quinta-feira, janeiro 31, 2008

SNS - porquê tanta revolta? (8)


Há utentes do Centro de Saúde de Aljezur que não têm médico de família há 12 anos, porque o que lhes foi atribuído está de baixa há... 12 anos (notícia da SIC).

Se não puder fumar...


... vou comer chocolates

Dois homens, a mesma luta

O "Miguel Abrantes" e o Paulo Gorjão, de repente, decidiram seguir o mesmo caminho. Não os levo a mal. Ao primeiro (ou primeiros), só volto a pedir que faça um pequeno comentário (e minimamente decente) sobre a mini-remodelação. Acrescento ainda, sobre o tema que o "Abrantes" levantou, que, mais uma vez, peca por defeito. Depois da referida peça, já fiz uma outra em que cito o presidente do PSD em on sobre o mesmo tema. Se ele vai ou não realizar o que disse, é com ele e estaremos cá para atestar. Ao segundo, só lhe recomendo que leia com mais atenção o que tenho escrito no jornal. E verá que não tiveram sorte nenhuma. Mas a esse tema voltarei em breve. Meu caro, não perde por esperar.

Na véspera do 30º dia

A equipa do Estação do Calor não descansa. Ou descansa pouco. Os 3 aventureiros continuam a percorrer a estrada, a bordo de um Falcon especialista em pregar surpresas mas que tem resistido a todas as intempéries. Os rapazes estão agora algures na Patagónia Central e uma palavra de incentivo será certamente bem vinda. Visitem-nos e deixem-lhes uma mensagem que eles respondem. (A fotografia ou é do Jordi ou do Guillaume mas, seja de qual deles for, tem direitos reservados)

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Cerca de vinte junto às campas

Leio notícia da agência Lusa, difundida às 13.33. Começa assim: "Cerca de vinte pessoas prestaram hoje homenagem aos autores do regicídio, junto às campas onde estão sepultados no cemitério do Alto de São João, em Lisboa." Não sei o que mais me espanta - se a inequívoca adesão popular a esta "homenagem" aos regicidas se a notória dificuldade do autor da notícia em contar até vinte. Mas neste caso, ao menos, existe uma atenuante: os dedos das mãos são apenas dez.

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O pré-natal é quando o homem quer

Muito ouvimos dizer acerca das aulas pré-parto (ou de preparação para o parto) que funcionam como um complemento a todos os livros que podemos ler sobre o assunto. Constato que longe vão os tempos em que as salas destas aulas eram maioritariamente preenchidas só por mães. Os futuros papás agora estão por lá de pedra e cal. Devo confessar que noto uns mais vocacionados que outros. Uns escondem melhor o ar de tédio, conseguem não dormir – na aula sobre a amamentação era ver o marido da frente quase sempre de olhinho fechado –,, uns lidam com mais à vontade ao ouvir falar do corpo da mulher, outros não negam que pegam pela primeira vez num careca de borracha. Não sei o que se passa dentro de outras salas, mas a avaliar pela minha satisfaz-me dois aspectos: o primeiro é que, disfarçando melhor ou pior o “frete” de ter que ir à aula, eles estão lá todos. O segundo aspecto é mais pessoal. Considero que, se houvesse a nomeação do melhor pai das aulas pré-natal, o meu marido seria o eleito. Ele leva caneta, folhas soltas – podia ser um caderninho próprio para o efeito, mas não há problema pois quando pergunto: tens aí os apontamentos das aulas pré-parto, ele logo aponta um “Estão ali!” –, tem dúvidas, quer que eu também as tenha, e aponta tudo o que acha que pode interessar. E quando também eu possa estar desatenta, sussurra ao ouvido: “Ouviste isto? É importante.” Ou ainda: “Não queres perguntar sobre aquela dorzinha que tinhas no outro dia?” Ao que eu, no jeito de um marido envergonhado, respondo: “Não, deixa estar… já passou.” Claro que também oiço: “Já me fizeste comprar isto e não era preciso…”
Teresa, começo a achar que o meu “gato” faz concorrência ao teu ;)

A melhor década do cinema (38)


SHANE
(Shane, 1953)
Realizador: George Stevens
Principais intérpretes: Alan Ladd, Jean Arthur, Van Johnson, Brandon de Wilde, Jack Palance, Ben Johnson
"Um dos poucos westerns que podem reclamar o estatuto de obra de arte." (John Douglas Eames)

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Antologia Corta-Fitas (XIII)

Factos ao pequeno-almoço
Nesta viagem oficial à China há muitas oportunidades para convívio. Ontem, ao pequeno-almoço, encontrei o Manuel Pinho. Nós os dois temos muitas conversas sobre temas económicos e julgo que o ministro aprecia os meus conselhos e, não raramente, segue-os. Mas, desta vez, reparei que o Manuel estava preocupado.
“Ó Pinho, o que se passa?”, perguntei.
“Tu nem imaginas a minha vida, Zé Nero”, disse ele, visivelmente abalado. “Tenho esta manhã uma conferência e preciso de convencer os chineses a investirem em Portugal, o que não é nada fácil. Não sei se lhes fale do choque tecnológico, se lhes diga que, depois de pôr todas as crianças a falar inglês, vamos pô-las a falar chinês... O MIT? O Sr. Bill Gates?”
“Dá-lhes factos. Os chineses gostam de factos”, atalhei. “Diz-lhes, por exemplo, que temos salários baixos. Com isso, atrais o investimento e ao mesmo tempo promoves a contenção salarial e, consequentemente, da espiral inflacionária nos restaurantes chineses e nas lojas dos 300”.
Dei-lhe o exemplo do meu amigo Ling Ling Qi, que tem um restaurante chinês ao pé de minha casa. Um dia ele disse-me: ‘Zé Nelo, os poltugueses têm salálios de chinês e tlabalham como chinês’. Acho que foi muito acertado. Trabalhamos como chineses e temos salários de chinês, portanto, somos competitivos, à nossa maneira, e não deve ser difícil para um empresário chinês instalar-se lá na nossa terra”.
Vi um brilho surgir nos olhos do ministro, mas rapidamente uma sombra perpassou pelo seu nobre semblante. “Mas não achas que o PS pode criticar? Afinal, ainda somos de esquerda... Da esquerda moderna, mas de esquerda...”
Peguei de imediato no telemóvel e liguei para o Largo do Rato. Atendeu o Vitalino, a quem expliquei a ideia. “Não há dúvida que é um facto”, respondeu. Desliguei e comuniquei ao Pinho a resposta. Fora os sindicatos, a oposição, os jornalistas do costume e alguns clientes habituais do Fórum TSF, toda a gente entenderia o que ele queria dizer.
Ao ouvir isto, o Manuel Pinho ficou muito contente. Parecia que lhe tinha tirado um grande peso de cima dos ombros. Devorou o resto do pequeno-almoço e falou todo o tempo, com extrema alegria. O resto é História. Hoje, toda a gente conhece as vantagens competitivas que temos a oferecer. Quer na China quer em Portugal quer, espero bem, vários empresários que estavam a preparar-se para deslocalizar as suas empresas para o Sri Lanka e para o Uganda. Valeu mais do que não sei quantas campanhas do ICEP a falar da convergência estratégica entre Belém e São Bento.

José Nero Fontão, 1 de Fevereiro de 2007

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Future Asked Questions, dizem eles

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Por qué no te callas? (8)

"Isto vive da confiança e dos resultados."
José Sócrates, ontem, em Lisboa

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Por supuesto

O Jornal de Negócios noticia hoje que o BCP «está a perder mais de 220 milhões» com a sua participação de 9,9% no BPI. O La Caixa, por seu lado, tem 25% do capital do banco. Em Espanha, as notícias centraram-se apenas na distribuição de dividendos e no encaixe recente de 35,5M€. Mas quanto representam, contas feitas à data, as menos-valias potenciais para o La Caixa? Uns 500 milhões, mais tostão menos tostão?
Na altura da recusa dos accionistas de referência à OPA de Paulo Teixeira Pinto, a oferta era de 7€ por acção. Hoje, a cotação do BPI está a 3,43€. Menos de metade. Para mais, Fernando Ulrich antevê um «ano difícil» e apalpa terreno para um aumento de capital. Do outro lado da fronteira devem estar a pensar: «De Portugal, nem bons ventos nem bons casamentos».

