Dois ministros em três canais
Chegado ontem tarde a casa, decidi ver um pouco de televisão. Na SIC Notícias e na RTP-N, falava o ministro das Finanças, em maré de auto-elogio, gabando as putativas virtudes do Orçamento de Estado para 2007. Fixei-me então na RTP, disposto a espreitar o Prós e Contras. Falava outro ministro, António Costa. Que, ao contrário do que acontecia com Teixeira dos Santos nos outros canais, tinha claque de apoio: várias das suas frases foram sublinhadas com aplausos da assistência. Confesso que não me agradou esta cena no canal público. Também não gostei de ver Saldanha Sanches, um homem por quem tenho consideração intelectual, fazer coro com o titular da Administração Interna nas críticas aos autarcas que contestam a proposta de lei das finanças locais: fiquei particularmente perplexo com a sua absurda tese de que as autarquias "não têm legitimidade democrática plena" por lhes faltar o poder tributário (que elas, por sinal, reclamam há longo tempo). Mas o pior estava para vir com a intervenção de Susana Amador, a socialista que preside à câmara de Odivelas e que conheci em São Bento, como discreta assessora do grupo parlamentar do PS. Volvidos estes anos, continua a parecer uma assessora: ao contrário da esmagadora maioria dos presidentes de municípios, incluindo os do PS, ela diz aplaudir a proposta governamental "enquanto cidadã antes de ser autarca", frase que me deixou estupefacto. E mais espantado fiquei quando a vi bater palmas a António Costa, em plena emissão, após uma intervenção do ministro. Há pessoas que fazem da subserviência um lema de vida.
Fartei-me do Prós e Contras, voltei à SIC Notícias. Lá estava uma cara familiar: o ministro das Finanças falava ainda.