Caricaturas II
A propósito das caricaturas, a Europa está em low profile. O comunicado de Freitas do Amaral mostra isso. Podemos ser menos complacentes com os radicais islâmicos? A atitude mais comum na blogosfera e nos media tradicionais aponta para uma negativa. Se dependesse da opinião mais comum, teríamos de ir imediatamente para as trincheiras defender a nossa liberdade. Segundo essas interpretações, estamos numa espécie de última cruzada ou perante a iminente invasão islâmica. Os jornais nunca mais serão os mesmos, depois disto.
Mas, de facto, se tentarmos ler o acontecimento na sua dimensão política, constatamos que tudo começou com um fait-divers dinamarquês (assunto interno, relacionado com a imigração), que foi usado de forma hábil pelos regimes radicais sírio e iraniano, ambos na altura sob forte pressão ocidental. A Síria é o próximo alvo, na lista dos regimes a abater; o Irão terá de abandonar o seu programa nuclear ou enfrentar sanções sérias. Por muito tempo, ninguém verá a União Europeia a pressionar o Hamas.
Neste episódio, a Europa surge pequena, fraca e dividida. Pela primeira vez, um pequeno Estado Membro é pressionado por uma aliança exterior sem que a UE o possa ajudar, pois ainda não existe política externa comum. No futuro, a estratégia ideal será ter os pequenos por alvo. Aqui reside a verdadeira ansiedade portuguesa: sabemos que um dia pode calhar a nossa vez.