Se de um lado chove, do outro troveja

Recordo-vos que logo à noite, pelas 21.00h na Lusíada, LPM e JPP vão explicar-nos como lidar com os lobbies, moderados pelo nosso Pedro Correia. Precisamente à mesma hora, Judite de Sousa entrevista Marinho e Pinto (ou é só «Marinho Pinto»? Agradecia que os jornalistas se decidissem sobre o nome exacto do senhor). Prevê-se uma noite com maior número de soundbytes do que os exemplares vendidos da FHM com a Luciana Abreu.

A alta governamental

No Governo do sr. Sócrates os ministros não são removidos. Têm "Alta". Porque, de alguma maneira, estiveram retidos numa unidade de terapia imune ao abominável som da rua. Aquele que fazem os eleitores e contribuintes e que tanto irrita o sr. Vital Moreira no alto da sua cátedra. Se não fosse o som da rua, governar era um idílio, uma espécie de spa. Correia de Campos e Isabel Pires de Lima tiveram alta, depois de uma terapia liderada pelo sr. Sócrates. Novos candidatos a uma posterior alta entraram já nos serviços. Por enquanto estão livres de contaminações da rua e vão direitos para o divã, onde se espera que o primeiro-ministro lhes explique psicanaliticamente a aplicação de um princípio quase freudiano da política: em caso de culpa, o culpado é o ministro e não o primeiro-ministro, apesar deste definir a política que os seus “colaboradores” executam com denodo. Às vezes, depois desta remodelação só apetece pedir: quando é que o sr. Sócrates tem "alta"?

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Regicídio - Em abono da verdade

Foi ontem apresentado no Palácio da Independência, ao Rossio, o Dossier Regicídio – O Processo Desaparecido, um trabalho de dois anos de investigação coordenado por Mendo Castro Henriques e com a colaboração de Maria João Medeiros, João Mendes Rosa, Jaime Regalado e Luiz Alberto Moniz Bandeira. O livro, com 348 páginas e 400 ilustrações, resulta de dois anos de investigação que tratou cerca de 1.500 documentos, alguns inéditos, 400 artigos e opúsculos, 60 livros, de arquivos públicos e particulares.
Na falta do processo instaurado na época pelo juízo de instrução criminal e convenientemente sumido depois do cinco de Outubro algures no gabinete de Afonso Costa, a obra centra-se na documentação possível dos factos ocorridos na trágica data, obviamente sem que se possam assacar conclusões cabais.
Sobre o assunto, o Juiz Desembargador Rui Rangel, a quem coube a apresentação da obra, salientou a fatídica tradição nacional da incapacidade da instituição judicial portuguesa em evitar a interferência dos poderes políticos. Como exemplo, o orador referiu, além do regicídio de 1908, o assassinato de Humberto Delgado e o caso Camarate.
Uma obra a não perder, em abono da verdade.

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Votaria no centrão

Como o definiria politicamente? Difícil. Ele nunca me fala desses assuntos, mas a avaliar pela indiferença com que segue o noticiário politico-partidário diria que é um outsider.
Se votasse suponho que seria no centrão. Mais pelas afinidades que eu noto entre ele e alguns líderes dessa área, do que por questões de ordem programática. É que reconheço no seu porte alguma arrogância socrática e tal como Cavaco também não lê jornais, nunca se engana e raramente tem dúvidas.

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quarta-feira, janeiro 30, 2008

Há 60 anos, assassinaram Mohandas K. Gandhi

«I suggest that we are thieves in a way. If I take anything that I do not need for my own immediate use and keep it, I thieve it from somebody else. It is the fundamental law of Nature, without exception, that Nature produces enough for our wants from day today, and if only everybody took enough for himself and nothing more,there would be no pauperism in this world, there would be no man dying of starvation». M. K. Gandhi

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Antologia Corta-Fitas (XII)

«Mila kuda su plania» ou «Mila kura si planina»?


Consta que a derrota da Inglaterra frente à Croácia na passada quarta-feira não foi marcada apenas pelo afastamento dos ingleses do Euro-2008. O momento alto da festa (croata) foi mesmo uma interpretação algo original do seu hino. Esta originalidade pode ter escapado à maioria dos 80 mil espectadores do estádio de Wembley, visto serem ingleses, mas não deixou de suscitar dúvidas aos adeptos croatas: “O que foi que ele disse?”, terão perguntado. É que Tony Henry, cantor de ópera britânico, ao invés de ter dito «Mila kuda su plania», que quer dizer «sabes querida como gostamos das tuas montanhas», entoou «Mila kura si planina», que significa «minha querida, o meu pénis é uma montanha». Mas parece que os croatas atribuem a vitória sobre a selecção inglesa a esse episódio – que terá, porventura, relaxado os jogadores – e, assim, como em equipa que ganha não se mexe, convidaram-no já para entoar o hino nacional por alturas do Europeu. Pelos vistos, a língua croata é, também, muito traiçoeira…

Maria Inês de Almeida, 25 de Novembro de 2007

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O auto-retrato

Para quem ainda não o conhecia ou não via com assiduidade os seus excelentes comentários na SIC-Notícias (agora, infelizmente, transferiram-se para a TV Net), está disponível na blogosfera o auto-retrato de Paulo Gorjão. Em pose séria e com a arma do crime ao fundo (o teclado assassino), Gorjão está no seu melhor. Gostei de o rever, meu caro. E fique sabendo que não estou impedido de comentar nada, nem o PSD (desde Setembro, como você ironiza), nem o seu auto-retrato.
P. S. - Peço desculpa por ilustrar este meu humilde post com um outro auto-retrato, de certo menos ilustre que o supracitado...

Remodelação? Não houve...

Este blogue de marretas, como diz um amigo meu, passa completamente ao lado da mini-remodelação de José Sócrates. Também seria pedir muito a um grupo de spinners a soldo do Governo. Eles não escrevem porque o chefe não deixa. Ou então os sub-chefes têm guia de marcha daqui a pouco tempo e o mais vale é ficar quieto. Ficam caladinhos sobre o assunto do dia e depois inventam umas trapalhadas que só comprovam que não percebem mesmo nada disto tudo. Eu a defender quem? Eu não defendo ninguém, só faço jornalismo. E no caso que relatam, pecam por defeito. Dei notícias nos últimos dias sobre os vários players em jogo. Mas ao tal do "Miguel Abrantes" basta-lhe ler uma, se possível a última, e inventar uma série de disparates.
Vá lá, ó "Abrantes" escreva qualquer coisinha sobre os dois ministros que foram despachados. Estamos todos em pulgas para saber a sua opinião isenta, em mais um brilhante post escrito a quatro ou a seis mãos.

Antologia Corta-Fitas (XI)

