Só em Portugal
Benfica-Porto na TV. O País parou.
Das fotos de actores e cantores e futebolistas e quejandos que elas reproduzem com irritante insistência nos blogues. Também não gosto que haja apenas homens aqui no Corta-Fitas (desculpem lá, parceiros, mas é mesmo assim).
De ler blogues feitos por mulheres. E de blogues em que as mulheres marcam presença. Gosto muito da linguagem feminina na blogosfera. Gosto do que elas escrevem e da forma como elas escrevem. Mesmo quando não estou de acordo. Gosto da Miss Pearls, do Circo Voador, da Senhora Só, da Rititi, dos Tristes Tópicos. Gosto dos textos da Rita Tavares no Táxi, apesar de ser benfiquista. E da prosa da Joana Amaral Dias nos Bichos Carpinteiros, apesar de ser bloquista. E do que escreve a Bárbara Baldaia no Insubmisso. E a Sofia Vieira na Controversa Maresia. Porque sim.
P. – Olá, Manuel. Já recuperou da campanha?
R. – Quero falar e não posso,
Que a garganta está cansada.
Estou exausto até ao osso
De tanto pó no pescoço,
De tanto povo na estrada.
P. – Que balanço faz das eleições?
R. – Foi fatigante a campanha,
Onde andei com o meu filho.
Lembrei o Torga e o Zenha.
Mas hoje ninguém m’apanha
Sem o dedo no gatilho.
P. – Quer dizer que já retomou os seus hobbies?
R. – A caça pr’a mim é tudo,
Também a pesca me agrada.
Meu soneto é uma espingarda
Apontada ao cabeçudo
Que me quis tornar em nada.
P. – O Mário roeu-lhe a corda...
R. – Mas ri melhor quem por fim
Conquista as graças do povo.
É bestial estar assim:
Tanta cruz no boletim
Fez-me até sentir mais novo.
P. – Planos para o futuro?
R. – E agora, Manuel?
É tempo de Parlamento.
Tempo de pena e papel,
Tempo de seda e pastel.
Vamos curtir o momento!
Desculpabilizar. Quando um governante justifica o estado calamitoso do País pela acção nefasta do seu antecessor, que por sua vez já apontara o mesmo a quem o antecedera. Ao jeito do queixinhas da escola primária: "Não fui eu, foi aquele menino!" Felizmente a culpa não morre solteira: afinal quem lixou tudo foi D. Afonso Henriques.
Compaginar. Assegurar a coexistência do que há de pior e o que há de muito mau num partido, em nome de "superiores interesses" que ninguém consegue descortinar, só para contentar um conjunto de notáveis nulidades da tribo - do Zé Pascácio ao Conselheiro Acácio.
Já repararam? Ultimamente têm aparecido várias peças jornalísticas em defesa (discreta ou aberta) da energia nuclear em Portugal. Este súbito entusiasmo dever-se-á aos lindos olhos de Patrick Monteiro de Barros?
- O Holocausto nunca existiu!
- Infelizmente o mesmo não se pode dizer da sua mãe.
Coitado, anda abatido. A mulher enfeitou-lhe a cúpula com um par de minaretes.
"Não seria leitor do 24 Horas."
(Pedro Tadeu, director do 24 Horas, em entrevista a O Independente de 24 de Fevereiro)
Nada melhor do que um bom blogue especializado em restaurantes para nos abrir o apetite. É o caso de Ponto Come, que promete prestar serviço público nesta área. Bem-vindos à blogosfera, companheiros!
"Era um dia claro e frio de Abril, nos relógios batiam as treze."
(Frase de abertura do romance 1984, de George Orwell)
"O autor destas linhas não rouba, não mente, não encobre, não faz chantagens, não mendiga nem espera. O seu único estatuto é o de homem livre e, sem dúvida que, entre alguns outros recursos, um blogue é felizmente hoje um recurso para um homem livre"escreve o Carlos Albino em editorial das suas Notas Verbais. Apetece perguntar: afinal quem rouba e quem mente?
Isso que trazes aí é uma edição de bolso dos Versículos Satânicos ou estás só contente por me veres?
- A-tchim!
- Mau, mau. Não me digas que estás com a gripe das aves.
- Se calhar estou mesmo. Ontem comi arroz de pato...
- Não me digas. Se calhar por isso é que tenho esta terrível dor de cabeça. Ontem comi galinha de cabidela.
Debate mensal na Assembleia da República com o primeiro-ministro. José Sócrates, no calor da discussão, utiliza dezasseis vezes a expressão "por amor de Deus". Facto obviamente censurável num Estado laico como Portugal. Mais que isso: trata-se de uma flagrante inconstitucionalidade. Aguarda-se a todo o momento a habitual reacção indignada da imprensa de referência.
- Pareces uma odalisca. Era capaz de voar contigo para Samarcanda.
- Obrigadinha. Mas prefiro que me faças voar para Honolulu.
A melhor manchete da imprensa portuguesa em Janeiro: "Cavaco Alegre" (Jornal de Negócios, 23 de Janeiro de 2006). Parabéns, camarada Sérgio Figueiredo.
"Não foi Marx que mudou a face do mundo. Foi o mundo que mudou a face de Marx." (Nelson Rodrigues, O Óbvio Ululante)
"Lamentamos os confrontos religiosos. Considero que qualquer provocação nesta esfera é inadmissível. Antes de publicar ou desenhar algo, há que pensar cem vezes."
(Presidente russo, Vladimir Putine, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo)
Obstacularizar. Quando, por efeito de diversas causas, um político fica incapaz de obrar.
Garcia Pereira: Mais vale só que mal acompanhado.
Francisco Louçã: Cresce e aparece.
Jerónimo de Sousa: Mais vale um pássaro na mão do que dois pássaros a voar.
Mário Soares: Quem tudo quer tudo perde.
Manuel Alegre: Devagar se vai ao longe.
Cavaco Silva: Ri melhor quem ri no fim.
- Chefe, já leu? Notícia chata para o nosso chefe máximo hoje neste jornal.
- Eh pá, tens razão. Mas vais ver: ele não tarda a ordenar uma rusga ao pasquim. Estes jornalistas hão-de aprender que quem manda neles somos nós!
Segundo rezam as crónicas, e para manter a tradição que ele próprio inaugurou em 1996, Jorge Sampaio chorou em Timor. Devia antes chorar pelo estado calamitoso em que deixa a Justiça, dez anos depois de ter tomado posse. A mais recente ofensiva da Procuradoria-Geral da República contra o 24 Horas ("de legalidade duvidosa", como bem disse Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo), na clara tentativa de intimidar o jornal, e todos os jornais, devia envergonhar cada agente da justiça portuguesa. A começar pelo chamado "Supremo Magistrado" da Nação.
"Contudo, não pudera fazer o que teria feito com mais vontade: dar a Kullych dois estalos sonoros nas suas faces pálidas e redondas."
(Última frase do mesmo romance. Edição: Guimarães. Tradução: João Costa e Delfim de Brito)
"Alguém deve ter caluniado Josef K, porque foi preso uma manhã, sem que ele houvesse feito alguma coisa mal."
(Frase de abertura do romance O Processo, de Franz Kafka)
Ainda o debate sobre as ameaças à liberdade de informação e a necessidade de haver uma Ordem dos Jornalistas: leia-se com atenção o artigo de Mário Bettencourt Resendes hoje publicado no DN.
