terça-feira, fevereiro 19, 2008

Défice de oposição

O enorme défice de oposição ficou bem patente na ronda de reacções na SIC Notícias que ontem se seguiu à entrevista com Sócrates. Nenhum dirigente de primeiro plano se dignou falar, desperdiçando assim uma notória oportunidade de fazer passar uma mensagem ao País. Os que falaram quase só debitaram banalidades. Com destaque para a social-democrata Zita Seabra, que aludiu três vezes ao ar "triste" de Sócrates, obviamente por não lhe ocorrer nada melhor para dizer. Sócrates, por sinal, nem tinha ar triste. Ao contrário de Zita, que parece ser uma daquelas pessoas incapazes de sorrir. Já era assim quando assumia funções de "controleira" no PCP.

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quarta-feira, janeiro 30, 2008

As críticas de Alegre e o receio de Sócrates


A mini-remodelação que José Sócrates ontem anunciou, enquanto decorria a abertura oficial do ano judicial, responde a todos aqueles que juravam pela inutilidade do milhão e duzentos mil votos obtidos há dois anos nas urnas por Manuel Alegre. Percebe-se agora muito bem que o histórico socialista pode condicionar a renovação da maioria absoluta do PS. A possível repetição nas legislativas de 2009 do que ocorreu nas presidenciais de 2006 e da eleição intercalar em Lisboa do Verão passado (em que Helena Roseta, sem máquina partidária, obteve 10%) é talvez hoje o maior pesadelo do primeiro-ministro. As críticas de Alegre ao péssimo desempenho do ministro da Saúde, dando voz ao que milhares de socialistas pensam, ditaram o destino de Correia de Campos. Mais ainda: a substituição de Campos por uma ex-apoiante de Alegre, com a clara intenção de condicionar as intervenções críticas do poeta nesta área, são a melhor prova de que Sócrates receia o ex-candidato presidencial. Há uma esquerda socialista que, não se revendo no PCP nem no Bloco, jamais voltará a votar no actual primeiro-ministro mas optaria por uma alternativa eleitoral corporizada por Alegre, que também sem aparelho obteve 20% na corrida a Belém. Quem desvalorizar isto arrisca-se a falhar todos os vaticínios.
Alegre, que teve um papel importante nas presidenciais, pode ter uma intervenção decisiva nas próximas legislativas. Tudo depende da sua vontade. E Sócrates sabe isso melhor que ninguém. Daí o seu receio.

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domingo, janeiro 27, 2008

O ministro embaciado

Um velho transmontano morre no hospital de Vila Real, onde permaneceu em condições indignas e recebeu alta de modo aparentemente irresponsável, vindo a ser internado novamente horas depois - já demasiado tarde. O ministro da Saúde, numa das múltiplas entrevistas que deu nos últimos dias na vã tentativa de limpar a sua imagem irremediavelmente embaciada, disse ontem na SIC que se tratou de um "pequeno acontecimento" enquanto recomendava mais "responsabilidade ética" aos órgãos de comunicação.
Correia de Campos preferia que notícias como a de Vila Real fossem silenciadas. Azar dele: não são. E a morte de um ser humano, lamento informá-lo, nunca é um "pequeno acontecimento". Sobretudo quando ocorre nas lamentáveis circunstâncias em que este ocorreu.

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sexta-feira, janeiro 18, 2008

O que parece é

Muito interessante, esta revelação de José Medeiros Ferreira.

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quinta-feira, janeiro 17, 2008

Outros tempos, outros costumes


Em Dezembro de 1962, Salazar chamou o seu ministro do Ultramar - tido como uma das figuras mais reformistas do regime - e comunicou-lhe a intenção de alterar a linha de rumo seguida desde Abril de 1961 que levara, entre outras inovações, à abolição da lei do indigenato.
"Nós acabamos de mudar de política", anunciou o presidente do Conselho.
"Então acaba de mudar de ministro", limitou-se a retorquir o ministro, que se chamava Adriano Moreira. Dito e feito: abandonou o Executivo e nunca mais reassumiu um posto governativo.
Hoje é possível mudar de política mantendo inalterado o elenco ministerial. Mais do que possível, é moeda corrente. Mário Lino aí está para o provar.
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Foto: Adriano Moreira em 1961, durante uma visita oficial a África como ministro do Ultramar

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quarta-feira, janeiro 16, 2008

Dá cá, toma lá

«Região Oeste vai ter novo hospital»