Morreu alguém
que me vai fazer falta
Há mortos que nos levam um pouco com eles. Calculo que em Portugal haja meia-dúzia de pessoas que conheçam o Bussunda, o maior humorista brasileiro da actualidade, que morreu ontem, aos 44 anos. Conhecia-o (mal) de há muito tempo, quando, no início dos anos 80, estudámos na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele em Comunicação Social, eu em Economia. Depois, também eu, brevemente, em Comunicação Social.
Na altura, já era conhecido como Bussunda, embora o seu nome fosse Cláudio Besserman, e editava, com um grupo de amigos, o jornal Casseta Popular, que se vendia no campus e nas praias cariocas, ou em shows inesquecíveis em pequenos bares de Botafogo.
Falei com ele apenas três ou quatro vezes, mas o humor radical que já então praticava marcou-me até hoje, apesar de nunca mais o ter encontrado. Bussunda nunca poupou ninguém. A Direita, que então todos combatíamos, e a Esquerda, o que então era novidade. Ridicularizava os clichés de todos os quadrantes, com uma crueldade fascinante.
Na altura, eu era militante do PT (e durante um tempo pertenci a uma corrente trotskista, imaginem) e concorri numa lista para a direcção do núcleo estudantil da Universidade. Bussunda e um grupo de “anarcas” concorreu numa outra lista intitulada “Overdose, esfaqueie sua mãe”. Prometeram “caipirinha no bandejão” (nome como era conhecida a cantina universitária) e, antes da eleições, mostrando que iriam cumprir, foram despejar uma cachaça de terceira categoria no aguado sumo de limão que era servido aos estudantes.
No momento da apuração dos votos, cada vez que um membro da sua lista era chamado para fiscalizar a contagem, ele e os seus companheiros da “Overdose”, devidamente embriagados em pleno anfiteatro da universidade, gritavam “deixa roubar, deixa roubar” e não mandavam ninguém. Mesmo assim, ficaram logo atrás da nossa lista “petista” e à frente da do PC (pró-Moscovo) e do PC do B (maoistas) que ambos desprezávamos.
O seu jornal tornou-se conhecido, a Globo convidou-o para um programa de televisão semanal, que eu costumava ver no GNT, e ele tornou-se famoso em todo o Brasil. Apesar da “normalização”, Bussunda continuava a ter lampejos de selvajaria humorística que trucidaram consecutivamente Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Este último era caricaturado pessoalmente por ele, embora Bussunda o tivesse apoiado em várias eleições.
Mas não eram só políticos. Intelectuais e artistas de novela, empresários e pregadores de moral, corruptos de vária ordem, machões e bichas loucas, ninguém escapava ao humor de Bussunda e do seu grupo.
Em Portugal, nem nos bons tempos de Herman José, nunca tivemos ninguém parecido.
Foram estas as recordações imediatas que me ocorreram quando soube da morte dele, eu que o conheci tão mal. Mas a notícia deixa-me triste e com a sensação de que perdi alguém que iria sempre ridicularizar por mim aqueles que eu não tenho coragem, nem talento, nem oportunidade para enfrentar. Sei que no Brasil há milhões de pessoas que sentem o mesmo.
É bom ter um blogue para poder escrever isto.

Duarte Calvão, 18 de Junho de 2006

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Malhas que as petições tecem

As críticas de Alegre e o receio de Sócrates


A mini-remodelação que José Sócrates ontem anunciou, enquanto decorria a abertura oficial do ano judicial, responde a todos aqueles que juravam pela inutilidade do milhão e duzentos mil votos obtidos há dois anos nas urnas por Manuel Alegre. Percebe-se agora muito bem que o histórico socialista pode condicionar a renovação da maioria absoluta do PS. A possível repetição nas legislativas de 2009 do que ocorreu nas presidenciais de 2006 e da eleição intercalar em Lisboa do Verão passado (em que Helena Roseta, sem máquina partidária, obteve 10%) é talvez hoje o maior pesadelo do primeiro-ministro. As críticas de Alegre ao péssimo desempenho do ministro da Saúde, dando voz ao que milhares de socialistas pensam, ditaram o destino de Correia de Campos. Mais ainda: a substituição de Campos por uma ex-apoiante de Alegre, com a clara intenção de condicionar as intervenções críticas do poeta nesta área, são a melhor prova de que Sócrates receia o ex-candidato presidencial. Há uma esquerda socialista que, não se revendo no PCP nem no Bloco, jamais voltará a votar no actual primeiro-ministro mas optaria por uma alternativa eleitoral corporizada por Alegre, que também sem aparelho obteve 20% na corrida a Belém. Quem desvalorizar isto arrisca-se a falhar todos os vaticínios.
Alegre, que teve um papel importante nas presidenciais, pode ter uma intervenção decisiva nas próximas legislativas. Tudo depende da sua vontade. E Sócrates sabe isso melhor que ninguém. Daí o seu receio.

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Admiração profissional

Os meus parabéns a quem calculou, com milimétrica precisão, o timing do anúncio da micro-remodelação governamental. Mesmo a tempo de desviar os directos já preparados para as declarações de Marinho e Pinto. Muito bom trabalho, rapaziada! Mesmo assim, houve algum eco... eco...eco...

Por qué no te callas? (7)

"O Estado está a modernizar-se para servir melhor as pessoas."
José Sócrates, hoje, em Lisboa

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A melhor década do cinema (37)


VIAGEM EM ITÁLIA
(Viaggio in Italia, 1953)
Realizador: Roberto Rosselini
Principais intérpretes: Ingrid Bergman, George Sanders, Maria Mauban, Anna Proclemer, Paul Muller, Anthony LaPenna, Natalia Ray
"Faltava este filme para limpar de uma vez por todas a Sétima Arte das suas escórias declamatórias e sentimentalistas." (Claude Beylie)

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Toca a votar

Já aí está, o nosso novo inquérito. A ver se os nossos leitores têm uma pontaria tão afinada para prever quem ganhará os Óscares como tiveram para antever a saída de Isabel Pires de Lima.

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SNS - Porquê tanta revolta? (7)


Durante as visitas à enfermaria dos Capuchos havia dois assuntos que dominavam as conversas da minha avó: as queixas sobre o seu estado de saúde, que evoluía com demasiada lentidão para o seu gosto, e as queixas sobre o pessoal de enfermagem e auxiliar.
Confesso que as descrições dos seus padecimentos me aborreciam, mas quando ela começava a contar o que se passava com as enfermeiras, ouvia tudo com muita atenção. Como nas histórias, havia as boas e as más. Às boas, para ficarem ainda mais boas, dava-se dinheiro, mas com as outras parecia que não havia nada a fazer. Uma delas, que eu identifiquei logo como a chefe das más, era odiada por todos. Respondia torto a toda a gente e sempre que a chamavam não vinha, ou então aparecia só para dar uma descompostura nos doentes, por estarem a incomodar.
A minha mãe ficava muito revoltada com estas coisas, mas quando dizia que ia fazer queixa ao médico, a avó entrava em pânico e pedia-lhe que não o fizesse, com medo de represálias. Eu percebia muito bem o problema dela e ficava cheia de pena a imaginá-la à mercê daquela megera.
Quando a víamos passar pela enfermaria, fazia questão de lhe deitar o meu olhar mais rancoroso. Era o mínimo que podia fazer pela minha avó!

Doutores de Spin



Houve forte comoção em torno da ideia de controlar a política parlamentar do PSD através de uma agência de comunicação. Alguns políticos desse partido ficaram indignados, mas a divisão que fizeram entre política de ideias e política de plástico não faz sentido, pois a primeira não passa de quimera.
Qualquer eleição num país industrializado (veja-se a campanha nos EUA) é cuidadosamente controlada por spin doctors. Nenhum candidato se atreve a falar aos media sem esse controlo. Aliás, todos os desastres ocorrem em declarações ou gestos instintivos. Há inúmeros exemplos, dos gritos de Howard Dean ao mais recente ataque de Bill Clinton a Obama na Carolina do Sul, erro que pode ter custado a Presidência a Hillary.
Nas eleições a sério, pouco divide os candidatos, excepto as suas mais ou menos brilhantes personalidades. Mesmo a governação é hoje de plástico, fortemente condicionada pelos media, nunca perdendo de vista a mediania da classe média (nove em cada dez eleitores) e os seus mínimos denominadores comuns. Tudo é mediatizado, nomeadamente segundo o tempo da televisão, que se mede aos segundos. Não há ideias na política contemporânea, apenas fait divers e simplificações, e o PSD está em pleno debate saído dos anos 70.

D. Carlos, um rei constitucional

(...) "A construção da actual democracia em Portugal foi feita não apenas contra o Estado Novo, mas também contra a I República. Dependeu de uma nova cultura política, em que se admitiu o princípio de que a validade das eleições dependia mais das instituições e procedimentos do que das "qualidades" da população. Dependeu também de se ter voltado a reconhecer novamente, como no tempo da monarquia constitucional, que a razão é algo distribuído a mais de uma opinião ou partido. Obteve-se assim um regime aberto a todos, e em que o voto de todos é a base da alternância no poder.
Os exclusivismos, porém, deixaram herdeiros frustrados. Há quem ainda não tenha percebido por que é que não é dono desta democracia, tal como o PRP foi dono da I República ou os salazaristas do Estado Novo. Eis o que representam os contestatários da comemoração de D. Carlos."
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Rui Ramos no jornal Público

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terça-feira, janeiro 29, 2008

Nos bastidores da remodelação

Sócrates avisou: - "Correia de Campos sai, mas não sai sozinho".
Os ministros começaram todos a sussurrar: - "É o Lino, é o Lino"
Mário Lino, rápido: - "O sr. primeiro-ministro é que escolhe!"
Sócrates olhou em volta. Isabel Pires de Lima estava com aquele ar vago, que tanto o irritava...

