Caricaturas I
No Verão de 1914, a Europa deve ter vivido um frenesi semelhante. Os jovens da época marcharam para as trincheiras com fervor patriótico, em nome da Civilização Ocidental. Antes, o entusiasmo brilhara nas guerras imperiais que as potências europeias travaram contra os “selvagens”, atropelados pelo rolo compressor da História. Não sei se estes paralelos são justos, mas vejo alvoroço bélico, misturado com ansiedade, na forma como muitos de nós interpretam a reacção de países muçulmanos à publicação de caricaturas do Profeta Maomé num jornal dinamarquês.
Estamos na esfera da política. A liberdade de expressão nunca esteve em perigo e não estará.
Também se escreveu que já estamos a perder a guerra, mas isto colide com os factos: os talibã resistiram três semanas aos bombardeamentos americanos e o poderoso exército de Saddam dissolveu-se em quatro semanas. Estes dois conflitos foram operações policiais da hiper-potência e mereceram protestos generalizados da opinião pública. Se na realidade há um choque de civilizações, a que deveram estes protestos?
Mas voltando ao essencial: qual é a guerra que estamos a perder? A do petróleo? Mas o Ocidente controla o petróleo. Três quartos das reservas petrolíferas estão no Golfo Pérsico, entre a Arábia Saudita, o Iraque e o Irão, mas estes países dependem de quem usa a energia, ou seja, dos países industrializados. O petróleo é a base do interesse estratégico ocidental naquela zona e nem uma gota está em risco.
O Ocidente tem vasta superioridade económica, militar e tecnológica. Um eventual conflito entre as duas civilizações (que acho uma improvável catástrofe) teria um vencedor mais do que certo.