Consensualizar. Acto político. Ocorre quando um governante vê medrar as suas propostas junto da oposição. E vice-versa.
Conceptualização. Momento em que uma ideia começa a medrar na mente de um político.
- Meu caro, o que mais gostou em Brokeback Mountain?
- Da profusão de picos nevados que enchiam a tela numa descarga semiótica. Autêntica simbologia fálica, prenhe de significado. Direi mesmo mais: epistemologia gay, correspondendo aos genuínos sinais do nosso tempo.
- Cinco estrelas?
- Não. Bola preta. Muito aquém das expectativas, caríssimo. Um final demasiado convencional, quase lacrimejante, sem vibração. Ficaram por concretizar aquelas potencialidades abertas pela vastidão de cumes cheios de neve. Só lhe digo: se toda aquela imensa energia fálica explodisse no ecrã, estaríamos perante um novo Metrópolis, quiçá mesmo perante um novo Potempkine. Assim ficou uma xaropada, tipo Música no Coração. Meu Deus, tanta potência desperdiçada!
- Dou-lhe razão. E os pastéis de massa tenra que nunca mais chegam... Esta conversa abriu-me imenso o apetite, vá-se lá saber porquê.
O João Pedro, na Glória Fácil, concede: não dirá que não à Ordem dos Jornalistas desde que ele próprio não seja forçado a aderir. Até pode ser, mas tenho pena: já o imaginava como candidato a bastonário.
Paulo Baldaia, que tem desenvolvido no Insubmisso bons argumentos a favor da Ordem dos Jornalistas, antecipa já nomes de prestigiados profissionais da informação que poderiam liderar este projecto. Vicente Jorge Silva, por exemplo. Ou Judite Sousa. Acho muito bem. E adianto outros: Baptista-Bastos, Manuel António Pina, Adelino Gomes, José Pedro Castanheira, Joaquim Furtado, José Manuel Barata-Feyo, Joaquim Vieira, Francisco Sarsfield Cabral, Jorge Wemans, Graça Franco, Cândida Pinto, João Paulo Guerra, Ferreira Fernandes, Miguel Sousa Tavares, Mário Bettencourt Resendes, Carlos Andrade, Fernando Alves, Nicolau Santos. Qualquer deles - estou certo disso - seria um bom presidente da Ordem dos Jornalistas. Um organismo destinado a regular o acesso à profissão, zelar pelo rigoroso cumprimento das normas deontológicas, promover acções de formação e reforçar o peso institucional dos jornalistas no diálogo com os poderes legislativo, executivo e judicial. Percebo mal que alguns jornalistas, como o meu amigo João Fernandes, persistam em ver equívocos numa proposta como esta, que dificilmente poderia ser mais clara.
Eu vi, ninguém me contou. No verso de uma daquelas medalhas douradas, ou contas, que integram o colar de uma das muitas comendas que têm sido distribuídas pela presidência da república portuguesa, vem gravado em letras de ouro : "Dinisa, Lda Condecorações, Tel. 219 339 353, Fax. 219 344 122".
- Que canseira! Já corri Seca e Meca...
- Andaste de Herodes para Pilatos, queres tu dizer.
Andar de metropolitano, por estes dias, pode ser muito instrutivo. Estava eu há dias na estação do Campo Grande quando escuto uma voz num altifalante, anunciando (deduzi pelo contexto) uma capa de uma revista feminina: "Fernanda Serrano confessa não ter tempo para pensar em sexo." Não sei porquê, veio-me logo à memória aquela frase de Nelson Rodrigues: "Se cada um conhecesse a intimidade sexual dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém." Admito: entrei no metro preocupado.
- Já foste ver o western gay?
- Já.
- E então?
- Tinha demasiadas ovelhas para o meu gosto. Se há coisa que eu detesto é ensopado de borrego.
"A gripe das aves está cada vez mais perto", revela a SIC, invulgarmente ansiosa. Aguardam-se os primeiros espirros em Portugal.
"Tenham na alma a chama imensa" (Manchete garrafal do jornal A Águia, perdão, do jornal A Bola)
Sobre a polémica em torno de uma Ordem dos Jornalistas, revejo-me num texto do João Paulo Meneses, impresso no imprescindível Blogouve-se. Chama-se a isto acertar na mouche.
Aplauso incondicional ao artigo de António Barreto no Público de domingo. A operação policial contra o 24 Horas, diz o comentador, "é talvez, em 20 ou 30 anos, o mais violento ataque contra a liberdade de expressão e o direito à informação, sem falar nos direitos profissionais dos jornalistas". Considerando "confrangedor" o silêncio do ainda Presidente da República, Barreto acentua: "Seria bom que [os dirigentes políticos] percebessem que os direitos dos jornalistas são instrumentais, isto é, garantem os direitos dos cidadãos e a liberdade de expressão e informação".
Só Souto Moura parece não dar por isso...
Sou leitor da revista Atlântico desde o primeiro número e continuarei a ser com a nova direcção. Comecei agora a ler a óptima edição de Fevereiro, mais atenta à nossa actualidade do que as anteriores, e gostei muito do artigo de Rui Ramos, intitulado "Cavaco visto pela direita", que, como é habitual do autor, nos faz pensar. Apesar de não concordar com tudo o que vem lá, cito uma parte que me interessou bastante. Diz Rui Ramos. "O caminho de Cavaco Silva deveria ser o de restaurar a presidência da república como 'poder neutro' (para citar Benjamin Constant), que é a natureza que convém à instituição, e que os últimos mandatos de Eanes, Soares e Sampaio comprometeram".
É claro que eu como monárquico acho que o que "convém" à instituição é extinguir-se e que é impossível, com ou sem Cavaco (em quem votei), ser um "poder neutro". Além de nunca ter lido Benjamin Constant e de só conseguir fazer análises políticas em registo de conversa de café, o único ao meu alcance e aquele que mais se adequa à blogosfera, acho que Rui Ramos tocou no ponto essencial do que eu escrevi no post "República triste".
Na mesma edição, João Pereira Coutinho começa o seu artigo com a seguinte frase. "As recentes presidenciais transformaram-me num monárquico". Julgo que ele não está a brincar e compreendo-o bem. A mim, quem me transformou num monárquico foi Mário Soares no seu segundo mandato.
Não percebo bem estes protestos todos em relação à Irmã Lúcia. O que é que espera quem fica um domingo inteiro metido em casa a ver televisão?
E não se diga que os jornalistas não podem constituir-se em Ordem por não trabalharem como profissionais liberais. Que eu saiba, a grande maioria dos médicos e dos advogados (para não falar dos psicólogos ou dos enfermeiros, que também têm uma ordem profissional) trabalha em regime de assalariamento, o que não invalida a sua inscrição na respectiva Ordem. Ser ou não ser profissional liberal é uma falsa questão. De resto, Ordem e SJ têm campos de acção complementares: há espaço para ambos nas respectivas esferas de intervenção. E por hoje tenho dito.
Finalmente, há a considerar que só uma ordem profissional, devidamente credenciada para esse efeito pela Assembleia da República, permite a efectiva representação dos jornalistas, nomeadamente junto do poder político. Um sindicato deve concentrar-se em exclusivo na defesa dos interesses socio-profissionais dos seus associados. É uma tarefa importante e na qual desempenha um papel insubstituível. Mas que não pode nem deve confundir-se com outras missões.