Os leitores é que sabem

Com a "remodelação" hoje anunciada, chega ao fim mais um inquérito Corta-Fitas. Os nossos leitores acertaram: Isabel Pires de Lima, a quem Sócrates acaba de conceder guia de marcha, foi a mais votada neste questionário: 96 votos (21% do total). Já Correia de Campos, o outro "remodelado", só ficou em quinto (51 votos, 11%). Mas os leitores estavam cheios de razão: Mário Lino (78 votos, 17%), Maria de Lurdes Rodrigues (63 votos, 14%) e Alberto Costa (53, 12%) também mereciam ir mais cedo para o duche, como se diz em jargão futebolístico. Em compensação, Sócrates fez bem em manter o inconfundível Manuel Pinho (sexto classificado, com 43 votos, 9%). Se existe alguém difícil de substituir neste Executivo é o titular da pasta da Economia...
Recebemos 459 votos neste inquérito. Amanhã começa outro na nossa barra lateral.

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SNS - Porquê tanta revolta? (6)


O pior não foram as manifestações à porta dos hospitais e dos centros de saúde que fecharam as urgências. Lembro-me que com o encerramento das maternidades também houve muito alarido e nem por isso o governo recuou. O sinal mais inquietante surgiu nestas duas últimas semanas, quando as notícias de contestação à política de saúde se começaram a somar a histórias que escapavam à acção do governo mas reflectiam o péssimo funcionamento do nosso SNS.
A caixa de Pandora estava a abrir-se. Coleccionador há longos anos de desconforto, negligência, e precaridade na assistência médica, o povo começou desta forma a responder às restrições do executivo. É que de facto não é legítimo pedir, como nos países desenvolvidos, onde tudo funciona bem, que os utentes prescindam de benefícios, quando aqueles de que gozam não são nem nunca foram razoáveis.
Foi um diálogo surdo, mas não de surdos. E Sócrates percebeu o recado. Com tanta razão de queixa e ressentimento acumulados, esta sucessiva divulgação de casos na praça pública acabaria por incendiar o país.
Antes que o efeito bola de neve se criasse o primeiro-ministro percebeu que tinha que meter travões a fundo. Despediu Correia de Campos e de caminho aprendeu uma lição: “Com a saúde não se brinca”.

Antologia Corta-Fitas (X)

Momentos Kodak (1)
Rodrigo Cabrita, 12 de Julho de 2006


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A voz da sabedoria

Vital Moreira consegue aqui um prodígio de equilibrista: contesta a saída do ministro da Saúde, que vinha defendendo contra todas as evidências, sem beliscar José Sócrates. A isto é costume chamar-se a voz da sabedoria.

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Magistratura de influência

"Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o País em matéria de saúde».

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Sim, por que não?

JOSÉ ANTÓNIO PINTO RIBEIRO, «Breve Sumário da História de Deus: uma visão augustiniana da História?».
Já agora e depois de ter sido simpaticamente corrigido na caixa de comentários, estou com o Pedro Sales:

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Tanta franqueza comove

«Deram tudo o que tinham a dar». Vitalino Canas sobre os ministros substituídos

De fachada

Curiosas companhias, as do novo ministro da Cultura de José Sócrates no Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim. José António Pinto Ribeiro, de seu nome. Apesar de tudo, a remodelação neste caso só pode ser para um bocadinho melhor, porque Isabel Pires de Lima estava condenada há meses, mais concretamente desde que o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, disse publicamente que não concordava com o afastamento de Dalila Rodrigues da direcção do Museu Nacional de Arte Antiga. Se ela já estava em maus lençóis por outros motivos, esse acabou por ser o seu fim.
Quanto à saída de Correia de Campos, mais do que o dedo de Cavaco Silva (que também houve), vejo ali o dedo muito comprido do PS. Contestado dentro do partido, foi Manuel Alegre quem há dias veio dizer que o ministro tinha perdido o pé. Já João Amaral Tomás, saiu porque tinha pedido. Pediu há muito. Sai agora, depois do infeliz episódio de ir à Assembleia da República no dia em que se confirmou que estava demissionário. Curiosamente, segundo consta, Correia de Campos ia amanhã à AR. Já não irá, foi demitido a tempo.
Mas o que espanta nesta mini-remodelação para inglês ver é a resistência do primeiro-ministro em remodelar quem precisa de ser remodelado. Mário Lino à cabeça, Luís Amado (que terá pedido para sair, por motivos pessoais), Jaime Silva ou a ministra da Educação são ministros a prazo. A curto prazo. Já para não falar de Alberto Costa, que não teve nos últimos dias uma reacção decente às polémicas declarações do novo bastonário, António Marinho Pinto.
É por isso que esta remodelação é de fachada e já não esconde o óbvio. Desde que António Costa deixou o executivo para ir para a Câmara de Lisboa que Sócrates não tem um número dois político à altura. Um conselheiro e um estratega. Silva Pereira é verde para isso, Teixeira dos Santos é um técnico. Os outros são todos bons rapazes.

O ministro embaciado fora do Governo

José Sócrates, num assomo de lucidez, decidiu afastar do Governo o ministro cuja imagem estava irremediavelmente embaciada. Já começa a cheirar a eleições. E o que tem que ser tem muita força.

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Mais uma não

O apoio do clã Kennedy a Obama não me surpreende por aí além. Aqui para nós os Kennedy não gostaram da ideia de ver nascer mais uma dinastia de presidenciáveis. Para isso já bastou a dinastia Bush. Já agora, diga-se: e se a seguir a Bill e a Hillary viesse a menina Chelsea Clinton... Um desastre, não?

A ler

1. "A maior parte da corrupção da política não é, por enquanto, corrupção criminal", do José Adelino Maltez.
2. "Do regicídio ao centenário", por Pedro Picoito.
3. "Dizer a verdade", do Carlos Abreu Amorim.
4. "Lisboa no Monopólio", do Paulo Pinto Mascarenhas.
5. "Portugal é cansado de si", do Henrique Burnay.
6. "Os amigos são para as ocasiões", do Pedro Sales.
7. "Odi et Amo (LXVII)", por Filipe Nunes Vicente.

Por qué no te callas? (6)

"Não há um programa mágico que garanta o desenvolvimento económico para um país."
José Sócrates, ontem, no Porto

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Santa Marta

Não gostei de saber que há quem ande, na política ou na universidade, a perseguir a minha amiga Marta Rebelo. Mesmo sendo ela uma militante socialista, próxima de José Sócrates e de António Costa, acho que não merecia. Com menos de 30 anos, a Marta é um portento de inteligência e tudo o que tem ou terá no futuro deve única e exclusivamente ao enorme talento que possui. Licenciada e mestrada em Direito, especialista na área fiscal, a Marta foi assistente de António Luciano de Sousa Franco na Faculdade de Direito de Lisboa, tendo depois transitado para o escritório particular do malogrado antigo ministro das Finanças de António Guterres - ele foi também presidente do PSD, para quem já não se lembre, mas isso foram outros tempos. Além disso, a Marta escreve nos jornais há anos, publicou três ou quatro livros de Direito Fiscal (também publicou "Constituição e legitimidade social da União Europeia", na Almedina) é a autora material da Lei de Finanças Locais. Goste-se ou não do que ela fez no Governo de Sócrates (nos gabinetes do MAI) ou do que está a fazer no Parlamento, não se lhe pode negar mérito. Das duas uma: Ou se trata de uma intriga do PS (elas voltaram em força) ou se trata de uma intriga universitária (que também as há). A Marta Rebelo não tem nada a ver com as centenas de ignorantes que pululam no horizonte partidário, da esquerda à direita, na sua geração ou nas várias anteriores. Ela é de outra fibra.

P.S. - 1) O título deste post é meramente humorístico, para aliviar o ambiente e levantar a moral. Lembrei-me dele porque foi no Parque de Santa Marta, na Ericeira, que aprendi a andar de patins...

