário Crespo?

Eu até gosto do Mário Crespo e acredito que ele tenta ser independente, apesar de, se a memória não me falha, ter andado há uns anos ligado ao PSR ou ao Bloco de Esquerda quando já tinha idade para ter juízo. Por isso, não percebo porque é que agora tem tantos membros do Governo a desfilarem no Jornal das Nove tendo apenas como contraditório um sorriso de compreensão. Num dia é o Correia de Campos e as taxas moderadoras, noutro o Mário Lino e as Scuts, hoje o seu secretário de Estado a tentar justificar aquilo que alguns jornalistas mais sérios já denunciaram sobre as falsidades de Sócrates na campanha eleitoral. Se Mário Crespo gosta tanto do jornalismo do 60 Minutes, porque é que não vai buscar as imagens de Sócrates a falar sobre Scuts, taxas na saúde ou impostos na campanha eleitoral e confronta os seus entrevistados com elas?

quarta-feira, outubro 25, 2006

Tertúlia literária (72)

- Como vamos de literatura erótica?
- Vamos mal. Já não distingo uma semibreve de uma colcheia.
- Mas isso não é sexo - é música!
- Vês como estou mal? Já nem distingo uma coisa da outra.

Como se diz corrupto em russo?

"O Presidente de Angola visita à Rússia entre 30 de Outubro e 1 de Novembro, a convite do homólogo russo, Vladimir Putin, para reforçar as relações de corrupção bilaterais, foi hoje anunciado em Luanda." Este parágrafo de abertura de um take da Lusa, distribuído às 20.35 de ontem, arrisca-se a ser a cacha jornalística do ano. Faço votos para que as "relações de corrupção bilaterais" sejam efectivamente reforçadas entre Luanda e Moscovo.

O prazer de rever bons filmes

Já vi a maioria dos filmes seleccionados por João Bénard da Costa para o interessante ciclo de cinema que a Fundação Gulbenkian programou para o seu Grande Auditório entre 4 de Novembro e 18 de de Fevereiro. Mas, para um cinéfilo, além do prazer de ver, existe sempre o prazer de rever. Irei assim rever com imenso prazer quatro filmes da minha vida: Esplendor na Relva, de Elia Kazan, um fabuloso melodrama com a sublime Natalie Wood (na foto, com Warren Beatty); Lilith, de Robert Rossen, que nos traz de volta a inesquecível Jean Seberg como protagonista de um amor impossível; A Desaparecida, de John Ford, talvez o melhor western de sempre; e Viagem a Itália, de Roberto Rossellini, candidato a melhor filme italiano de todos os tempos. Tenciono rever alguns outros, com destaque para Johnny Guitar (de Nicholas Ray), O Rio Sagrado (Jean Renoir) e Carta de uma Desconhecida (Max Ophuls). Mas aqueles quatro estão no topo da lista.

Ódios e paixões

Bénard da Costa, como é sabido, tem as suas paixões e os seus ódios cinematográficos, bem patentes nesta escolha. Em apenas 50 filmes seleccionados, percebe-se mal que tenha optado por duas obras de vários cineastas – Ford, Renoir, Dreyer, Fritz Lang e sobretudo Terrence Malick, que comparado com os restantes é claramente um realizador menor. Isto enquanto omitia nomes como Billy Wilder, Jacques Tati, Francis Ford Coppola e François Truffaut. Preferia que tivesse escolhido A Sede do Mal, o grande filme noir de Orson Welles, em vez d’O Mundo a Seus Pés, que já todos vimos e revimos. De Mankiewicz, A Condessa Descalça e Bruscamente, no Verão Passado são muito superiores ao Fantasma Apaixonado. Do musical, que não está representado, falta sem dúvida pelo menos o fabuloso Serenata à Chuva. Buñuel, um dos meus cineastas favoritos, fez muito melhor depois de L’Age d’Or. E Sei Por Onde Vou é um fraco representante da dupla Powell-Pressburger: Um Caso de Vida ou de Morte ou Quando os Sinos Dobram são filmes inegavelmente superiores. De todo inexplicável é a omissão de uma obra-prima como Lawrence da Arábia, de David Lean – outro cineasta ausente. Mas o que mais me intriga é a inclusão, num ciclo chamado “Como o Cinema Era Belo”, com o verbo propositadamente no pretérito, de filmes recentíssimos como Spider (de David Cronenberg), O Grande Peixe (de Tim Burton) e Novo Mundo (de Malick, sempre ele). Algo que não se adequa bem ao sortilégio do passado que o título prometia.