A Ordem dos Jornalistas (OJ) terá por missão específica, ela sim, analisar o desempenho deontológico dos jornalistas atribuindo sanções efectivas aos prevaricadores (e não as platónicas "sanções morais" hoje existentes), chegando ao limite de lhes revogar as carteiras profissionais. Outra missão específica da OJ: a regulação do acesso à profissão segundo critérios de grande rigor. Há hoje cerca de 11 mil titulares da carteira profissional de jornalista. Alguém acredita que este número corresponda ao número exacto de jornalistas em actividade? A bagunça actual tem de acabar também neste domínio. E só a Ordem pode pôr termo a ela.
Apeteceu-me reagir, logo no domingo, à gigantesca operação de propaganda da Igreja Católica montada nas estações privadas SIC e TVI e na pública RTP, a tal do serviço público. Pensei melhor e aguardei 24 horas, esperando que os vários batalhões do Sétimo de Cavalaria da blogosfera, tão prontos a esmagar os sarracenos com duas tecladelas apenas, viessem reivindicar a herança das Luzes ocidentais. Nada. Ninguém se sentiu chocado pelas horas e horas de transmissão directa de uma cerimónia de uma religião organizada. Não ouvi um pio blogosférico nem sequer uma nota - irónica ou indignada - sobre a atitude genuflectória, os olhos em alvo e a pose seráfica de tantos jornalistas encarregados da 'cobertura' nas rádios, televisões ou jornais. Escusam, pois, de vir incomodar a audiência com uma pretensa irreverência de salão. Pobre blogalização!
P.S. : Por ser verdade e digno de realce, destaquem-se as honrosas excepções do costume: José Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente. Saravah!
O que acaba de acontecer na Lusa demonstra bem por que motivo as questões da deontologia profissional dos jornalistas devem estar fora da alçada do sindicato. Ao decidir como decidiu, a favor da Direcção de Informação e contra três jornalistas da agência noticiosa, aliás sem nenhum motivo sólido a alicerçar tal posição, o Conselho Deontológico (CD) do sindicato coloca-se a si próprio numa posição insustentável. Em última análise, uma entidade patronal pode despedir jornalistas com o beneplácito do sindicato, por interposto CD! Esta duplicidade tem de acabar. As questões do foro deontológico devem sair da alçada sindical, passando a ser dirimidas por uma ordem profissional, que terá como missão prioritária a elaboração de um código deontológico realmente digno desse nome. É o que já sucede noutras profissões sujeitas a regras deontológicas específicas, como a advocacia ou a medicina.
No domingo, em frente da televisão, dando a volta aos canais portugueses, trinquei um pensativo chocolate. murmurando, como já ensinava o engenheiro: "Todas as religiões do mundo não ensinam mais do que a confeitaria."
PS : Por causa das dúvidas aqui se esclarece que o supracitado engenheiro se chamava Álvaro de Campos.
"Desta arte Mouro atónito e torvado,
Toma sem tento as armas mui depressa;
Não foge, mas espera confiado,
E o ginete belígero arremessa.
O Português o encontra, denodado,
Pelos peitos as lanças lhe atravessa;
Uns caem meio mortos, e outros vão
A ajuda convocando do Alcorão."
Camões (Os Lusíadas, III, 50)
- És mais paralítico do que o Mar Morto.
- E tu és mais seca que o deserto do Sinai.
- O guarda-redes deixou entrar mais um frango.
- Agora percebo porque é que a equipa inteira parece estar a ser vítima da gripe das aves.
Governo iraniano denuncia o facto de Diogo Freitas do Amaral, ministro português dos Negócios Estrangeiros, ter sido o autor de uma biografia apologética do rei mata-mouros D. Afonso Henriques. Embaixador em Lisboa foi convocado de urgência a Teerão como forma de protesto.
"Manuel escutava pela primeira vez a voz do que é mais grave que o sangue dos homens, mais inquietante do que a sua presença na terra: a infinita possibilidade do seu destino. Escutava nele essa presença misturada ao rumor dos regatos e ao passo dos prisioneiros, permanente e profundo como as pancadas do seu coração."
(Última frase do mesmo romance. Edição: Livros do Brasil. Tradução: Judith Cortesão)
"Um estrépito de camiões, abarrotados de espingardas, submergia Madrid, tensa, na noite de Verão."
(Frase de abertura do romance A Esperança, de André Malraux)
Deixem-me puxar hoje a brasa à minha sardinha. Minha, quer dizer - nossa. O DN lançou hoje a sua edição nº 50 000. É obra.
"Para que tudo ficasse consumado, para que me sentisse menos só, faltava-me desejar que houvesse muito público no dia da minha execução e que os espectadores me recebessem com gritos de ódio."
(Última frase do mesmo romance. Edição: Livros do Brasil. Tradução: Rogério Fernandes)
Vai seguindo o seu curso a ideia de levar por diante a Ordem dos Jornalistas. Neste blogue, como noutros locais, o debate está lançado.
(Sobe o pano)
No Parlamento. Sessão plenária agitada. Esgrimem-se argumentos em voz alta.
O Presidente:
- Meus senhores, peço-vos contenção e sentido de Estado. Que eu saiba, ainda não chegámos ao Irão.
Alguns risos na sala, que mergulha imediatamente em sossego. O líder parlamentar do PS pede autorização para intervir.
O Presidente:
- O senhor deputado deseja usar da palavra para que efeito?
O líder parlamentar:
- Para protestar contra as palavras que empregou, senhor Presidente. Na opinião do Governo português, que esta bancada naturalmente subscreve, a liberdade de expressão não pode confundir-se com licenciosidade. Vossa Excelência, lamentavelmente, referiu-se à República Islâmica do Irão - país amigo de Portugal - em termos licenciosos, que condenamos com veemência. Algo tão grave como as caricaturas que suscitaram a justa ira do mundo islâmico, razão pela qual abandonamos de imediato a sala.
Grande agitação, algum tumulto. Os deputados do PS abandonam o hemiciclo: todos menos Manuel Alegre, que se ausentara três quartos de hora antes. O presidente, também socialista, segue os companheiros por estrito dever partidário. Antes, porém, declara:
- Por falta de quórum, está encerrada a sessão.
Um deputado da oposição, não identificado:
- Afinal onde vão eles?
Outro deputado da oposição, também não identificado:
- É a hora regimental: vão todos orar. Virados para Meca.
(Cai o pano. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.)
Adivinha quem é este tipo de barba comprida que acabei agora mesmo de caricaturar.
Abraço ao Francisco José Viegas pela simpática referência que nos fez n' A Origem das Espécies. Está cortada a fita inaugural, que augura muita cumplicidade bloguística nos tempos mais próximos.
"O Governo está apostado em levar até ao fim a reforma da educação." (Lançamento de uma notícia da RTP, 16 de Fevereiro)
"Quanta da inteligência da direita é apenas estupidez da esquerda." (Agostinho da Silva)
Luciano Amaral, no DN, e Francisco José Viegas, no Jornal de Notícias, escreveram quinta-feira dois dos mais importantes artigos que tenho encontrado na nossa imprensa sobre o conflito entre o radicalismo islâmico e a cultura ocidental. Vale a pena lê-los. E reflectir bem sobre o que escrevem.