2) Aproveito para anunciar que a Marta é a convidada especial do jantar dos dois anos do Corta-Fitas.

Danças?



Estamos a sós com a dança. Da sedução. Danço ao som das tuas palavras, entre as tuas opiniões que, tal como o vestido, se colam ao corpo. Não desvies os olhos… Danço com os erros, danço com os ossos, danço com a chuva, danço com as cores das profundezas. As sapatilhas andam perdidas há já algum tempo. Não importa.
A dança é sempre a mesma, a música não. Não desvies os olhos… Danças?

A melhor década do cinema (36)


O HOMEM TRANQUILO
(The Quiet Man, 1952)
Realizador: John Ford
Principais intérpretes: John Wayne, Maureen O'Hara, Barry Fitzgerald, Ward Bond, Victor McLaglen, Mildred Natwick
"Tem o beijo mais fatal e mais telúrico que alguma vez eu vi na vida ou no cinema." (João Bénard da Costa)

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Palavras que odeio (81)

Pretérito

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SNS - porquê tanta revolta? (5)


Ter a avó no hospital dava muito trabalho. Implicava não só as deslocações à hora das visitas, como também a confecção das refeições em casa. Família que se prezasse não deixava os seus doentes na dependência das dietas hospitalares, famosas pela sua qualidade deplorável. Por isso, à hora das refeições havia sempre um corrupio de tupperwares naquela enfermaria e era fácil distinguir quem podia ou não contar com apoio familiar para resolver a questão da alimentação, tão importante na recuperação dos doentes.
Quando a ocasião se proporcionava ficava a ver a uma distância prudente os menos afortunados a aceitar, com evidente fastio, os tabuleiros que as enfermeiras lhes estendiam. Muitos optavam, simplesmente, por deixar quase tudo no prato e não raro aceitavam, agradecidos, a comida caseira que os companheiros da cama do lado, condoídos, lhes ofereciam.

Ora aqui estão...

...os verdadeiros Lobos. Cliquem aqui e vejam como, se fosse esta equipa a jogar, a vitória jamais nos escaparia.

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Nas colunas

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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Assim tratamos os mortos no meu bairro

Para os que não perceberam logo pela expressão da moça, a legenda explica: artigos religiosos, funerais, cremações.


Santana D.O.C.

Santana Lopes teve uma semana memorável - a receber elogios de António Barreto a Marcelo Rebelo de Sousa e elevado à ordem de arauto da liberdade - por ter sacudido a agência de comunicação do seu partido para fora da bancada parlamentar.
Luis Filipe Menezes tem todo o direito de escolher quem lhe escolhe as gravatas e as intervenções, mas esta ideia de o anunciar aos quatro ventos não é boa para ele: se alguma coisa lhe corre bem, é a agência a trabalhar; se corre mal, é apesar do trabalho da agência (ou não fossem profissionais da comunicação).
Já Santana marca pontos como político e pessoa genuína, a sua imagem de marca e maior qualidade. Parecer genuíno é uma característica importante em tempos de crescente mediatização e de profissionalização da comunicação. Por oposição às construções mediatizadas do seu líder, Santana Lopes surge como alguém como ideias próprias, coragem e uma qualidade de "ser verdadeiro".

Gloriosos momentos

Com uma exibição galharda (gosto desta palavra), o Sporting ontem evidenciou as fragilidades que tem sido seu apanágio esta época: um meio campo pouco versátil e um bloco defensivo lento, às vezes desconcentrado, além da falta de alternativas no banco.
Mas tivemos a sorte que nos tem faltado noutros jogos e acabámos por ganhar bem. Espero que esta vitória inspire a rapaziada para o resto da temporada, pois eu já tinha saudades de festejar estas emoções básicas. Momentos que valeram bem a gripe que se vai revelando agora em mim.

Imagem daqui.

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Caiam na real

Em Espanha, como realça a The Economist desta semana, irão travar-se as primeiras eleições do «rich world» após a crise dos mercados. Lá, tal como aqui, o Governo socialista mantém um discurso de tom marcadamente optimista (outros chamam-lhe irrealista) e prevê uma taxa de 3,1% de crescimento do PIB, contra os 2,4% que reúnem o consenso da reputada revista económica. Zapatero, dizem eles, conseguiu mesmo «uma espécie de processo alquímico ao contrário, ao transformar o ouro económico em chumbo político».
A seu favor, o homem do Z de Zorro tem um trunfo, capaz de apelar ao racional do eleitorado e de convencê-lo da capacidade de o PSOE conseguir aguentar o barco, por maiores que sejam as ondas provocadas pelo turbilhão do sub-prime e do rebentar da bolha imobiliária: Ao lado do líder, Pedro Solbes é alguém cuja reputação e passado como Comissário Europeu continuarão a ser indispensáveis para a estratégia de minorar o medo instalado e de impedir a vitória do PP.
Contra Solbes, Rajoy tem a figura do ex-presidente da Endesa, Manuel Pizarro. O debate televisivo entre os dois promete mesmo vir a ser o acontecimento mais quente dos próximos tempos do lado de lá da fronteira.
Do lado de cá, pergunto-me o que faltará para que entendam que a Economia é o tabuleiro onde se vai perder ou ganhar a batalha decisiva nas urnas. Oscilamos entre um Sócrates que promete um 2008 «ainda melhor» para o País das Maravilhas (suscitando o riso amarelo dos investidores) e um Menezes que navega - ele e os seus soundbytes sem alicerces - ao sabor do vento, arriscando-se a encalhar antes das eleições e a tornar-se mais um Robinson Crusoé, com Ribau Esteves como seu Sexta-feira.
Se a ambos, PS e PSD, ainda resta um bocadinho de sensatez e de espírito lúcido, fariam bem em enfrentar a realidade dos números. E em perceber que o que se passa no xadrez dos mercados pode levá-los ao xeque-mate nas urnas. Caso contrário, já não irão a tempo para antecipar o roque.

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Somos mesmo bons, carago!


O blogue tudoanorte atribuiu-nos o prémio «É um Blog Muito Bom Sim Senhora!». Desde já agradecemos aos seus autores a preferência mas, ao que parece, a honra carrega consigo algumas tarefas e obrigações, nomeadamente a de seleccionarmos sete outros blogues também «muito bons». Deixo esse trabalho para o Conselho de Curadores, muito melhores do que eu nestas amanteigadas funções.

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Quem sabe, sabe

Ou como o mal de uns pode ser o bem de outros: «O Banco Espírito Santo (BES) registou, em 2007, um crescimento de 44,3%, face ao período homólogo de 2006, no seu resultado líquido, para os 607,1 milhões de euros, um valor que saiu ligeiramente acima das estimativas dos analistas». No Jornal de Negócios

A melhor década do cinema (35)


CATIVOS DO MAL
(The Bad and the Beautiful, 1952)
Realizador: Vincente Minnelli
Principais intérpretes: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon, Dick Powell, Barry Sullivan, Gloria Grahame, Rosemary Bartlow, Gilbert Roland, Leo G. Carroll, Vanessa Brown, Paul Stewart
"O melhor filme de Hollywood sobre Hollywood." (Kim Newman)

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Por qué no te callas? (5)

"Não me recordo de um período em que tivéssemos deixado tantas marcas de esquerda."
José Sócrates, ontem, em Alcochete

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Antologia Corta-Fitas (IX)