Maresia

O meu amigo Mendo Castro Henriques sugeriu-me este blogue, com cheiro a maresia. E eu recomendo o Atlântico Azul aqui aos nossos João Távora e Duarte Calvão, mas também a quem gostar de barcos, mar e dos tons azuis e brancos. Só não consegui perceber quem é, afinal, a Sailor Girl?..

Zhouzhuang's rain
In my culture rain is just rain.

terça-feira, outubro 24, 2006

Postais blogosféricos

1. Excelente a ideia do Rui Costa Pinto de ir escrevendo os seus textos no Mais Actual enquanto imagina as novas censuras a eliminar os trechos mais suculentos. Atenção: o regresso do famigerado lápis azul é uma ameaça muito mais real do que muitos supõem.
2. O Espírito de Xabregas fez-nos um elogio que nos deixou muito sensibilizados. Tanto mais que parte de um blogue que reconhece estar "muitas vezes nos antípodas" do que pensamos.
3. Welcome to Elsinore, um blogue que se distingue pela qualidade, anda há três anos "à escuta do sorriso dos pássaros". Parabéns, Carla.

Gostei de ler

1. O país das invejazinhas. De Carlos Abreu Amorim, no Blasfémias.
2. O PCP e os talibans. De Paulo Pedroso, no Canhoto.
3. 50 anos depois de Budapeste. De Rui Bebiano, no Passado/Presente.
4. Famous last words. De Luís M. Jorge, no Franco Atirador.
5. Pois, a culpa é sempre do outro! De Sérgio Almeida Correia, n' O Bacteriófago.

Por isso é que ele é quem é

"(...) é verdade que sou perseverante, que não dou por perdido nenhum assunto ou investigação até que o delito prescreva, e até mesmo depois, se pudesse, descobriria a verdade (...)"

Garzón, Baltasar, "Um mundo sem medo" , Ambar, 2006, pág.111

Solidários com a tirania

O PCP manifestou solidariedade ao decrépito regime comunista norte-coreano, tendo sido o único partido parlamentar que recusou condenar em São Bento a realização de um teste nuclear na mais feroz ditadura do planeta. A liberdade parece ser uma palavra vã na Soeiro Pereira Gomes sempre que está em causa um “partido-irmão”: mesmo que esse partido oprima, escravize e aterrorize o seu povo, lá está o PCP a transmitir-lhe apoio. Apetece-me perguntar: o que dirão desta absurda posição os militantes comunistas que amam genuinamente a liberdade? Em pleno início do século XXI, ainda terão receio de expressar o que pensam para não serem excomungados por delito de opinião no partido que noutros tempos gostava de se proclamar amante das “mais amplas liberdades”?

Mentirosos com sucesso

Há muito tempo que não lia uma entrevista tão estimulante. O filósofo americano David Livingstone Smith, autor do livro Why We Lie: The Evolutionary Roots of Deception and the Unconscious Mind (St. Martins Press, 2004), concedeu interessantíssimas declarações à revista brasileira Veja, garantindo nomeadamente: “Somos programados para enganar os outros desde os primórdios da humanidade. Seja para nos proteger, seja para levar vantagem. Quem mente com desenvoltura pode até sobressair entre os demais.” Citando uma investigação efectuada pelo psicólogo Robert Feldman, da Universidade de Massachusetts, Smith revela que “as pessoas contam três mentiras em cada dez minutos de conversa”. O caso mais flagrante, na sua opinião, é o dos políticos, que “mentem por profissão e continuam sendo ouvidos por milhares de pessoas.”
Outras opiniões de Livingstone Smith nesta matéria:
“Mente-se mais na política do que nos casamentos.”
“Bons mentirosos são mais populares e bem-sucedidos.”

“Os políticos são mentirosos profissionais. Mentem habilmente e têm consciência disso. Não estão preocupados em cumprir promessas. Mentem para se dar bem. Quando acreditam na própria mentira, o seu poder de persuasão torna-se infinitamente maior.”
“Acreditamos nas mentiras dos políticos porque é mais fácil e seguro para nos convencermos delas. Quando alguém diz com convicção que vai melhorar a sua vida, como não querer acreditar nisso?”
“Os políticos são brilhantes em distrair-nos com o que dizem. Aqueles que não conseguem mentir bem nunca chegam lá.”
Conseguiremos associar algum político português às frases aqui transcritas? Responda quem quiser.