- Senhor embaixador, sentiu-se chocado com a tragédia do Holocausto?
- O Holocausto nunca existiu.
- Mas o povo judaico foi barbaramente dizimado...
- O povo judaico nunca existiu.
- Como diz? Hitler era obcecado...
- Hitler nunca existiu.
- Felizmente a II Guerra Mundial...
- A II Guerra Mundial nunca existiu.
- Quando tenciona regressar de vez ao seu país?
- O meu país nunca existiu.
- Bem, apesar de tudo, obrigado pela entrevista.
- Esta entrevista nunca existiu.
- A redacção do nosso jornal está a ser assaltada. Como é que isto é possível? Chamem já a polícia!
- Mas como, chefe? É precisamente a polícia que nos está a assaltar o jornal.
A Polícia Judiciária entra nas instalações de um diário e leva de lá o computador de um jornalista - um facto inédito em 30 anos de vida democrática. Os mais ingénuos aguardariam que se levantasse um clamor de indignação das estruturas dirigentes dos jornalistas e dos profissionais da indignação fácil. Nada disso: até ao momento, foi quase como se nada acontecesse. Como se isto fosse normal. Como se isto fosse um comportamento aceitável por parte de uma justiça desacreditada, que vida transformar os jornalistas em bodes-expiatórios de todas as suas crises e de todas as suas frustrações.
"A morte de uma pessoa é uma tragédia, a morte de um milhão é uma estatística", ensinou o mestre Estaline. O embaixador do Irão em Lisboa, aluno aplicado, assina por baixo.
Acabo de ouvir, numa peça da respeitável SIC Notícias, uma referência ao "famoso downtown de Lisboa". Às vezes questiono-me se a língua que escutamos na nossa querida televisão ainda é o português ou já é uma espécie de crioulo luso-americano papagueado por imensos candidatos a sobrinhos do Tio Sam.
- Foi durinho, o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros...
- Durinho, não. Foi durão.
- Durão? Durão é o outro.
- O Durão é que foi durinho.
- Às vezes lembro-me da Dorinha, que era bem durona.
- Eu gostava da Graciliana, que era uma gracinha...
- Uma galinha?
- Não comas disso. Olha a gripe das aves!
No Dia dos Namorados, à hora do jantar, reparei num dos patrões da imprensa portuguesa a falar ansiosamente ao telemóvel, indiferente a quem o pudesse vislumbrar no restaurante. Que jornalista estaria ele a assediar?
Na Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, Jorge Coelho reconheceu que Freitas do Amaral não foi feliz na sua intervenção inicial sobre a crise das caricaturas. É o primeiro sinal claro de que o ministro dos Negócios Estrangeiros não ficará muito mais tempo no Governo. Melhor barómetro do que Jorge Coelho não há.
Da simpatia com que os camaradas que fazem O Insubmisso acolheram estes nossos primeiros postes. Fica a promessa ao Paulo Baldaia e ao resto da tribo: vamos continuar a proporcionar-vos motivos para sorrir. A boa disposição é uma das regras cá da casa.
Mais do que as posições que Freitas do Amaral tem vindo a tomar, o que mais me espanta é a total falta de adequação da linguagem que ele usa, principalmente quando se sabe o peso que cada frase, cada palavra, tem nos meios diplomáticos. Tendo Freitas do Amaral sido educado numa família habituada ao exercício do poder, contando ele próprio com larga experiência académica, política, social e mesmo diplomática, se eu fosse dado a especulações maquiavélicas quase diria que está a fazer de propósito para tornar a sua posição insustentável no governo. Afinal não se dizia que ele tinha como grande objectivo ser candidato presidencial com o apoio do PS ? E não desapareceu durante a campanha ? Que ambição política poderá ainda alimentar perante a perspectiva de dez anos de Cavaco em Belém?
À saída do cinema:
- Então gostaste d'A Montanha do Quebra-Costas?
- Não muito. Já não se fazem westerns como antigamente.
- Referes-te à...
- Não, não é isso. São os índios. Faltaram lá os índios.
- Como é que poderia haver índios? Que eu saiba, os índios não...
- Mas não é só isso: foram também os cavalos.
- O que há com os cavalos? Também querias que eles...
- Não estás a perceber. É o cavalo do Gary Cooper. Já não há cavalos como o do Gary Cooper. Antigamente é que era. Ai que saudades, ai, ai!
Senhor Ministro venho por este meio agradecer e elogiar em nome meu Governo suas sábias declarações a favor estabelecimento parceria entre Portugal e nações islâmicas em prol paz mundial e contra provocações desenhos blasfemos de infiéis que causaram justa ira em mundo islâmico. Também em nome meu Governo aplaudo sua sábia sugestão torneio futebol para celebrar paz e agradeço selecção seu país possa conceder vitória a Irão em mundial na Alemanha. Cães sionistas podem ladrar mas holocausto nunca existiu como Doutor Goebbels ter ensinado e meu amado Presidente Doutor Mahmud Amhmedinejad ter afirmado também. Seis milhões judeus demorar quinze anos incinerar impossível isso acontecer só em cinco anos. Cumprimentos mui respeitosos. Inch'Allah. Heil!
O novo equipamento do Madaíl Futebol Clube, também conhecido por selecção nacional. Típico de uma equipa suburbana. Como é que alguém pode ser campeão assim?
De ver António Pires de Lima representar as cores do Sporting no excelente Trio d'Ataque, conduzido por Carlos Daniel na RTP N. Enquanto uns políticos andam na corda bamba, outros singram na linha justa. De verde e branco, cachecol com o leão ao pescoço. E sem papas na língua.
Dois dos blogues seguidos com mais atenção cá na terra assinalaram a entrada em funções desta turma de corta-fitas. Registamos as palavras amigas do António Ribeiro Ferreira, no Estado do Sítio, e do João Paulo Meneses, no Blogouve-se. Esperem por nós, companheiros: queremos alinhar convosco aí na primeira divisão da blogosfera.
Neste texto publicado já postumamente, Tales Alvarenga lega-nos uma última lição de saudável incorrecção política. Um excerto: "A Bolívia elegeu seu primeiro índio como presidente da República. Muita gente comemorou. (...) Gente que não tolera a citação da origem étnica das pessoas sob nenhum pretexto, porque isso significa racismo, se congratula abertamente pelo fato de o presidente boliviano ter sangue indígena."
Faleceu o jornalista Tales Alvarenga, grande colunista e director da Veja. Leia-se a comovida evocação feita por Eurípedes Alcântara, director de Redacção da revista, e do último texto de Tales, escrito já no hospital. "Uma lição de jornalismo", na exemplar síntese de Eurípedes.