Elogio da ficção científica

Quando era pequeno, devorava romances da velhinha colecção Argonauta, que o meu pai comprava. Eram pequenos milagres, capas dos melhores pintores e traduções feitas por escritores de qualidade. Foi assim nos primeiros 120 números da colecção. As histórias, essas, eram pura magia: a exploração de mundos imaginários, utopias, civilizações estranhas, viagens e descobertas, alucinações e sonhos, conflitos do futuro e perigos à espreita, fantasias, ideias loucas.
Conheço numerosos leitores de policiais, mas o policial nunca me interessou demasiado. No género literário, sempre preferi a ficção científica (FC). Enquanto o policial se baseia na construção de um mistério, desmontado a pouco e pouco, a FC tem uma ideia base e, à volta desta, desenvolve um ambiente, mais ou menos fora da realidade. Isto explica a razão pela qual a FC tem contos tão bons, de H. G. Wells, Isaac Asimov, Ray Bradbury, Fredric Brown ou Philip K. Dick, entre muitos outros. Expor uma ideia, por muito complexa que seja, pode não precisar de muito texto. Alguns excelentes escritores tentaram o género, por vezes começaram as suas carreiras a escrever contos de FC. É o caso, por exemplo, de Kurt Vonnegut, um nobelizável, que tem um livro publicado na colecção Argonauta, no início da fase descendente desta. Em português, ficou com o título abstruso de Utopia 14, mas na realidade é um romance inicial do grande escritor, Player’s Piano, uma distopia sobre um mundo altamente mecanizado, onde os robots substituíram inúmeros trabalhadores. A sociedade divide-se entre os que trabalham (sob a ameaça de perderem os respectivos empregos) e uma espécie de "ralé", que não tem ocupação e vive da assistência social. O livro, muito irónico, foi escrito nos anos 50 e parece-se demasiado com o mundo contemporâneo.
Há outros exemplos de grandes escritores que começaram na FC, Bradbury, Ballard, mas o meu favorito é Philip K. Dick, que penso ser um dos maiores do século XX. Dick é um visionário e traz para a literatura duas ideias fundamentais: a incerteza sobre o que é o real e a manipulação constante que o ponto de vista exerce sobre a realidade. O autor cria constantes jogos mentais em torno destas duas noções. Não é por acaso que tem sido tão adaptado (e imitado e até plagiado) em recentes filmes de Hollywood.
Este post já vai demasiado longo (podia escrever o dia todo sobre este encantamento) mas não queria deixar de alertar o leitor que pretenda prosseguir estas pistas para uma descoberta que fiz recentemente, inteiramente por acaso. Existe uma robusta tribo de FC em Portugal, que sabe sobre o tema, que publica regularmente contos originais de FC. Suponho que é uma forma de resistência.

Luís Naves, 3 de Novembro de 2006

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SNS - porquê tanta revolta? (4)


Durante algum tempo pensei que os hospitais que se viam nos filmes eram a fingir, mas o episódio do Fred, largamente comentado na família, abriu-me os olhos.
O Fred era um simpático alemão, natural da Baviera, que tinha casado havia pouco tempo com uma prima que um dia quis visitar a minha avó no hospital.
Não se sabe se foi aquele cenário em adiantado estado de degradação, se o calor ou o cheiro. O certo é que nem a robustez germânica o conseguiu poupar do embaraço de ter que sair dali rapidamente, branco como a cal, pelo braço da mulher.
Por coincidência um grupo de médicos assistiu à cena e um deles, mais atrevido, abeira-se da família e pergunta em tom acintoso: “O que é que lhe aconteceu?” Ao que um de nós lhe respondeu: “Aquele senhor é alemão e até hoje nunca tinha entrado num hospital português”.
Foi remédio santo. A conversa morreu logo ali.

Volta a Portugal

O sr. Ministro da Saúde inaugurou uma nova prova desportiva nacional. Trata-se da Volta ao Portugal das Televisões. Não há um dia em que não esteja na RTP, na TVI, na SIC, na SIC Notícias. Só falta ir ao “Fátima Lopes”, ao “Portugal no Coração” e ao “Você na TV”. Lá chegaremos. O assessor que o sr. José Sócrates lhe enviou para o ajudar a educar as massas não tem mãos, nem telefones, a medir: água mole em pedra dura tanto bate até que fura, acreditam. Não há centros de saúde abertos? Há ambulâncias. As ambulâncias não chegam a tempo, porque na maioria dos casos os bombeiros são voluntários e não têm de estar vinculados a servir quem não lhes paga ou, sequer, os ouve? O Governo avançará com helicópteros. Há casos, como em Chaves, onde as ambulâncias não funcionam dois dias por semana porque os médicos, que fazem ali uma “perninha” depois de saírem dos hospitais onde trabalham, têm de descansar? Passa-se uma esponja por cima. E a comunicação social nem está a ouvir todo o país real. Como os políticos acreditam que tudo se resolve no telejornal das oito da noite, a castanha ainda há-de rebentar no saco dos votos do sr. Sócrates. Os portugueses são um povo de brandos costumes: aumentam-lhes os impostos, o pão, o leite, aldrabam-nos com as taxas de inflação durante 10 anos seguidos, e tudo aguentam. Só há uma coisa que lhes mete medo: a saúde. Porque sem ela nem sequer há força para encolher os ombros.

domingo, janeiro 27, 2008

Renascimento

Gostei de ver o Sporting hoje. Vitória por 2-0 contra o FC Porto, com um golo do Vukcevic e outro de Ismailov. Bom esforço inicial, bom controlo do jogo após os dois golos (com muita contenção defensiva, é certo) e uma exibição monumental de Pereirinha, que anulou Quaresma. Apesar de tudo (e da distância), parece que renascemos para o campeonato. Já é qualquer coisa e merece a manutenção de Paulo Bento, que teve a excelente opção de colocar Vukcevic ao lado de Liedson. Ele é muito melhor que Purovic (e do que Djaló, ultimamente) e joga bem em qualquer posição avançada.

Sem emenda

Há pessoas que não têm emenda, como dizia em tempos Paulo Portas sobre o seu PP. A notícia a que o Paulo Gorjão alude não se ficou a dever a nenhum dos seus brilhantes posts. Simplesmente, a informação não estava toda disponível até ao momento. Na altura em que me lançou mais aquele desafio, eu não podia dizer-lhe isso, nem tinha que o fazer. Eu e outro jornalista estávamos há uns tempos a deslindar sobre que matéria era ou não abrangida pelo segredo de Justiça. Quando passou a haver informação suficiente, filtrada e pesadas todas as condicionantes, avançámos. Portanto, não tente recolher louros por aquilo que não merece. Como viu, não tinha caído no esquecimento. Comigo nada cai no esquecimento. Mas, como lhe disse, a agenda mediática não é ditada por bloggers de serviço, mas pelo interesse público, notoriedade, actualidade e, acrescento, pelo grau de apuramento da informação. Certo? No entanto, fico feliz por si e espero que possa continuar nessa condição num futuro mais ou menos próximo.

Nas colunas

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Gostava muito

De ler o comentário do Paulo Gorjão a esta notícia. Ou então a esta. Tanto faz.

O factor Bill

A vitória de Barack Obama na Carolina do Sul, ainda por cima com números estrondosos (55% contra 27%), mostra que Hillary Clinton está em queda vertiginosa, apesar de surgir bem colocada nas sondagens nacionais - onde rivaliza com John McCain, o mais destacado dos republicanos. Mas o que me espanta mais não são os bons resultados de Obama (que conseguiu o apoio de Oprah e de John Kerry, o candidato democrata que teve mais votos na História dos EUA, apesar de derrotado por Bush), é o desespero que o casal Clinton tem revelado nas primárias democratas. Bill, antigo Presidente durante dois mandatos, resolveu deixar os afazeres da fundação com o seu nome e os jogos de golfe um pouco por todo o mundo para ajudar a sua mulher na candidatura. Coisa que não fez com Al Gore (que foi seu vice-presidente) nem com Kerry. É evidente que a família está acima de tudo, mas sinceramente não esperava que um antigo Presidente dos EUA se revelasse tão desesperado por vir a desempanhar o papel de "primeira dama". Eu sei que muitos (e muitas) gostavam de ver pela primeira vez uma mulher à frente dos destinos da Casa Branca. Também gostavam de ver o "macho" (ainda por cima um "traidor" e "mulherengo") remetido a um papel meramente protocolar e de retaguarda. Mas ao menos que esperassem por algo um pouco melhor. Eu aposto em Condoleezza Rice para daqui a uns anitos...

Onde é que o pai e mãe se conheceram?


Durante o almoço de ontem, o meu irmão, em brincadeira, diz ao nosso priminho João Pedro, de 5 anos, que os pais se conheceram nos escuteiros e que ele havia de gostar de ser um “lobito”. João não quis saber de ser escuteiro, mas sim de esclarecer com a mãe onde é que afinal ela teria conhecido o pai. Questão em que nunca teria pensado até então, por tão óbvio que lhe aparentava ser. Curioso, olha para a mãe e pergunta: Não foi nos escuteiros, pois não? A mãe sorri e nega com a cabeça. Confiante e detentor da verdade afirma: foi no infantário que o pai conheceu a mãe!
Onde mais poderia ter sido?

