À beira da piscina, toda à minha disposição, escuto a
Cavatina dos Shadows - que me traz à memória
O Caçador, um dos filmes da minha vida. Abro um jornal para me inteirar enfim sobre o que se passa no mundo - em Portugal já sei que, como é costume, não se passa nada.
O que me revela o periódico?
1. Líderes islâmicos mundiais reunidos em Córdova exigem a concessão da nacionalidade espanhola a todos os mouros expulsos em 1610 de território andaluz e recomendam a criação de um "observatório internacional contra a islamofobia" que decrete um "livro de estilo para jornalistas".
2. O novo chefe do Estado do Equador, o esquerdista Rafael Correa, advertiu que "há que respeitar a majestade da Presidência" (deliciosa expressão!), justificando assim a detenção de um comerciante que fez gestos obscenos à passagem da caravana presidencial, o que lhe basta para arriscar uma pena entre seis meses e dois anos de prisão.
3. Nicolas Sarkozy continua a surpreender: um em cada cinco membros de altos cargos no novo Governo francês é oriundo da esquerda. A mais recente é Fadela Amara, de origem argelina, agora nomeada secretária de Estado para as questões da cidadania. Fadela distinguiu-se como presidente da associação Nem Putas Nem Submissas.
4. Zangam-se as comadres: Bernard-Henri Lévy desanca Bernard Kouchner, chamando ao novo ministro francês dos Negócios Estrangeiros "antigo médico sem fronteiras convertido em geoestratego de salão" pela sua aparente passividade perante a tragédia do Darfur, que "poderá saldar-se pela bagatela mínima de 300 mil mortos". Ao que parece, o "direito de ingerência" já conheceu melhores dias. "Esta evidência de um confronto Sul-Sul (no Sudão), esta imagem de um possível genocídio cometido por africanos contra outros africanos basta para paralisar e desarmar as inteligências", indigna-se Lévy.
5. A comunidade internacional tenta evitar a iminente execução de um casal iraniano. "Crime" cometido: adultério, que segundo o artigo 83º do Código Penal da República Islâmica do Irão é punido por lapidação quando envolve pessoas casadas, como seria o caso. Nota adicional: já estão ambos presos há onze anos.
6. O mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, desfiliou-se do Partido Republicano e é apontado como provável candidato presidencial independente em 2008, especulando-se já sobre o possível avanço do seu amigo Arnold Schwarzenegger para a corrida à vice-presidência. O milionário novaiorquino contesta o actual sistema partidário, que a seu ver conduz à "paralisia" da política norte-americana, desgastando a imagem dos Estados Unidos no mundo. A campanha presidencial é dispendiosa, o que não constitui problema para Bloomberg, cuja fortuna está avaliada em cinco mil milhões de dólares. Talvez por isso, ele gosta de recomendar aos aspirantes a políticos que se tornem milionários primeiro, "o que facilita muito as coisas".
Nem de propósito: ouço agora Money, dos Pink Floyd. Fecho o jornal: vou dar um mergulho. Já chega de notícias.