Robert Kagan em Lisboa
Há dois dias voltámos a ouvir defender a tese de que no mundo se trava fundamentalmente uma batalha entre liberalismo e despotismo. O norte-americano Robert Kagan esteve em Lisboa para proferir uma conferência em torno do tema "O Fim da História" defendendo que o liberalismo não triunfou no nosso tempo, por isso "temos de nos armar belicamente e diplomaticamente e precisamos de estadistas dos dois lados do Atlântico". A advertência, que visa os europeus, vem confirmar o pensamento que tem vindo a desenvolver de que o liberalismo ocidental, com todos os seus valores, está em perigo. "Ao contrário do que se pensava em 1990, sabemos hoje que a Rússia e a China não seguiram o caminho do liberalismo político, mas os seus próprios modelos. O liberalismo ocidental não foi quem necessariamente triunfou no nosso tempo" (o optimismo de Fukuyama deu lugar ao pessimismo de Huntington). Segundo Kagan, é na necessidade bélica (ou na guerra como necessidade) que "reside a mais importante diferença filosófica entre europeus e norte-americanos". E não é por um conjunto de ideólogos liberais-conservadores estarem na retaguarda das decisões militares da actual administração norte-americana. É uma diferença que "não se elimina consoante os protagonistas de um ou do outro lado do Atlântico, não depende de quem é o Presidente dos Estados Unidos ou da França. Existirá com quem quer que seja o sucessor de George W. Bush, porque os Estados Unidos têm uma sensibilidade distinta dos europeus em relação ao uso da força". Ora, se há assim uma diferença tão grande, continuamos sem saber onde estará o entendimento. Já agora, é curioso que esta tese tenha sido sublinhada na conferência "Que Valores para Este Tempo" que decorreu desde quarta-feira até hoje na Gulbenkian.