segunda-feira, outubro 16, 2006

A solidão aliada às coisas exteriores (II)

Graças ao trabalho meticuloso de Mécia de Sena (viúva do poeta de Metamorfoses), que guardou e coligiu as cartas recebidas de Sophia e as cópias das cartas endereçadas por Jorge de Sena à autora do Livro Sexto, ficamos agora a conhecer melhor os mecanismos de cumplicidade que irmanaram dois dos maiores nomes das nossas letras. Sena e Sophia não escondiam uma genuína admiração mútua, rara nos nossos meios culturais. Admiração reforçada no combate à ditadura salazarista, que ambos detestavam, mas também à hegemonia comunista no panorama literário português entre as décadas de 40 e 70 – hegemonia que excomungava todos quantos, sendo de oposição ao Estado Novo, não toleravam também eventuais ditaduras de sinal contrário. “Acho que não se pode criar em nome do antifascismo um novo fascismo”, escrevia Sophia a Sena em Março de 1962 – uma das mais notáveis missivas incluídas neste volume.