Budapeste meio século depois
Há precisamente meio século, irrompia em Budapeste uma espontânea torrente de protestos, encabeçada por estudantes universitários, contra a integração do país no bloco comunista, controlado pela URSS. Os protestos, que logo mereceram ampla adesão a nível nacional, contaram com o apoio de muitos marxistas húngaros genuinamente patriotas - a começar por Imre Nagy, antigo dirigente do país, logo reabilitado por vontade popular. Durante cerca de duas semanas, o sonho da liberdade parecia enfim possível na Hungria esmagada havia 11 anos pela tropa de Estaline: proclamou-se o regime multipartidário, anunciaram-se eleições livres, dissolveu-se a temível polícia política, exigiu-se a retirada do país do Pacto de Varsóvia. A 4 de Novembro, esta vaga libertadora foi afogada em sangue pelos blindados soviéticos: três mil mortos e 15 mil feridos depois, a "pacificação" comunista voltava a reinar sobre um povo que teimara em não se vergar à tirania. Nagy, como tantos outros, acabaria executado às ordens de Moscovo. Até ao último momento, os húngaros aguardaram um auxílio ocidental que afinal nunca chegou em nome do "realismo" político. Na altura, um indignado Albert Camus escreveu estas linhas memoráveis: "Se a opinião mundial é demasiado débil ou egoísta para fazer justiça a um povo martirizado, espero que a resistência dure até que esse Estado contra-revolucionário se afunde sob o peso das suas mentiras e contradições."
A liberdade só chegaria em 1989. Mas o exemplo de dignidade semeado em 1956 pela revolta de Budapeste não foi esquecido.