Sobre o assunto mais grave do fim-de-semana, estou de acordo com o António Rodrigues da Malapátria:
Coisa de educação
Em 1999, num jogo da FA Cup, o Arsenal marcou um golo numa jogada em que não devolveu a bola ao adversário depois de um jogador seu ser assistido. Estava em causa a passagem na eliminatória. Mesmo assim, em nome do "fair play", o jogo contra o Sheffield United foi repetido e o nigeriano Nwanko Kanu pediu desculpas publicamente pelo facto de ter marcado o golo. Ontem, o Benfica, nem sequer precisava de mais um golo, não tinha qualquer dificuldade para estar a vencer o pobre Penafiel, mesmo assim, todo o Estádio da Luz festejou, incluindo os jogadores benfiquistas, um golo que foi uma vergonha. Com um adversário no chão lesionado, que o brasileiro Léo quase atropelou para fazer a assistência, com o guarda-redes do Penafiel a gesticular para que o desafio fosse interrompido para que o seu companheiro fosse assistido, o Benfica desonrou a sua história só para marcar mais um golo. E não serve a desculpa de que também os jogadores do Penafiel não atiraram a bola para fora porque estes estavam de costas para o seu companheiro, os benfiquistas não. Estavam de frente, viram o jogador no chão, quase lhe passaram por cima e nada. Festejaram como se fosse uma conquista, aquilo que não passou de desonra. Há vitórias que são piores do que derrotas, há gestos que valem mais do que taças. Há coisas que se aprendem...
- Proponho um torneio internacional de bridge entre o Bush e o Blair, mais o Chávez e o Castro, mais o Chirac e o Zapatero, mais o rei Hussein e o rei Hassan...
- O rei Hussein e o rei Hassan já faleceram, Excelência.
- Tem razão, que cabeça a minha! Queria eu dizer: entre o rei Faruk e o Xá da Pérsia.
Dear George, you were the best english-speaking president in all Europe. We will miss you so much... I would like to meet you next month, at Buckingham, for a nice cup of tea. Please bring your lovely wife with you. Take care, Georgie. Elizabeth.
A RTP evitou pôr no ar imagens de protestos populares na Beira Alta contra o venerando Chefe do Estado, Supremo Magistrado da Nação. Acho muito bem. Como diria o meu amigo Manuel Encómio, temos de ajudá-lo a terminar o mandato com dignidade.
"O amor anda à solta nas ruas de Lisboa por ser Dia dos Namorados", revela a RTP. Ainda bem que temos um serviço público de televisão. O que seria de nós sem notícias destas?
Mais duas fitas cortadas. Uma pelo Jorge, sempre acutilante ao comando do seu esquife Tomar Partido. Outra por mestre Anaximandro, nas suas tão apreciadas Notas Verbais. Como ensinou Vinícius, "a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Saravá, companheiros! Este blogue agradece e retribui.
Fui ver Kiss Me Deadly, de Robert Aldrich, à Cinemateca. Com legendas em (mau) castelhano, numa cópia vergonhosa, cheia de cortes de imagem e de som. Era um filme negro, bem sei. Mas a sala da Barata Salgueiro escusava de ter levado a coisa tão à letra. Apeteceu-me exigir o reembolso do bilhete.
Até me ter inaugurado na semana passada como corta-fitas, nunca tinha dado grande atenção aos blogues. Agora fico espantado com a enorme quantidade de anónimos a fazerem comentários, na sua grande maioria, completamente anódinos. Como não tenho tempo nem paciência para andar a ver blogues estrangeiros, pergunto se isto é uma característica do meio ou é apenas mais uma demonstração do medinho português de dar a cara por posições claras, de não apreciar o confronto aberto de ideias, de sermos herdeiros da hipocrisia salazarista, mesmo quando nos dizemos de Esquerda.
"Não há cinquenta maneiras de combater, há apenas uma: a do vencedor", André Malraux
Os caubóis dantes laçavam gado bovino. Agora enlaçam gatinhos. Darwin tinha razão. Ou talvez não.
"Programa informático. Compro programa informático que impeça a entrada da imagem e voz de Cavaco Silva no meu aparelho de televisão. Resposta ao Jornal do Fundão, nº 3525."
- Esta turba de fanáticos, imagine lá o doutor, já anda a matar gente em nome da crença religiosa...
- Vossa Excelência desculpe, mas não me revejo no conteúdo licencioso da sua declaração.
"Nunca me esqueço de uma cara, mas no seu caso abrirei uma excepção."
(Groucho Marx)
- Vitalino?
- Sim...
- Aqui Silva Pereira. Há três dias que não te ouço. Só para te dizer que fazes bem em não abrir a boca. A frase mais inteligente do ano deverá mesmo ser a tua. Genial, aquilo de comparares os caricaturistas dinamarqueses aos radicais islâmicos. O nosso Engenheiro adorou. Vê lá é se consegues manter-te calado daqui para a frente: assim evitas fazer concorrência a ti próprio.
- Mas eu sou porta-voz...
- Porta-voz ideal é aquele que consegue ficar muito tempo em silêncio. Bico calado, pois. E os meus parabéns pela proeza. Mais ninguém conseguiria dizer uma frase assim.
Uma deputada socialista alegadamente chamada Cláudia Vieira saiu do anonimato para se insurgir contra o facto de Manuel Alegre ter falado no plenário sem autorização do chefe da tribo. Outro ilustre desconhecido da bancada do PS, um tal Carlos Lopes, abriu enfim a boca no grupo parlamentar para desancar o ausente Alegre pelo mesmo motivo. Gostava de saber o que pensa sobre este assunto a deputada Sónia Marisa, que continua inexplicavelmente calada. Também reparei que a deputada Telma Catarina ainda não atacou Alegre, o que não augura nada de bom à sua carreira no PS. E porque se mantém em silêncio a deputada Sónia Ermelinda? Desembuche lá, mulher!
Perspicaz como sempre, a Glória Fácil já reparou em nós. Fixe. Até porque é um dos nossos blogues favoritos.
"O Holocausto é um mito! Os sionistas mentem!", proclamam dísticos numa manifestação do "povo islâmico" em Teerão. Se tais cartazes fossem exibidos por meia-dúzia de cabeças rapadas cá do burgo, não faltariam as almas indignadas do costume a bradarem contra tal ousadia. As mesmas que agora se calam, em solene reverência ao Islão. Alguém aí falou em coerência?
Ando com duas, no sábado fiz uma dupla entorse no pé direito (tinha que ser). Mas não foi causada por uma qualquer incursão hors piste...
No meu post anterior, intitulado "Triste república", reconheço que fui um pouco injusto com Jorge Sampaio. Ele de facto foi um mau chefe de Estado, mas os seus antecessores eleitos também o foram.
O Mário Soares do primeiro mandato foi o melhorzinho, mas porque tinha como grande objectivo para Portugal reeleger-se para o segundo mandato. De passagem, liquidou o PRD do seu arqui-inimigo Eanes ao convocar eleições antecipadas em 1987, outro dos seus grandes "desígnios nacionais". Sem querer, prestou um grande serviço ao país, porque permitiu as duas maiorias absolutas de Cavaco e um período que hoje é reconhecido por qualquer observador independente como o de maior desenvolvimento que tivemos no pós-25 de Abril. Uma vez reeleito, entreteve-se precisamente a pôr obstáculos a esse trabalho e a Cavaco, o que decerto ajudou imenso o país a progredir...
Quanto a Eanes, é uma das melhores demonstrações do que significa na República ser um chefe de Estado "de todos os portugueses", acima dos partidos, defensor do equilíbrio dos poderes, etc, etc. Além dos governos de iniciativa presidencial, à razão de seis meses cada, entreteve-se a tramar o seu arqui-inimigo Soares e acabou, por intermédio da Primeira-Dama, a criar o seu próprio partido...Está tudo dito sobre a qualidade dos seus mandatos.