As palavras dos outros

"Imaginem um mundo em que todos fossem verdadeiros uns com os outros. Seria o caos."
David Livingstone Smith, Veja (18 de Outubro)

Tertúlia literária (71)

- Que tal as Viagens na minha terra?
- Gostei muito. O problema são os transportes.

Tertúlia literária (70)

- E o Baptista-Bastos, que tal?
- Gosto muito. Dele e dos outros capitães de Abril.

Lisboa antiga

O Arquivo Municipal de Lisboa tem disponível on line um manancial fotográfico com milhares de fotografias da Lisboa antiga. Basta pesquisar aqui. Só da Avenida da Liberdade, escolhida em homenagem simultânea aos camaradas corta-fiteiros do DN e ao João Távora, podem encontrar-se 1370 imagens. A começar por esta que aqui podem ver, sem data e tirada ao lado Sul do então Passeio Público.

segunda-feira, outubro 23, 2006

O buraco na bandeira


Pacheco Pereira contesta a definição de "extrema direita" dada aos manifestantes que, em Budapeste, protestam contra o governo de Ferenc Gyurcsany. Concordo com a observação de Abrupto. É necessário explicar que não é a extrema-direita que está na rua, mas parte muito significativa do país. O Pedro, aqui no Corta-Fitas, tem um magnífico post sobre a revolução húngara de 1956 e peço aos leitores que também leiam com atenção aquele texto. O que tentarei fazer aqui é traçar uma tentativa de explicação da crise que está a rebentar nos países pós-comunistas do leste da Europa os quais, não podemos esquecê-lo, são nossos parceiros na União Europeia.
Superficialmente, os tumultos de Budapeste são um protesto contra o Governo. Mas penso que não são apenas isso. A sociedade húngara está profundamente dividida e a pagar os custos de não ter feito o seu ajuste de contas com o passado. Já escrevi isto aqui: os vencedores do antigo regime são os vencedores de hoje; os perdedores continuam perdedores.
Em 56, não existe apenas um elemento de levantamento nacional, mas parcialmente o conflito foi uma guerra civil. Seguiu-se um compromisso (a Hungria teve a mesma reacção depois da revolução fracassada de 1848-49, contra os austríacos, o que deu a monarquia dual austro-húngara) e essa fase de compromisso beneficiou muita gente. O regime comunista era um pouco mais aberto, muito corrupto e numerosas famílias tiveram amplos privilégios. Estes e os seus filhos foram os vencedores da "democracia". Ponho a palavra entre aspas porque é óbvio que a democracia húngara (tal como acontece com as democracias dos países pós-comunistas) tem uma qualidade deficiente. Não existe verdadeira liberdade de Imprensa e as instituições não impedem os abusos do poder. O parlamento é uma anedota. É um tema lateral, mas o país não resolveu o seu passado fascista, o anti-semitismo, o racismo em relação aos ciganos.
A história da "extrema-direita" serve os interesses deste grupo, que se apoderou do poder de forma imoral e que se recusa a ouvir o seu próprio povo, cuja indignação está a atingir os limites. Gyurcsany conta com o ocidente para manter o seu governo: se a "extrema-direita" é quem está na rua, então ele é o garante da legitimidade; outro mito que se tenta fazer passar é o de que a direita democrática (que perdeu as eleições de Abril por pouco, pois o primeiro-ministro mentiu à população) está a ser um instrumento da "extrema-direita". Ora, esta não tem qualquer expressão eleitoral e não conseguiu eleger um único deputado. Em resumo, não existe.
Conheço algumas histórias de 56. São histórias de pessoas derrotadas, as que sobreviveram. Elas são o buraco na bandeira. Já não existe a odiada foice e martelo para cortar, mas continua a existir aquele vazio na memória. Hoje, nas cerimónias oficiais, os derrotados ficaram de fora e os vencedores até da sua revolução se conseguiram apropriar. Os mesmos que lhe chamavam contra-revolução.

