Momento teatral
(Sobe o pano)
No Parlamento. Sessão plenária agitada. Esgrimem-se argumentos em voz alta.
O Presidente:
- Meus senhores, peço-vos contenção e sentido de Estado. Que eu saiba, ainda não chegámos ao Irão.
Alguns risos na sala, que mergulha imediatamente em sossego. O líder parlamentar do PS pede autorização para intervir.
O Presidente:
- O senhor deputado deseja usar da palavra para que efeito?
O líder parlamentar:
- Para protestar contra as palavras que empregou, senhor Presidente. Na opinião do Governo português, que esta bancada naturalmente subscreve, a liberdade de expressão não pode confundir-se com licenciosidade. Vossa Excelência, lamentavelmente, referiu-se à República Islâmica do Irão - país amigo de Portugal - em termos licenciosos, que condenamos com veemência. Algo tão grave como as caricaturas que suscitaram a justa ira do mundo islâmico, razão pela qual abandonamos de imediato a sala.
Grande agitação, algum tumulto. Os deputados do PS abandonam o hemiciclo: todos menos Manuel Alegre, que se ausentara três quartos de hora antes. O presidente, também socialista, segue os companheiros por estrito dever partidário. Antes, porém, declara:
- Por falta de quórum, está encerrada a sessão.
Um deputado da oposição, não identificado:
- Afinal onde vão eles?
Outro deputado da oposição, também não identificado:
- É a hora regimental: vão todos orar. Virados para Meca.
(Cai o pano. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.)