O ministro embaciado

Um velho transmontano morre no hospital de Vila Real, onde permaneceu em condições indignas e recebeu alta de modo aparentemente irresponsável, vindo a ser internado novamente horas depois - já demasiado tarde. O ministro da Saúde, numa das múltiplas entrevistas que deu nos últimos dias na vã tentativa de limpar a sua imagem irremediavelmente embaciada, disse ontem na SIC que se tratou de um "pequeno acontecimento" enquanto recomendava mais "responsabilidade ética" aos órgãos de comunicação.
Correia de Campos preferia que notícias como a de Vila Real fossem silenciadas. Azar dele: não são. E a morte de um ser humano, lamento informá-lo, nunca é um "pequeno acontecimento". Sobretudo quando ocorre nas lamentáveis circunstâncias em que este ocorreu.

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A melhor década do cinema (34)


RIO BRAVO
(Rio Bravo, 1959)
Realizador: Howard Hawks
Principais intérpretes: John Wayne, Dean Martin, Ricky Nelson, Angie Dickinson, Walter Brennan, Ward Bond
"Um clássico americano." (Leonard Maltin)

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Por qué no te callas? (4)

"Tenho a certeza que ele [o bastonário da Ordem dos Advogados] não se referia a nenhum membro do actual Governo nem a nenhum ministro deste Governo."
José Sócrates, ontem, em Monsaraz

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Antologia Corta-Fitas (VIII)

Janelas

Interrompo o trabalho no computador, levanto-me, espreguiço-me, e passando pela janela olho a praceta enlameada lá em baixo. Cruzo o olhar com o homem do bar vizinho que apanha umas folhas molhadas da esplanada. Intimidados, cada um recolhe “à sua vida”.
A Carolina, na janela da cozinha, sentada sobre o cesto da roupa suja, desvia a cortina e aí fica a ver o movimento da rua, as cores dos carros, a Marta que volta tarde da escola. A chuva copiosa que cai. Com sorte, ainda apanhará a mãe a chegar do trabalho.
No auge da minha inocência, tive direito às minhas janelas. Horas vagas ou de preguiça, intervalos de brincadeiras e de deveres adiados. Refúgios solitários, tempos de crescimento.
Em Campo d’ Ourique, no terceiro andar, a janela da sala da casa dos meus pais foi minha companhia de longas e íntimas horas. Contraditórios momentos de tédio e contemplação. Quantas esperas. Num qualquer Domingo de Inverno, à tarde, com o cachecol verde e branco de lã tricotada, sentado com o queixo no parapeito à espera do tio Manel, no seu mini cor de vinho, para irmos a Alvalade. Esperas intermináveis. Lá do cimo, via o gato fugir para baixo do "carocha" beije do meu pai. Via as vizinhas que esbracejavam uma qualquer conversa banal. À minha esquerda, ao longe, o panorama da Avenida Duarte Pacheco a debitar o veloz trânsito para Monsanto ou para as Amoreiras. E telhados de casa baixas, até ao pátio da Escola da Câmara logo ali em baixo. Do meu lado direito, a mercearia da Sra. Natália… frutas encaixadas, vidas do bairro, rua acima, rua abaixo. Ao fundo a Igreja do Sto. Condestável, com o seu enorme vitral neogótico, delimitava a minha vista. A televisão, atrás de mim, a passar o TV Rural...
Um dia qualquer em Junho, depois de passar no exame da quarta classe, abanquei nessa janela à espera da minha bicicleta, promessa antiga, que com a minha mãe comprara dias antes na Rua do Crucifixo. Se bem me lembro aí dediquei dois ou três dias de interminável espera e cogitação. Vinha uma carrinha de carga, o coração acelerava… repentinamente virava à direita para a Ferreira Borges… bolas! Quando iria ser finalmente feliz? Distraído, contava os carros e fazia secretas apostas. E forçava a recordação visual da bicicleta escolhida, verde metalizada… brilhante cor de sonho. Ironicamente, foi durante uma fortuita e mais demorada ida à mercearia, a recado da minha mãe, que chegou a encomenda. “João! Chegou a bicicleta!”, gritavam as minhas irmãs miúdas enquanto eu chegava a casa com as compras…
Depois, houve aquelas janelas sem vista, que me deixaram um chorrilho de memórias em sons. Pregões e pífaros de amolador, ou o cantar da passarada. As andorinhas e criançada a brincar. Assim era em Campo d’Ourique.
Outra janela da minha vida foi na casa da minha avó, na Avenida da Liberdade. Uma varanda, no caso. Ali, o que me animava era o movimento e trânsito intenso, os autocarros verdes e brancos, uns anunciando uma bebida de chocolate, outros uma qualquer marca de baterias. E o que me divertia ali do primeiro andar, a ver o ciclista estafeta da Marconi à pendura no varão da porta traseira do autocarro, subindo “a nove” a elegante Avenida. Uma artéria verdadeiramente cosmopolita, o “coração do império”, plena de actividade e animação. Com enorme excitação, lembro-me de assistir com tios e avós à passagem das Marchas Populares. Lembro-me das vistas das luzes, dos balões coloridos, e guardo ideia dos cheiros secos e quentes de início do Verão. E a abertura da Feira do Livro, que trazia àquelas vistas um mês de distinta animação: dezenas de barraquinhas e gente, muita gente, noite dentro. Com sorte, e mais vinte e cinco tostões, o meu irmão e eu ainda desceríamos as escadas para comprar um livro do Zé Colmeia ou do Bolinha em promoção.
Hoje, em minha casa, mal paro à janela. No máximo, quando está bom tempo, leio à varanda, que não tenho tempo para desperdiçar. Mas, da rua ao fim da tarde, ao chegar a casa, cumprimentando o merceeiro e a vizinha que passa, vislumbro a minha filhota, na janela da cozinha, de sorriso franco que me acena boas vindas. Feliz.

João Távora, 4 de Novembro de 2006

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Domingo

Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Rogo-vos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma linguagem e que não haja divisões entre vós, permanecendo bem unidos, no mesmo pensar e no mesmo agir. Eu soube, meus irmãos, pela gente de Cloé, que há divisões entre vós, que há entre vós quem diga: «Eu sou de Paulo», «eu de Apolo», «eu de Pedro», «eu de Cristo». Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Foi em nome de Paulo que recebestes o Baptismo? Na verdade, Cristo não me enviou para baptizar, mas para anunciar o Evangelho; não, porém, com sabedoria de palavras, a fim de não desvirtuar a cruz de Cristo.

Da Bíblia Sagrada

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Quase perfeito

Não fuma, não bebe, não joga, é frugal na alimentação e dedica à higiene do corpo uma atenção muito superior à da maioria dos homens. Só me chateia a verdadeira obsessão que tem pelas unhas...

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Manhã perfeita de Domingo

A casa está silenciosa. Num extremo estou eu, no computador; no outro, os miúdos, no computador e na play station. De repente, uma seta de culpa acerta-me no peito: deveríamos estar a inter-agir como as famílias nas crónicas do Daniel Sampaio, penso. Levanto-me, atravesso o corredor e vou dar-lhes uns beijos nas bochechas. Eles nem desviam os olhos dos ecrãs. Percebo que estão ocupados a matar umas pessoas e volto para o meu computador.