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Budapeste meio século depois

Há precisamente meio século, irrompia em Budapeste uma espontânea torrente de protestos, encabeçada por estudantes universitários, contra a integração do país no bloco comunista, controlado pela URSS. Os protestos, que logo mereceram ampla adesão a nível nacional, contaram com o apoio de muitos marxistas húngaros genuinamente patriotas - a começar por Imre Nagy, antigo dirigente do país, logo reabilitado por vontade popular. Durante cerca de duas semanas, o sonho da liberdade parecia enfim possível na Hungria esmagada havia 11 anos pela tropa de Estaline: proclamou-se o regime multipartidário, anunciaram-se eleições livres, dissolveu-se a temível polícia política, exigiu-se a retirada do país do Pacto de Varsóvia. A 4 de Novembro, esta vaga libertadora foi afogada em sangue pelos blindados soviéticos: três mil mortos e 15 mil feridos depois, a "pacificação" comunista voltava a reinar sobre um povo que teimara em não se vergar à tirania. Nagy, como tantos outros, acabaria executado às ordens de Moscovo. Até ao último momento, os húngaros aguardaram um auxílio ocidental que afinal nunca chegou em nome do "realismo" político. Na altura, um indignado Albert Camus escreveu estas linhas memoráveis: "Se a opinião mundial é demasiado débil ou egoísta para fazer justiça a um povo martirizado, espero que a resistência dure até que esse Estado contra-revolucionário se afunde sob o peso das suas mentiras e contradições."
A liberdade só chegaria em 1989. Mas o exemplo de dignidade semeado em 1956 pela revolta de Budapeste não foi esquecido.

Cem mil

Acabamos de ultrapassar a fasquia dos cem mil leitores: como se compreenderá, é uma razão de peso para nos sentirmos satisfeitos. Oito meses depois de cortada a primeira fita, recebemos em média 761 visitantes por dia. E contabilizámos já mais de 275 mil consultas aqui ao blogue. Números que só nos estimulam a fazer mais e melhor daqui para a frente.

E esta graçola?!

Um homem está a conduzir o seu carro, quando a certa altura percebe que se perdeu. Dá conta de outro homem que passa por perto, encosta ao passeio e chama-o:

- Desculpe, pode dar-me uma ajuda? Prometi a um amigo encontrar-me com ele às 14h, estou meia hora atrasado e não sei onde me encontro.
- Claro que o posso ajudar. O senhor encontra-se num automóvel, entre os 38 e os 39 graus de latitude norte e os 9 e 10 graus de longitude oeste, são 14 horas, 23 minutos e 42 segundos, hoje é quarta-feira e estão 27 graus centígrados.
- O senhor é informático?
- Exactamente! Como é que sabe?
- Porque tudo o que me disse está correcto do ponto de vista técnico, mas é inútil do ponto de vista prático. De facto, não sei o que fazer com a informação que me deu e continuo aqui perdido.
- Então o senhor deve ser um gestor, certo? - responde o informático
- Na realidade sou mesmo. Mas... como percebeu?
- Muito fácil: não sabe nem onde se encontra, nem para onde ir; fez uma promessa que não faz a menor ideia de como vai cumprir e agora espera que outro qualquer lhe resolva o problema. De facto, encontra-se exactamente na mesma situação em que estava antes de nos encontrarmos, mas agora, por um qualquer estranho motivo a culpa acaba por ser minha!

Piada recebida por e mail, de autoria incógnita.

Praga digital

Estão por todo o lado, às dezenas, em almoços, festas, jantares, baptizados, casamentos, sempre prontas a disparar centenas de vezes, press-delete, ri-te, esta não ficou bem, ainda tenho mais duzentas e cinquenta, dá-me o teu mail, esta está gira, mais esta para o screen saver...
Falo das máquinas de filmar/fotografar digitais.
Suponho que existam centenas e centenas de fotografias que não saem do disco rígido ou do CD. Raras vezes as vejo e peço encarecidamente para não as enviarem por mail. Creio que nunca as mandam revelar: as molduras estão cheias de fotografias anteriores à era digital. Então para quê tanto press-delete? Para os avós as verem agarrados aos écrans dos computadores? Os pais e tios babados andam com CD's na carteira? E a velha moldurinha? E o álbum de papel?
Tenho a certeza de que deve haver ficheiros electrónicos fantásticos em fabulosos discos rígidos. Mas não me ponham agarrada a écrans de portáteis que tenho sempre a desculpa de que vejo mal (verdade) ou que me esqueci dos óculos (mentira).

