quinta-feira, junho 28, 2007

Talvez especule...

Mas, depois de ler esta interrogação de Luís Paixão Martins a propósito de Joe Berardo dei por mim a reflectir, coisa que faço pouco e mal ao contrário do Luís. Este protagonismo furacão do empresário não é novo, mas ganhou uma dimensão adicional com a operação financeira no Benfica e a questão do CCB. Antes, na qualidade de accionista quer do BCP quer do BPI (só para dar um exemplo) ele foi o único a colocar questões delicadas em cima da mesa durante a OPA, em particular a relação entre a administração de Fernando Ulrich e os catalães do La Caixa. Agora, juntou-se a João Rendeiro e João Pereira Coutinho num grupo que pretende afastar Jardim Gonçalves eliminando o Conselho de Supervisão do Banco.
Isto para dizer que Joe Berardo afronta tudo e todos: Rui Costa e Ulrich, Jardim Gonçalves e Mega Ferreira. Fá-lo convicto da pequenez do país e seguro de que, pelo dinheiro e informação que acumulou, ninguém surgirá para fazer-lhe frente. E este momento é particularmente propício para Berardo porque, para onde quer que olhe e em qualquer área, o empresário só vê em seu redor pessoas que crê serem mais fracas do que ele.
No fundo, passámos da Era Belmiro para a Era Berardo. Com o chumbo da OPA da PT, fechou-se um ciclo que se concluiu com a derrota de um outro empresário que todos tinham em conta como alguém capaz de enfrentar o status quo. Não foi assim. Agora, a ver vamos quem e quando coloca uma barreira no caminho do iconoclasta e idiossincrático madeirense. Porque, se ninguém o fizer quando a ocasião o justificar, o problema não é esse que coloca Paixão Martins. É a consciência que se formará (que está já a formar-se) de que Berardo representa o verdadeiro poder que é tão somente o do dinheiro. E os outros, sejam quem forem, são apenas desautorizadas e transitórias figuras sem mando.
Adenda: Leia-se, sobre o mesmo assunto e num registo mais contundente, a crónica de hoje de Manuel António Pina, «Um país berardizado»