Ódios e paixões
Bénard da Costa, como é sabido, tem as suas paixões e os seus ódios cinematográficos, bem patentes nesta escolha. Em apenas 50 filmes seleccionados, percebe-se mal que tenha optado por duas obras de vários cineastas – Ford, Renoir, Dreyer, Fritz Lang e sobretudo Terrence Malick, que comparado com os restantes é claramente um realizador menor. Isto enquanto omitia nomes como Billy Wilder, Jacques Tati, Francis Ford Coppola e François Truffaut. Preferia que tivesse escolhido A Sede do Mal, o grande filme noir de Orson Welles, em vez d’O Mundo a Seus Pés, que já todos vimos e revimos. De Mankiewicz, A Condessa Descalça e Bruscamente, no Verão Passado são muito superiores ao Fantasma Apaixonado. Do musical, que não está representado, falta sem dúvida pelo menos o fabuloso Serenata à Chuva. Buñuel, um dos meus cineastas favoritos, fez muito melhor depois de L’Age d’Or. E Sei Por Onde Vou é um fraco representante da dupla Powell-Pressburger: Um Caso de Vida ou de Morte ou Quando os Sinos Dobram são filmes inegavelmente superiores. De todo inexplicável é a omissão de uma obra-prima como Lawrence da Arábia, de David Lean – outro cineasta ausente. Mas o que mais me intriga é a inclusão, num ciclo chamado “Como o Cinema Era Belo”, com o verbo propositadamente no pretérito, de filmes recentíssimos como Spider (de David Cronenberg), O Grande Peixe (de Tim Burton) e Novo Mundo (de Malick, sempre ele). Algo que não se adequa bem ao sortilégio do passado que o título prometia.