domingo, outubro 22, 2006

NÃO

Por uma vez, aqui no Corta-fitas afirmo: NÃO concordo com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.
Por uma questão de princípios, não consigo deixar de me chocar com a despenalização de um acto que, com mais ou menos atenuantes, considero criminoso. Mais, receio pela herança que vamos deixando aos nossos descendentes: um mundo em regressão civilizacional que vai cedendo paulatinamente ao relativismo individualista e ao novel moralismo hedonista.
Sendo estas as minhas convicções, jamais me demitirei dos meus direitos e obrigações de cidadania.
Mas não aqui no Corta-fitas. Pareceu-me do elementar bom senso não fazer deste meu privilegiado espaço de comunicação partilhado um campo de batalha de uma questão tão sensível.
Mas estarei aqui em frente, noutra praça pública, no blog do não, um projecto de um conjunto de cidadãos livres e conscientes - a maior parte bem conhecidos da blogosfera. Assim, convido desde já, adversários ou partidários, a visitarem-nos regularmente, para uma sã e democrática discussão onde esperamos prestar sempre homenagem à inteligência e à civilidade.

Ler ou não ler o OE

Afinal quem é que não leu o Orçamento? Medeiros Ferreira, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros socialista e ex-deputado, explica tudo no BC.

Chuva

Está um tempo...

Confiança traída

“Quanto às SCUT, deverão permanecer como vias sem portagem enquanto se mantiverem as condições que justificaram, em nome da coesão nacional e territorial, a sua implementação, quer no que se refere aos indicadores de desenvolvimento sócio-económico das regiões em causa, quer no que diz respeito às alternativas de oferta no sistema rodoviário.”

O texto transcrito no parágrafo acima - como se infere pelo estilo - não é meu. É um excerto do programa do actual Governo, apresentado a 21 de Março de 2005 à Assembleia da República. Dezanove meses depois, confortado com a maioria absoluta entretanto conquistada no Parlamento, o Executivo socialista viola uma das mais emblemáticas promessas feitas aos eleitores que nele confiaram.
Pode agora José Sócrates alegar o que quiser: não falta já por aí quem chame traição a isto. Com todas as letras. E quanto a coerência ficamos esclarecidos...

sábado, outubro 21, 2006

É favor apagar a luz

Chega ao fim a pior semana de vida do actual Governo. Sem que ninguém, até ao momento, tenha cessado funções. A começar no secretário de Estado adjunto da Indústria e Inovação, António Castro Guerra, que teve o "topete" (como diria o saudoso professor Freitas do Amaral) de culpar os consumidores pelo aumento de 15,7% das tarifas de electricidade para 2007, anunciado pela entidade reguladora do sector. Logo desautorizado pelo ministro das Finanças, que considerou "excessivo" este aumento, e depois pelo próprio ministro da Economia, que manteve a tradição de funcionar ao retardador, Castro Guerra continua em actividade, parecendo aguardar que seja o primeiro-ministro a passar-lhe guia de marcha, o que até é capaz de lhe valorizar o currículo. Na desautorizadíssima "entidade reguladora", ao que parece, também ainda não se registaram demissões. Garantido é que ninguém sairá da EDP. Não admira: em 2005, esta foi a empresa que apresentou mais lucros no País. O que não impedirá os portugueses de pagarem no próximo ano facturas bem mais pesadas de energia eléctrica - um acréscimo que oscilará entre os 6% e 8%, como já admitiu Manuel Pinho, com ar benevolente. A trapalhada é tanta que justifica o recurso a uma frase feita: o último a sair que apague a luz.

Assim vai a Pátria IV

1. Pode ler-se no tablóide, mas bem informado, Correio da Manhã que os "Ordenados de ministros sobem 6,1%" e que o "dinheiro previsto no Orçamento de 2007 para salários de governantes ultrapassa quatro vezes os aumentos da Função Pública". Estou ciente de que até ao fim do dia a informação será desmentida, enquadrada, explicada pela Central, até porque a mesma notícia, com honras de manchete, adianta que "Silva Pereira é quem conta com os maiores valores, 123 036 euros, subida de 112%". Aposto que os desmentidos, enquadramentos ou explicações serão dados na Gomes Teixeira, com aquele fundo azul eléctrico, muito credível, como quem quer parecer sério e convicto do que diz. Com certeza houve alguém que percebeu mal ou não leu bem o OE/2007. Uma deficiência da ou na comunicação, certamente.