Imprensa cor-de-rosa

A crónica do Miguel Sousa Tavares no Expresso é excelente. Chama-se A Morte do Islão e começa na perfeição dos jardins do Palácio dos Reis Cristãos de Córdoba para enaltecer a civilização árabe da Península Ibérica até à queda de Granada, em 1492. Depois traça o florescimento da cultura ocidental e a idade das trevas do mundo árabe até aos nossos dias, para acabar numa interrogação sobre os objectivos do fundamentalismo islâmico. De todo o texto só retiraria a adjectivação de "barbudos" à casta teocrática, que é pueril, e o "nossas" na referência à forma igualitária como o Ocidente trata as mulheres. Não trataremos da mesma forma as mulheres "deles", se tivermos oportunidade? É uma crónica corajosa, que quase me fez esquecer a estucha que foi ler o Rio das Flores.

sábado, janeiro 26, 2008

Maria Clementina

Foi há muito, muito tempo por esta altura do ano que encontrámos a Maria Clementina abandonada numa ninhada de gatos. Voltávamos então para casa nós os cinco irmãos ainda pequenos, com a minha mãe, de regresso de uma tarde de brincadeira no Jardim da Estrela. A memória é vaga, mas lembro-me de que a bichana não abria os olhos, e que parecia desesperada com o seu miar débil e insistente. Apesar do aspecto raquítico foi escolhida pelo seu traje original: focinho rosado sob uma mascarilha branca, pêlo prateado com umas imaculadas luvas e botinhas brancas nas patas.
Acomodada numa caixa de sapatos, e sem parar de gemer, cedo o bicho chamou a atenção do meu pai no seu escritório. Terá sido assim, desviando a atenção da sua eterna leitura, que resmungou o seu primeiro voto de desagrado pela adopção. Voto que pairaria pesando por alguns anos sob a vida da gata e sobre a minha cabeça.
Foi à noite, connosco todos de pijama à volta da cama dos meus pais, que a minha mãe conseguiu injectar um pouco de leite com uma seringa de plástico na minúscula boquinha da gatinha. E foi nessa ocasião que nós a baptizámos de "Maria Clementina", ao que a minha mãe, com o seu peculiar sentido de humor, acrescentou o apelido "Joly Braga Santos". Este foi o polémico nome da gatinha, que tanto chocaria a nossa fiel mulher-a-dias, a Lídia, senhora de profunda religiosidade e tão ciosa do seu culto mariano.
Maria Clementina cresceu em sabedoria e graça, já que de tamanho nunca foi grande coisa. Fazia grandes e repentinas corridas pela casa fora, trepava paredes e cortinados, apanhava moscas com a patinha e rebolava enrolada na minha mão mordiscando-a com pequenos coices. Adoptei-a como minha, e com o tempo a propriedade foi-me reconhecida por todos, excepto pela própria: de sesta em sesta, saltitava de colo em colo e de noite para noite aninhava-se em diferentes camas, coisa que me deixava algo despeitado e ciumento. Mas lembro-me bem de ter assistido a várias Tardes de Cinema dominicais com a Maria Clementina ronronando aninhada nas minhas pernas cruzadas. Eu esforçava-me por legitimar a minha hegemonia e assumia o árduo trabalho de criar um felino naquele terceiro andar em Campo d’Ourique: tratava do caixote renovando a serradura e cuidava da sua alimentação, surripiando os mais apetitosos restos de comida e, sempre que se proporcionava, numa ida às compras, adicionava umas latas de Kitty Cat ao carrinho. Esses dias eram especiais, pois conquistava o coração da Maria Clementina, que enquanto eu suava a abrir a lata subia pelas minhas pernas, em sonoros roncos de prazer.
Mas o facto é que a gatinha vivia lá em casa numa semi-clandestinidade, e isso era uma sombra negra na minha vida, e penso que também dos meus irmãos. Após uma primeira rejeição pela parte do meu pai, Maria Clementina conquistou-o por um curto período, quando, graciosa e ainda bebé, fazia irresistíveis brincadeiras e jogos que só a uma besta poderiam deixar indiferente. O problema adensou-se com o tempo: a gata adquiriu o vício de arranhar os sofás, crescia e perdia o encanto. O pior era quando periodicamente era acometida por umas estranhas crises que chegavam a perdurar infindáveis dias, em que “uivava” autenticamente, arrastando-se languidamente pelo chão, indiferente às nossas zangas e chamadas “à terra”. Era o cio. Por essa altura a minha mãe caíra doente, situação que perduraria por muitos anos, e por grandes que fossem as fúrias do meu pai contra o bichano, nós as crianças nunca soubemos bem como lidar com tal situação.
Aconteceu uns anos mais tarde, quando a Maria Clementina lutava com uma feia doença na pele que o veterinário e eu não conseguíamos debelar. Foi numa tarde fria de Inverno pelas vésperas de um Natal qualquer, que aquilo que eu mais temia aconteceu. A gata, numa das suas incontidas correrias, deitou a árvore de Natal ao chão, e partiu umas peças de porcelana de que o meu pai tanto gostava. Nesse dia, quando cheguei a casa, já não ouvi a sua fúria insana que ocorrera minutos antes, só os choros reprimidos das minhas irmãs. Quanto à Maria Clementina, a bronca tinha sido a gota d’água e a sentença desta vez era irremediável.
A nossa gatinha, por ordem inabalável do meu pai, foi abandonada nesse dia na rua, ali para o lado dos Bombeiros. Ainda a vi refugiar-se assustadíssima debaixo de um carro estacionado. Era a sua primeira experiência de rua.
Durante muito tempo, confundi a pena que tinha do bicho com a pena que tive de mim. Durante muito tempo, quando passava naquela esquina da Rua Correia Teles com emoções contraditórias, procurava, incrédulo, sinais da Maria Clementina. Que afinal nunca mais deu sinal de vida.

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Antologia Corta-Fitas (VII)

Guerreiro na sombra


Ouvi dizer que este senhor está de férias desde 22 de Janeiro de 2006.
José Carlos Carvalho, 11 de Abril de 2006

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SNS - Porquê tanta revolta? (3)


Estreei-me nos Capuchos, em Lisboa. Nesse tempo ainda deixavam as crianças visitar os doentes nos hospitais. Com a curiosidade dos meus seis anos, à medida que me encaminhavam pela mão para a enfermaria onde a minha avó recuperava de uma fractura, fui registando tudo o que me interessava: detalhes (no mundo miúdo dos miúdos os detalhes têm sempre muita importância).
Nesse tempo, o hospital – como a generalidade dos hospitais deste país – ainda não tinha levado obras, daí que a minha memória da época tenha as tintas dos romances de Dickens. Tudo sombrio, sujo, fedorento e enorme.
Despachados os beijinhos à avó, que odiei ver sem a dentadura postiça, minha mãe libertou-me da sua vigilância e então pude circular. Talvez por intuírem que os adultos as gostam de poupar aos aspectos sórdidos da vida, quando a oportunidade espreita as crianças procuram sobretudo o que não encaixa na imagem que lhes dão da realidade. Por isso, foi quase com avidez que passei em revista aqueles corpos mirrados e tristes, cobertos por colchas puídas e lençóis encardidos. Na meia luz da enfermaria fiquei a olhar para os tectos rachados e pretos de bolor, com estalactites de caliça. Mas o pior era aquele cheiro, aquele cheiro, aquele cheiro...

Naquele dia fiquei a saber como era um hospital a sério (os que eu via nas séries de televisão americanas afinal eram todos a fingir) e descobri que a minha avó era muito mais corajosa do que eu pensava.

Antologia Corta-Fitas (VI)

A máscara


Quem se esconde por detrás desta máscara?
Leonardo Negrão, 17 de Dezembro de 2006

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Por qué no te callas? (3)

"O senhor secretário de Estado [dos Assuntos Fiscais] pediu-me há uns meses para sair por razões pessoais."
José Sócrates, ontem, em Évora, dez dias depois de ter negado esta demissão

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As palavras dos outros

"Comemorar o assassinato de um homem talentoso e bem-intencionado, prisioneiro do seu tempo e de uma velha história, não devia provocar a intolerância e a estupidez da esquerda."
Vasco Pulido Valente, Público

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Postais blogosféricos

1. José Pimentel Teixeira tem novo endereço no seu Ma-Schamba.
2. Não dá para ignorar o segundo aniversário do Designorado. Parabéns ao Luís Rodrigues.
3. Gosto deste blogue. E recomendo-o.

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A melhor década do cinema (33)


A ESTRADA
(La Strada, 1954)
Realizador: Federico Fellini
Principais intérpretes: Giulietta Masina, Anthony Quinn, Richard Baseheart, Aldo Silvani, Marcello Revere, Liva Venturini
"A realização de Fellini e o trio de protagonistas transformaram esta história simples num dos filmes justamente mais celebrados de sempre."
(Charles Matthews)

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