República triste
No meu post anterior, intitulado "Triste república", reconheço que fui um pouco injusto com Jorge Sampaio. Ele de facto foi um mau chefe de Estado, mas os seus antecessores eleitos também o foram.
O Mário Soares do primeiro mandato foi o melhorzinho, mas porque tinha como grande objectivo para Portugal reeleger-se para o segundo mandato. De passagem, liquidou o PRD do seu arqui-inimigo Eanes ao convocar eleições antecipadas em 1987, outro dos seus grandes "desígnios nacionais". Sem querer, prestou um grande serviço ao país, porque permitiu as duas maiorias absolutas de Cavaco e um período que hoje é reconhecido por qualquer observador independente como o de maior desenvolvimento que tivemos no pós-25 de Abril. Uma vez reeleito, entreteve-se precisamente a pôr obstáculos a esse trabalho e a Cavaco, o que decerto ajudou imenso o país a progredir...
Quanto a Eanes, é uma das melhores demonstrações do que significa na República ser um chefe de Estado "de todos os portugueses", acima dos partidos, defensor do equilíbrio dos poderes, etc, etc. Além dos governos de iniciativa presidencial, à razão de seis meses cada, entreteve-se a tramar o seu arqui-inimigo Soares e acabou, por intermédio da Primeira-Dama, a criar o seu próprio partido...Está tudo dito sobre a qualidade dos seus mandatos.
Quer isto dizer que Eanes e Soares não prestam para nada? Claro que não. Agradeço a Eanes o papel que teve no 25 de Novembro e tenho-o na conta de um homem sério. Agradeço a Soares o papel que teve na luta pela democracia, antes e depois do 25 de Abril, e o seu corajoso governo de 1983-85.
Mas como é que querem que pessoas que nasceram e cresceram na lógica da luta entre partidos, de um momento para o outro se tornem "supra-partidários" e representativos de toda uma nação?