quarta-feira, janeiro 16, 2008

A moção que serve o Governo

O PSD já anunciou a intenção de votar contra a moção de censura ao Governo que hoje será apresentada na Assembleia da República pelo Bloco de Esquerda. É uma decisão acertada. Esta moção não faz sentido - acaba por servir apenas para que os socialistas cerrem fileiras em torno de José Sócrates, ultrapassando de vez a controvérsia interna provocada pela quebra de mais uma promessa eleitoral (as críticas de António José Seguro ao chefe do Governo, na última reunião da cúpula do PS, são bem sintomáticas). Se de cada vez que o Executivo quebrasse uma promessa eleitoral houvesse uma moção de censura em São Bento, este instrumento político banalizar-se-ia a um ponto insustentável. E note-se que na questão de fundo estou em sintonia com o BE: o referendo ao Tratado de Lisboa devia ter-se realizado, por constituir uma das mais emblemáticas bandeiras eleitorais dos socialistas e por constituir um instrumento indispensável na aproximação dos portugueses ao projecto europeu. Mas transformar a crítica ao PS, justa e merecida, numa irrelevante moção de censura acaba por constituir um bónus ao Governo. Sócrates agradece.
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ADENDA: Dizem-me que o PSD afinal vai abster-se em vez de votar contra, o que não altera o essencial do que fica dito atrás: em termos objectivos, a moção serve os desígnios estratégicos do Governo.

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