A esquerda órfã de líderes
"Visivelmente esgotado", como ontem assinalava a reportagem do El País, Durão Barroso teve um rasgo mediático ao oferecer um ramo de rosas a Angela Merkel. Mais que justificada, a entrega das flores: a chanceler alemã teve um papel decisivo nas complexas negociações que conduziram à solução de consenso na cimeira de Bruxelas. Tão importante como ela foi o novo presidente francês. Do equilíbrio precário que permitiu salvar a face europeia, enterrando de vez o projecto do defunto tratado constitucional e congeminando o sucedâneo possível, Merkel e Nicolas Sarkozy emergem de momento como os únicos líderes do Velho Continente com verdadeira envergadura internacional.
Nenhum deles de esquerda, note-se.
A democrata-cristã Merkel não tem hoje rival na Alemanha, onde os sociais-democratas (parceiros da coligação governamental em Berlim) se afundam de sondagem em sondagem, e o "conservador" Sarkozy - confortado com a recém-conquistada maioria absoluta na Assembleia Nacional - assiste de camarote às guerras intestinas dos socialistas franceses, dignas de uma telenovela mexicana. Com a partida de Tony Blair, que cede já na quarta-feira o lugar de primeiro-ministro britânico a Gordon Brown, a esquerda europeia fica ainda mais órfã de líderes.
Neste contexto, e por melhores que tenham sido as intenções de Barroso, é quase irónico oferecer rosas a Merkel, que bem merecia outra flor. Politicamente, a rosa está cada vez mais murcha.