As críticas de Alegre e o receio de Sócrates
A mini-remodelação que José Sócrates ontem anunciou, enquanto decorria a abertura oficial do ano judicial, responde a todos aqueles que juravam pela inutilidade do milhão e duzentos mil votos obtidos há dois anos nas urnas por Manuel Alegre. Percebe-se agora muito bem que o histórico socialista pode condicionar a renovação da maioria absoluta do PS. A possível repetição nas legislativas de 2009 do que ocorreu nas presidenciais de 2006 e da eleição intercalar em Lisboa do Verão passado (em que Helena Roseta, sem máquina partidária, obteve 10%) é talvez hoje o maior pesadelo do primeiro-ministro. As críticas de Alegre ao péssimo desempenho do ministro da Saúde, dando voz ao que milhares de socialistas pensam, ditaram o destino de Correia de Campos. Mais ainda: a substituição de Campos por uma ex-apoiante de Alegre, com a clara intenção de condicionar as intervenções críticas do poeta nesta área, são a melhor prova de que Sócrates receia o ex-candidato presidencial. Há uma esquerda socialista que, não se revendo no PCP nem no Bloco, jamais voltará a votar no actual primeiro-ministro mas optaria por uma alternativa eleitoral corporizada por Alegre, que também sem aparelho obteve 20% na corrida a Belém. Quem desvalorizar isto arrisca-se a falhar todos os vaticínios.
Alegre, que teve um papel importante nas presidenciais, pode ter uma intervenção decisiva nas próximas legislativas. Tudo depende da sua vontade. E Sócrates sabe isso melhor que ninguém. Daí o seu receio.
Alegre, que teve um papel importante nas presidenciais, pode ter uma intervenção decisiva nas próximas legislativas. Tudo depende da sua vontade. E Sócrates sabe isso melhor que ninguém. Daí o seu receio.
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