2. O Público traz hoje um excelente trabalho sobre as gaffes governamentais dos últimos dias. Pela leitura do apanhado daquilo tudo, fico com a ideia de que foram mais que gaffes e que alguma coisa vai mal no reino socrático. Ministros que dizem que a crise acabou, secretários de Estado que anunciam aumentos e desdizem no dia seguinte, outros ministros que vêem deputados do partido do Governo criticarem iniciativas suas... Enfim, tudo deficiências na comunicação, certo?

No meio da avalanche

Nesta autêntica avalanche informativa que agora são os sábados, com jornais semanários, e mais revistas, jornais diários, e mais revistas, reparei que a Notícias Sábado traz uma reportagem muito interessante sobre um dos mitos urbanos do momento, mito esse que tinha passado despercebido a muito boa imprensa. Falo de um artigo da autoria de Vera Moura sobre uma máquina chamada "Bimby" e que tive a oportunidade de ver funcionar em casa de amigos. Céptico como sou, comecei por dizer que nada substitui o dedo humano, mas acabei impressionado, porque a "coisa" faz praticamente tudo o que uma boa cozinheira ou um mestre fazem, até porque vem acompanhado de um livrinho com mil e uma receitas.
Amigos meus que compraram a "coisa" disseram-me que os vendedores confidenciaram que não há bom hotel ou restaurante no mundo civilizado que não tenha uma "coisa" daquelas escondida na cozinha, até porque parece que não se trata de um robot, apenas de uma máquina de triturar, cozer, etc, que garante que não ultrapassam os tempos de cozedura ideais para os alimentos não perderem as suas qualidades naturais. Será que o nosso Duarte já tinha ouvido falar daquilo? Aconselho-te que leias ou que experimentes. Eu comi (e bebi) de tudo, naquele serão em casa de amigos: do gaspacho à caipirinha, do chilli ao gelado. Pouco trendy, eu sei, mas genuíno. E tudo na tal "Bimby". Parecia um bimbo, parvo com as modernices de hoje em dia. Parte má: acho que a "coisa" custa uns 200 contos em moeda antiga. Assim até eu, que me gabo de saber fazer uns bifes e uns ovos, passava por bom cozinheiro...

E estas duas?

"Sou o rei da síntese."
José Rodrigues dos Santos, revista Tabu, Sol

"No FC Porto quem compra e vende é o presidente."
Jorge Costa, Correio da Manhã

Mais frases do "Sol" em tempo de chuva

O Francisco já aqui deixou a melhor frase do dia, debitada por Agustina Bessa-Luís numa notável entrevista concedida a José Eduardo Fialho Gouveia, no Sol.
Aproveito para transcrever algumas outras. No caso da última, não tenho a certeza se o ministro das Finanças estará a referir-se ao conjunto dos portugueses ou apenas aos membros do Governo, atendendo à manchete de hoje do Correio da Manhã, que fez as contas e chegou à conclusão de que os ordenados dos ministros aumentarão 6,1% em 2007. Razão tinha Manuel Pinho ao dizer que "a crise acabou". No caso deles, ministros, não duvido de que o titular da Economia acertou em cheio.

"Os homens são mais sensíveis e sinceros. A mulher sempre teve e continua a ter uma vida doméstica que a limita. Um cão preso torna-se feroz."
Agustina Bessa-Luís
"O conceito de fuck-buddy assenta numa base teórica aparentemente bastante simples: o máximo do entendimento com o mínimo do envolvimento. As duas pessoas sabem que estão ali para praticar juntas o acto sexual e que tudo o que saia fora é quase criminoso."
Margarida Rebelo Pinto
"Acabe de vez com a beijaroquice na vida profissional. (...) Avance de mão estendida a torto e a direito, sem dar oportunidade a mais nada."
Assunção Cabral
"As projecções que temos não apontam para uma deterioração das condições de vida dos portugueses."
Teixeira dos Santos

Postais blogosféricos

1. Depois de uma longa pausa "sabática", regressou agora à actividade o Cão com Pulgas, um blogue que sempre teve admiradores no Corta-Fitas e que nunca abandonou a minha lista de favoritos.
2. Obrigado ao Combustões pela simpática referência à minha Tertúlia Literária. Que vai prosseguir, pelo menos até chegar aos cem.
3. E por falar em Tertúlia Literária: é um prazer partilhar esta rubrica consigo, caríssima Miss Pearls. Assim chegaremos aos duzentos!
4. Letras e Manias: um blogue que acabo de descobrir. E que passarei a visitar com frequência.

