Islão I
Falamos dos efeitos da globalização nas nossas sociedades, mas temos tendência para ignorar o impacto em sociedades menos preparadas do que a nossa para a mudança rápida. O Islão vive no choque da modernidade. As ideias circulam por antenas satélite, publicidade ou filmes de Hollywood. Veja-se o enredo de um anúncio que em 2001 passava na televisão paquistanesa: de forma cómica, mostrava-se uma rapariga moderna (em jeans) a desafiar a autoridade paternal pintando as paredes do seu quarto com grafitis. A bondosa intervenção da mãe repunha a harmonia familiar com tinta moderna que satisfazia ambas as partes.
Isto ilustra o medo dos integristas, de que a estabilidade das sociedades muçulmanas está a ser comprometida por ideias ocidentais (coisas simples, como consumismo, liberdade sexual ou secularismo).
Para além dos efeitos não intencionais, o Ocidente tenta de facto introduzir nestes países reformas políticas e económicas. Para os ocidentais, é claro que a adopção destas mudanças trará prosperidade e paz. Índia e Brasil são os melhores exemplos.
A pressão para as reformas no mundo islâmico aumentou depois do 11 de Setembro. A Indonésia é hoje menos agressiva e quase uma democracia; Egipto e Marrocos ensaiam pequenas mudanças políticas; Iraque e Afeganistão, sob ocupação estrangeira, realizaram eleições livres.
As três nações do arco islâmico que nunca foram colonizadas (terão por isso maior coesão e respeito) mostram resultados distintos: o Irão consolida a sua teocracia e parece ter ambições regionais, afastando-se da ordem mundial; a Arábia Saudita ensaia um embrião de reformas internas para salvar a sua ligação aos Estados Unidos, mas não parece existir qualquer intenção de minimizar o poder da família real; a Turquia ambiciona tornar-se membro da União Europeia, ou seja, participar activamente numa experiência arrojada, que implica partilha de soberania e sociedade aberta.