Quer isto dizer que Eanes e Soares não prestam para nada? Claro que não. Agradeço a Eanes o papel que teve no 25 de Novembro e tenho-o na conta de um homem sério. Agradeço a Soares o papel que teve na luta pela democracia, antes e depois do 25 de Abril, e o seu corajoso governo de 1983-85.
Mas como é que querem que pessoas que nasceram e cresceram na lógica da luta entre partidos, de um momento para o outro se tornem "supra-partidários" e representativos de toda uma nação?
Permitam-me uma nota íntima, mas o acontecimento justifica-a. Um acontecimento gastronómico (com a devida vénia ao Duarte Calvão): comi ontem o primeiro arroz de lampreia do ano. Na Adega da Tia Matilde. Dizer que estava óptimo é dizer pouco.
Para algumas mentes mais conturbadas que ainda não perceberam o significado do nome do blogue, segue esta nota: No "Corta-fitas", o que é óbvio para quem nos conhece, não vamos escrever sobre inaugurações e coisas do género. O nome foi pensado sobretudo como antídoto para a lamúria nacional. Deixem-se de fitas.
O Leopardo, de Visconti. Exibido quase em segredo no Nimas, em Lisboa, perante o olímpico alheamento de alguma imprensa "de referência". Não percam: é o melhor filme de direita alguma vez feito por um cineasta de esquerda. Tem uma valsa inédita de Verdi, a maior (e melhor) cena de baile da história do cinema e a Claudia Cardinale capitosa até mais não (naquele tempo ainda não tinha sido inventada a anorexia). Aliciante suplementar: nunca o Burt Lancaster falou tão bem italiano como nesta fita.
"Fiquem tranquilos os que estão no poder: nenhum humorista atira para matar."
(Millôr Fernandes, Veja, 1 de Fevereiro)
O único representante português nos Jogos Olímpicos de Inverno disse a uma rádio: "O meu grande objectivo é não ficar em último." Não se riam. Se o conseguir, fará bem melhor do que os últimos Governos portugueses em matéria de orçamentos e outras que tais.
Jorge Sampaio despede-se melancolicamente ao fim de dez anos e já só lhe ligam por obrigações protocolares. Foi um mau chefe de Estado porque deixa o país pior do que quando foi eleito para a presidência.
Entre discursos cheios de banalidades, deixou o descalabro guterrista avançar e até hoje pagamos, e pagaremos, pela sua cumplicidade.
Quando chegou Durão Barroso, sabotou o esforço para pôr as contas em ordem, ajudando a virar a opinião pública contra Manuela Ferreira Leite com frases do tipo "há vida para além do déficit". Usou depois a bomba atómica contra as asneiras inconsequentes de Santana Lopes que, por muito mediatizadas que fossem, nunca puseram em causa "o normal funcionamento das instituições democráticas".
Nos poucos meses que conviveu com Sócrates, assistiu impávido à demissão de Campos e Cunha e ao desrespeito completo pelas promessas eleitorais dos socialistas. E ainda assinou a nomeação do vice-presidente da bancada parlamentar do partido do Governo, Oliveira Martins, para o Tribunal de Contas, algo digno de uma República das Bananas.
Podem-me dizer à vontade que Jorge Sampaio é muito boa pessoa que eu até acredito. Mas foi um dos que mais ajudou o país a afundar-se na crise em que se encontra.
- Vitalino?
- Sim. Daqui Oliveira e Costa. Só para dizer que te arriscas a ganhar um prémio pela frase mais inteligente do ano.
- O quê?! Só porque equiparei os cartunistas dinamarqueses aos terroristas árabes?
- Claro. Grande argúcia, pá. É mesmo a frase mais inteligente de 2006. "Estão bem uns para os outros, os caricaturistas irresponsáveis e os fundamentalistas violentos. Ambos só podem ser alvo da nossa condenação." Já fiz uma sondagem: garanto-te que ganhas com maioria absoluta.
- Ah, agora percebi que estás a falar a sério. Por momentos julguei que estavas a gozar comigo.
Falamos dos efeitos da globalização nas nossas sociedades, mas temos tendência para ignorar o impacto em sociedades menos preparadas do que a nossa para a mudança rápida. O Islão vive no choque da modernidade. As ideias circulam por antenas satélite, publicidade ou filmes de Hollywood. Veja-se o enredo de um anúncio que em 2001 passava na televisão paquistanesa: de forma cómica, mostrava-se uma rapariga moderna (em jeans) a desafiar a autoridade paternal pintando as paredes do seu quarto com grafitis. A bondosa intervenção da mãe repunha a harmonia familiar com tinta moderna que satisfazia ambas as partes.
Isto ilustra o medo dos integristas, de que a estabilidade das sociedades muçulmanas está a ser comprometida por ideias ocidentais (coisas simples, como consumismo, liberdade sexual ou secularismo).
Para além dos efeitos não intencionais, o Ocidente tenta de facto introduzir nestes países reformas políticas e económicas. Para os ocidentais, é claro que a adopção destas mudanças trará prosperidade e paz. Índia e Brasil são os melhores exemplos.
A pressão para as reformas no mundo islâmico aumentou depois do 11 de Setembro. A Indonésia é hoje menos agressiva e quase uma democracia; Egipto e Marrocos ensaiam pequenas mudanças políticas; Iraque e Afeganistão, sob ocupação estrangeira, realizaram eleições livres.
As três nações do arco islâmico que nunca foram colonizadas (terão por isso maior coesão e respeito) mostram resultados distintos: o Irão consolida a sua teocracia e parece ter ambições regionais, afastando-se da ordem mundial; a Arábia Saudita ensaia um embrião de reformas internas para salvar a sua ligação aos Estados Unidos, mas não parece existir qualquer intenção de minimizar o poder da família real; a Turquia ambiciona tornar-se membro da União Europeia, ou seja, participar activamente numa experiência arrojada, que implica partilha de soberania e sociedade aberta.
Todos os restantes países islâmicos terão uma de três opções: reforçam a influência da religião na política, mudam devagar sem comprometerem o domínio das oligarquias ou mudam tudo. Esta última opção, a terceira via do mundo islâmico, mostra a importância do futuro da Turquia nas relações entre Ocidente e Islão.
Um partido islamista (AK, a sigla é também a palavra turca para branco ou limpo) ganhou as eleições e, pela primeira vez desde a fundação da república secular, os militares não intervieram. O partido no poder é moderado e conservador, comparável às formações democratas-cristãs da Europa Ocidental. Com habilidade, o novo Governo fez avançar a causa da integração europeia, introduzindo legislação mais avançada, Estado de Direito, liberdade de Imprensa, direitos das minorias e reformas económicas que atraíram mais investimento externo. A manter-se por uma década a actual tendência, a Turquia atingirá na altura da sua adesão à UE metade do rendimento per capita europeu, nível em que Portugal estava quando entrou nas comunidades.
As mudanças foram introduzidas porque os turcos têm um incentivo irrecusável: no fundo do túnel está o prémio da adesão. Se esta não se concretizar, a Europa estará a perder a oportunidade de provar que as outras duas respostas islâmicas ao choque da globalização são piores para os países que as escolherem. A Turquia prova que o Islão não é incompatível com democracia, economia de mercado ou modernidade.
