Caiam na real
Em Espanha, como realça a The Economist desta semana, irão travar-se as primeiras eleições do «rich world» após a crise dos mercados. Lá, tal como aqui, o Governo socialista mantém um discurso de tom marcadamente optimista (outros chamam-lhe irrealista) e prevê uma taxa de 3,1% de crescimento do PIB, contra os 2,4% que reúnem o consenso da reputada revista económica. Zapatero, dizem eles, conseguiu mesmo «uma espécie de processo alquímico ao contrário, ao transformar o ouro económico em chumbo político».
A seu favor, o homem do Z de Zorro tem um trunfo, capaz de apelar ao racional do eleitorado e de convencê-lo da capacidade de o PSOE conseguir aguentar o barco, por maiores que sejam as ondas provocadas pelo turbilhão do sub-prime e do rebentar da bolha imobiliária: Ao lado do líder, Pedro Solbes é alguém cuja reputação e passado como Comissário Europeu continuarão a ser indispensáveis para a estratégia de minorar o medo instalado e de impedir a vitória do PP.
Contra Solbes, Rajoy tem a figura do ex-presidente da Endesa, Manuel Pizarro. O debate televisivo entre os dois promete mesmo vir a ser o acontecimento mais quente dos próximos tempos do lado de lá da fronteira.
Do lado de cá, pergunto-me o que faltará para que entendam que a Economia é o tabuleiro onde se vai perder ou ganhar a batalha decisiva nas urnas. Oscilamos entre um Sócrates que promete um 2008 «ainda melhor» para o País das Maravilhas (suscitando o riso amarelo dos investidores) e um Menezes que navega - ele e os seus soundbytes sem alicerces - ao sabor do vento, arriscando-se a encalhar antes das eleições e a tornar-se mais um Robinson Crusoé, com Ribau Esteves como seu Sexta-feira.
Se a ambos, PS e PSD, ainda resta um bocadinho de sensatez e de espírito lúcido, fariam bem em enfrentar a realidade dos números. E em perceber que o que se passa no xadrez dos mercados pode levá-los ao xeque-mate nas urnas. Caso contrário, já não irão a tempo para antecipar o roque.
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