Tertúlia literária (69)

- Viste a Conta-Corrente?
- Talvez na caixa de correio.

Mais chuva

Post dedicado a todos os que gostam de fotografias da chuva nas vidraças e de imagens de tabuleiros de xadrez.
Um cigarro?


Fotog.

A frase

"Sócrates é um homem de província, o que é sempre uma garantia."
Agustina Bessa-Luís, Sol

sexta-feira, outubro 20, 2006

Grandes contos (7): Vergílio Ferreira

Há em Portugal uma espécie de pudor atávico em praticar a arte do conto - característica que felizmente tem vindo a dissipar-se nas duas últimas décadas, com nomes que vão de Mário de Carvalho a Rui Zink. Entendido como género "menor" pela generalidade dos exegetas lusos de matriz universitária, o conto foi sendo considerado uma espécie de parente pobre da nossa literatura. Quem o cultivava quase tinha de pedir licença prévia para o efeito.
Alguns dos mais estimulantes autores portugueses do século XX, como Vergílio Ferreira, José Rodrigues Miguéis e José Cardoso Pires, dedicaram uma atenção marginal ao conto, sem repararem por vezes que nessas breves páginas se concentrava do melhor da sua escrita. Os notáveis Contos de Vergílio Ferreira, reunidos em volume em 1976 (Edição Bertrand), são bem a prova disso. Trata-se do espelho perfeito da obra de um romancista que começou integrado na corrente neo-realista e depois se tornou uma das vozes mais originais do nosso idioma.
Contos reúne ficções originalmente repartidas por dois títulos: A Face Sangrenta (1953) e Apenas Homens (1972). É um Vergílio Ferreira em transição da escola realista para a temática existencial que viria a coroar a fase "madura" da sua obra, este que emerge num dos mais tensos e vibrantes contos que conheço. Chama-se O Encontro e arranca deste modo tão sugestivo: "Agora a serra descia a toda a pressa para a aldeia. Depois, tranquila, alastrava devagar num grande vale, para subir ainda, suavemente, lá ao longe. Quebrado de cansaço e quase de surpresa, o engenheiro parou um instante no alto de um penhasco, soprando o fumo largo do cigarro, olhando em roda o silêncio da tarde. Um grande vento de solidão e montanha embatia-lhe no peito, inchando-lhe a camisa desapertada, penetrando-o de grandeza e de um incerto pavor."
Frases magníficas, num português sem rugas, mas que nos introduzem afinal num mundo primitivo, com as suas anacrónicas noções de honra e os seus insólitos rituais de inspiração bíblica. Vergílio Ferreira, escrevendo no Portugal de Salazar, descreve um país ancorado nos confins dos tempos e que permaneceu inalterado quase até aos nossos dias. Um crítico marxista falaria em luta de classes nesta história do engenheiro anónimo, oriundo de Lisboa, que se confronta com os códigos vigentes numa remota aldeia do interior. Na longa cena final, redigida quase com pulsão cinematográfica, de súbito "uma submissão milenária esmagou os dois irmãos" sedentos de vingança.
Mas esta é uma narrativa que não se deixa aprisionar por esquematismos de ordem estética ou ideológica: O Encontro merece lugar destacado em qualquer recolha dos melhores contos portugueses. E no entanto o autor, num prefácio escrito para a edição de 1976, quase pediu desculpa aos leitores pelo atrevimento: "Escrever contos foi-me sempre uma actividade marginal e eles relevam assim um pouco da desocupação e do ludismo." Não havia necessidade. O Vergílio-Ferreira-contista nada fica a dever ao Vergílio Ferreira-romancista: em qualquer dos casos é sempre um vulto maior das nossas letras.

Serviço público

A 17ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (FIBDA) abre hoje, 20 de Outubro.
Até ao dia 5 de Novembro, com sol ou chuva, frio ou calor, é um programa obrigatório para todos. Para os pais, os filhos, todos juntos, a sós ou em grupo, se encontrarem com uma arte e artistas “maiores”. No Fórum Luís de Camões, a cem metros da estação do Metro Amadora-Este na Brandoa. A não perder.

Sexta-feira


Isabeli Fontana.