De tanta algazarra blogueira à volta da guerra dos cartoons retiro pouco mais do que os assomos da velha coragem lusitana, do género: ‘Agarrem-me, que eu vou-me a eles’. Acho pouco no meio de tanto génio da geopolítica (nos princípios e na acção) subitamente descoberto. Por isso, nesta imensa barbearia que é a blogosfera (com as raras e honrosíssimas excepções do costume), apenas me chego à frente para sussurrar, mui humildemente, o seguinte:
O comunicado do MNE, Freitas do Amaral, é infeliz quanto à forma (não compete a um MNE vir discutir em público noções, mesmo que pré-primárias, de teologia e de costumes) e quanto ao fundo (não basta estar subentendida a defesa da liberdade de expressão; ela devia ser explícita). Porém (ah grande porém!), essa infelicidade não chegava para fazer dele o bombo da festa de tanto bravo.
A declaração de Vitalino Canas, em nome do grupo parlamentar do PS, equiparando “cartoonistas irresponsáveis” e “fundamentalistas violentos” (“estão bem uns para os outros”, disse o homem), é bem o sinal da confusão (de valores, pois) que vai para as bandas do Rato.
Pacheco Pereira (no Público) tem razão. Se a tese de Freitas do Amaral vingasse, A Vida de Brian, dos Monty Python, nunca teria circulado nas nossas telas. Vasco Graça Moura (no Diário de Notícias) também tem razão. Se a fatwa que o radicalismo islâmico quer lançar sobre o Ocidente passasse das intenções à prática, a Divina Comédia de Dante seria um dos primeiros livros a arder na fogueira. De anátema em anátema até à purificação total - a purificação pelo silêncio, que tanto agrada às ditaduras teocráticas.
Na SIC Notícias, o antigo anti-Bush Freitas do Amaral socorre-se sem pestanejar do exemplo de Bush para justificar a sua recentíssima cruzada antiblasfémia! Uma pirueta. Um duplo mortal. Um flic-flac. Este homem ainda há-de receber a medalha de bons serviços da Casa Branca. Andou transviado, mas voltou ao grémio. Com um excesso de zelo digno dos filhos pródigos.
Cortada a fita: regista-se a piscadela de olho que já nos lançaram os confrades d'A Grande Loja do Queijo Limiano e do Mau Tempo no Canil. Como o Bogart dizia ao Claude Rains, esperamos que seja o início de uma longa amizade.
Junto à embaixada, apareceu também o Bandeira, cartunista do DN. Esta presença redimiu de algum modo toda uma classe profissional. Bastou ele estar ali para desfazer a ideia de que todos os cartunistas em Portugal trocaram o traço crítico pela mordaça com cheiro a petróleo. Um abraço, Bandeira. Ao menos tu não estás de cócoras.
Fui lá espreitar. Frente à embaixada da Dinamarca, em Lisboa, eram meia-dúzia de gatos pingados a protestar contra os atentados aos direitos humanos que estão a ser cometidos em nome de Alá. Poucos mas bons. Quem estava? O Rui Zink, o Manuel João Ramos, a Luísa Jacobetty. Mais o Pedro Mexia, o José Júdice, o Augusto Seabra, o Paulo Pinto Mascarenhas. Do PSD, vi o Vasco Rato. Do PS, o Pedro Adão e Silva e a Ana Sara Brito. Quem mais? Fernando Lopes - esse mesmo, o cineasta. E uns quantos jornalistas, em serviço ou à paisana.
Movimento cívico? Não sei que outro nome lhe devo chamar.
- Major, como reage à transcrição de conversas suas nas páginas dos jornais?
- Quero que se ... seus ... de ... e que ... no ... a ... das transcrições e ... para o ... mais as ... das vossas mães. Isto está a gravar, não está?
Não escrevo sobre o que os outros escrevem melhor do que eu. Sobre as caricaturas, subscrevo na totalidade Luciano Amaral, no DN de 9 de Fevereiro, e Pacheco Pereira, no Público do mesmo dia. A única coisa que digo é que quando vejo a "rua" árabe, tenho simplesmente orgulho em ser ocidental. Tudo o mais, todas as relativizações e interpretações rebuscadas, são apenas ridículas.
E os nossos cartunistas? Com as honrosas excepções da praxe, andam de bola baixa, cheios de juizinho. Enquanto os colegas lá fora recebem ameaças de morte. Fazem bem, meninos. O respeitinho é muito bonito. E os atrevimentos são prejudiciais à saúde.
Uau! Já temos uma deputada que se chama Sandra Marisa, outra chamada Sónia Ermelinda e uma terceira que responde pelo nome de Telma Catarina. Valeu a pena esperar por este dia. Aguarda-se agora uma Cátia Vanessa que possa abrilhantar a próxima legislatura.
No Verão de 1914, a Europa deve ter vivido um frenesi semelhante. Os jovens da época marcharam para as trincheiras com fervor patriótico, em nome da Civilização Ocidental. Antes, o entusiasmo brilhara nas guerras imperiais que as potências europeias travaram contra os “selvagens”, atropelados pelo rolo compressor da História. Não sei se estes paralelos são justos, mas vejo alvoroço bélico, misturado com ansiedade, na forma como muitos de nós interpretam a reacção de países muçulmanos à publicação de caricaturas do Profeta Maomé num jornal dinamarquês.
Estamos na esfera da política. A liberdade de expressão nunca esteve em perigo e não estará.
Também se escreveu que já estamos a perder a guerra, mas isto colide com os factos: os talibã resistiram três semanas aos bombardeamentos americanos e o poderoso exército de Saddam dissolveu-se em quatro semanas. Estes dois conflitos foram operações policiais da hiper-potência e mereceram protestos generalizados da opinião pública. Se na realidade há um choque de civilizações, a que deveram estes protestos?
Mas voltando ao essencial: qual é a guerra que estamos a perder? A do petróleo? Mas o Ocidente controla o petróleo. Três quartos das reservas petrolíferas estão no Golfo Pérsico, entre a Arábia Saudita, o Iraque e o Irão, mas estes países dependem de quem usa a energia, ou seja, dos países industrializados. O petróleo é a base do interesse estratégico ocidental naquela zona e nem uma gota está em risco.
O Ocidente tem vasta superioridade económica, militar e tecnológica. Um eventual conflito entre as duas civilizações (que acho uma improvável catástrofe) teria um vencedor mais do que certo.
A propósito das caricaturas, a Europa está em low profile. O comunicado de Freitas do Amaral mostra isso. Podemos ser menos complacentes com os radicais islâmicos? A atitude mais comum na blogosfera e nos media tradicionais aponta para uma negativa. Se dependesse da opinião mais comum, teríamos de ir imediatamente para as trincheiras defender a nossa liberdade. Segundo essas interpretações, estamos numa espécie de última cruzada ou perante a iminente invasão islâmica. Os jornais nunca mais serão os mesmos, depois disto.
Mas, de facto, se tentarmos ler o acontecimento na sua dimensão política, constatamos que tudo começou com um fait-divers dinamarquês (assunto interno, relacionado com a imigração), que foi usado de forma hábil pelos regimes radicais sírio e iraniano, ambos na altura sob forte pressão ocidental. A Síria é o próximo alvo, na lista dos regimes a abater; o Irão terá de abandonar o seu programa nuclear ou enfrentar sanções sérias. Por muito tempo, ninguém verá a União Europeia a pressionar o Hamas.
