Miguel, o absolutista (I)
Quando os computadores substituíram as velhas máquinas de escrever, Miguel Sousa Tavares redigiu uma apaixonada ode em prosa em louvor do vetusto instrumento que acabara de se tornar peça de museu, proclamando-se inimigo da informática. Passou-lhe então depressa o antigo amor. Mas ei-lo agora atacado por uma nova crise de passadismo, apregoando o seu ódio à blogosfera. Num artigo saído no último Expresso, a propósito de um cobarde ataque de que foi alvo, e que o deixou compreensivelmente agastado, vem agora, com o estilo a que já nos habituou, disparar mais rápido do que a própria sombra. Dizendo coisas fantásticas como esta: “Excepção feita ao correio electrónico e à consulta de sites informativos, a Internet interessa-me zero.” As “excepções” que menciona já são suficientemente relevantes para quem diz nada querer saber da Internet. Mas MST confessa ainda a sua alergia ao “universo dos chats e dos blogues”, por lhe parecer uma “preocupante manifestação de um processo de dessocialização e de sedentarização das solidões para que o mundo de hoje parece caminhar”. De novo o cenário apocalíptico, tão frequente nas reflexões deste comentador e de alguns outros que há décadas exprimem opiniões em regime de virtual monopólio na imprensa portuguesa, onde rende sempre mais o cenário que for pintado em tons bem negros.