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A moção que serve o Governo

O PSD já anunciou a intenção de votar contra a moção de censura ao Governo que hoje será apresentada na Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda. É uma decisão acertada. Esta moção não faz sentido - acaba por servir apenas para que os socialistas cerrem fileiras em torno de José Sócrates, ultrapassando de vez a controvérsia interna provocada pela quebra de mais uma promessa eleitoral (as críticas de António José Seguro ao chefe do Governo, na última reunião da cúpula do PS, são bem sintomáticas). Se de cada vez que o Executivo quebrasse uma promessa eleitoral houvesse uma moção de censura em São Bento, este instrumento político banalizar-se-ia a um ponto insustentável. E note-se que na questão de fundo estou em sintonia com o BE: o referendo ao Tratado de Lisboa devia ter-se realizado, por constituir uma das mais emblemáticas bandeiras eleitorais dos socialistas e por constituir um instrumento indispensável na aproximação dos portugueses ao projecto europeu. Mas transformar a crítica ao PS, justa e merecida, numa irrelevante moção de censura acaba por constituir um bónus ao Governo. Sócrates agradece.
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ADENDA: Dizem-me que o PSD afinal vai abster-se em vez de votar contra, o que não altera o essencial do que fica dito atrás: em termos objectivos, a moção serve os desígnios estratégicos do Governo.

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terça-feira, janeiro 15, 2008

A opositora que serve ao Governo

Zita Seabra fez parte da direcção do PSD-Marques Mendes, que era contra a Ota. Agora faz parte da direcção do PSD-Luís Filipe Menezes, que era (até à semana passada, pelo menos) a favor da Ota. Ontem esteve no Prós & Contras, bradando contra o trocatintismo de Sócrates. Acho comovente a convicção com que esta mulher defende tudo e o seu contrário, apontando incongruências aos adversários políticos do alto da sua imensa autoridade moral nesta matéria. "O País não aguenta mais situações destas", dizia ela ontem na RTP. Fátima Campos Ferreira chamava-lhe "doutora Zita Seabra" e ela não rejeitava o grau de licenciatura que nunca teve...
O Prós & Contras, que já foi um programa interessante, transformou-se numa Parada de Ministros carentes de balões de oxigénio. Correia de Campos esteve lá na semana passada, Mário Lino apareceu lá ontem. Pela oposição, só Zita. Sócrates deve sorrir: não pode haver opositora que melhor sirva ao Governo.

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segunda-feira, janeiro 14, 2008

Recordar é votar

Disse que não aumentaria os impostos, mas subiu o IVA para 21% e criou um novo escalão máximo de IRS; Declarou que não haveria portagens nas SCUT em regiões sem desenvolvimento, e foi o que se viu; Criaria 150.000 postos de trabalho e aumentou o desemprego. Colocaria a Economia a crescer 3% e referendaria o Tratado Europeu: Todos sabemos o que se passou.
Hoje, o Público destaca na sua página 3 as «promessas quebradas e os objectivos falhados», contrapondo ao programa eleitoral do PS as decisões do Governo: Nada de novo, poderão dizer. E, no entanto, há alturas em que a novidade importa menos do que o refrescar da memória, para que entendamos como é possível que um partido político prometa 150.000 empregos e, uma vez no Governo, tente desculpar-se afirmando que «a meta (isto é, o cumprimento do compromisso eleitoral) não depende da sua vontade».
Déjà vu, esta prática de dar o dito por não dito? Transversal ao rotativismo do bloco central, este estar-se nas tintas para honrar a palavra dada a quem os elegeu? Esta prática de prometer o que sabe que não poderá dar? É bem capaz de ser. E é capaz de continuar a sê-lo. Mas a culpa é de todos os que acusam de «falta de carisma» aqueles que se pautam pelos valores e pela honra e se deixam ofuscar pela forma, permanecendo surdos à desafinação dos conteúdos. Recortem esta página do Público de hoje e, em 2009, tirem-na da gaveta. Talvez vos ajude a decidir.

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quinta-feira, janeiro 10, 2008

Cavaco: duas vitórias em dois dias


O Presidente da República impôs a sua agenda ao Governo em dois dias consecutivos, confirmando o papel interventivo que lhe cabe no sistema político português. Ninguém tenha dúvidas: José Sócrates foi forçado a rasgar a sua promessa de convocar um referendo europeu em grande parte devido à posição de Cavaco Silva, que sempre foi contra esta consulta, e trocou a Ota por Alcochete também devido à opinião do Chefe do Estado, que nunca escondeu a preferência pela localização que o Executivo hoje anunciou.
Sem uma palavra em público, Cavaco marcou pontos em dois tabuleiros decisivos. E o ano ainda só agora começou.

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