Neste episódio, a Europa surge pequena, fraca e dividida. Pela primeira vez, um pequeno Estado Membro é pressionado por uma aliança exterior sem que a UE o possa ajudar, pois ainda não existe política externa comum. No futuro, a estratégia ideal será ter os pequenos por alvo. Aqui reside a verdadeira ansiedade portuguesa: sabemos que um dia pode calhar a nossa vez.
- Boa tarde.
- Boa tarde, só se for para si. Isto, para mim, está cada vez pior.
- Pior?!
- Da maneira como as coisas estão, isto nem com dez salazares lá vai. Quem diz dez salazares, diz vinte cavacos.
Descoberto o motivo por que Bill Gates manteve as mãos nos bolsos durante o recente encontro com altas individualidades portuguesas. Alguém o avisou: "Cuidado com a carteira..."
Estou intrigado. Será este o mesmo Freitas do Amaral que, num livro intitulado Ao Correr da Memória (Bertrand, 2003), se insurgiu contra o subsecretário de Estado da Cultura Sousa Lara por ter afastado o romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, de uma lista de obras literárias que representariam Portugal no estrangeiro? "Decisão infeliz", segundo o referido Freitas, por revelar uma "visão redutora", alinhada com os "católicos mais conservadores" que teimam em dizer: "Com este tema [a religião] não se brinca."
Se não é a mesma personalidade, lamento o incómodo. Se é, apetece-me perguntar: existem diferentes graus de blasfémia, adaptados a cada quadrante geográfico ou a cada crença religiosa?Responda quem souber. Do professor Freitas, aguarda-se o próximo comunicado. Ou o próximo livro.
Não utilize o nome de Portugal em vão, professor. Nem se confunda com o País. Eu, por exemplo, não lhe passei procuração para invectivar as caricaturas. E não sou menos Portugal do que o senhor.
Freitas do Amaral discorda da publicação dos cartunes que representam Maomé. Pura "licenciosidade", argumenta o MNE. Confundindo-se a si próprio com o País, proclama: "Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos". Estes têm "o direito de ver respeitados os símbolos fundamentais da religião". E vão ao ponto de matar, impondo o tal direito por linhas tortas. Isto não disse o ministro Freitas, mas acrescento eu.
Progride a aprendizagem do inglês no nosso ensino básico. Atenta, a reportagem da RTP demandou uma escola das Caldas à cata de bons resultados. Confirma-se: a língua de Shakespeare avança a olhos vistos na pátria de Camões. "Goodbye quer dizer tchau", revela um petiz já sábio, depois de tanta aula, à reportagem da TV oficial. O meu aplauso ao engenheiro José Sócrates.
Eis o novo mandamento de uma velha esquerda: o respeitinho pela liberdade religiosa está acima do respeito pela liberdade de expressão.
Isto de ser agente secreto não é fácil. Vejam por exemplo o meu mais recente caso. O director ordenou-me: “Veja lá, ò Guilherme Raposo, porque carga de água é que os portugueses são monotemáticos”. Claro, o director pediu urgência nas minhas diligências. Quase caí na tentação de perguntar o que significava monotemático, mas deduzi que teria a ver com a ansiedade do status e evitei fazer a pergunta.
É difícil trabalhar numa agência tão secreta, tão secreta, que a própria tutela desconhece a sua existência. Nós somos da agência de informações que controla a agência de informações que vigia a agência de informações. É esse o nosso trabalho, mas dão-nos os serviços mais difíceis. Como era o caso.
Consultei trinta e tal especialistas e, após hesitação, todos monotematicamente concordavam com a ideia de que os portugueses são monotemáticos: falam todos da mesma coisa e ao mesmo tempo; vão à mesma praia à mesma hora; têm todos a mesma opinião. Melhor que isto só mesmo os jornalistas portugueses, que detestam ser criticados. Só não encontrei nenhuma relação com a ansiedade do status, embora me pareça (foi o que escrevi no relatório) que esta é a melhor defesa: o igualitarismo suaviza o fenómeno.
“Houve aqui um erro, Raposo”, disse o director, sem tirar os olhos do meu relatório. “A encomenda da tutela da tutela era sobre o monoteísmo, não sobre o monotematismo”.
E o resultado dessa outra investigação é uma história que merece ser contada.
Suprema humilhação para a Dinamarca: andam a queimar bandeiras da Noruega nos países islâmicos.
No PS, andou tudo baralhado. Joana Amaral Dias devia ter sido a candidata ao Palácio de Belém e Mário Soares o mandatário para a juventude. Atenção, Largo do Rato: favor corrigir a tempo das presidenciais de 2011.
Se só os jornalistas tivessem direito de voto nas presidenciais, Mário Soares teria ganho. Destacado.
"O meu único lamento na vida foi não ter bebido mais champanhe."
(John Maynard Keynes)
Continuamos a ignorar em quem votou o dramaturgo Freitas do Amaral nestas presidenciais. Alvíssaras a quem souber.
- Em quem votaste nas presidenciais?
- Do meu voto cuido eu / Como de um filho dilecto. / Cada um sabe do seu / Não há nada mais secreto.
Hesitei em aceitar o amável convite para abrilhantar a panóplia de escribas que proliferam como cogumelos ostreatoroseus (ou mesmo como pleurotos) na chamada blogosfera, local onde julgo serem discutidas magnas problemáticas. Digo julgo, porque não tenho a certeza, o que significa que me penalizo, imerso em dúvidas sistemáticas (ou estarei emerso?). Mas, chegado à primeira crónica, e apesar da minha vasta experiência na comunicação tradicional, embatuquei na temática e bloqueei na folha em branco. Sobre a questão das caricaturas dinamarquesas, penso estar tudo dito nos recentes comunicados governamentais, com os quais concordo à linha e, porque não dizer, até à vírgula. O próprio ministro já me tinha explicado aquela complexa formulação, mas eu ainda não mantinha este espaço de reflexão, pelo que fui forçado a guardar o segredo só para mim, em vez de o partilhar. Enfim, há outros temas de importância nacional e internacional, mas já me cansei com esta longa primeira crónica. Da próxima vez, prometo falar-vos de coisas ainda mais importantes.
Do vosso Manuel Encómio
Preciso de escrever isto antes que a campanha eleitoral para as presidenciais desapareça da memória dos portugueses, o que por norma acontece no espaço de uma semana com tudo o que à política diz respeito. Lembram-se da indignação com que as candidaturas reagiram quando uma empresa qualquer quis fazer apostas sobre os resultados eleitorais? Um dos presidenciáveis chegou a afimar:"os candidatos não são cavalos!". Naturalmente, uma série de gente séria e virtuosa apressou-se a concordar. Pois bem, eu pergunto: qual era o mal? Faz-se apostas sobre tudo, porque não resultados eleitorais? Em que é que isso diminuia a "Dignidade" dos candidatos? Só num país de chatos como Portugal é que estas demonstrações de virtude são bem acolhidas. Se quiserem, por exemplo, apostar sobre quem vai dar mais erros ortográficos neste novo blogue, eu estou-me nas tintas. Mesmo que me chamem cavalo.