Mar morto
Só agora descobri, ao ler mais este excelente post do Eduardo Pitta, que o depauperado Ministério de Isabel Pires de Lima, a ministra que ainda não foi «à sua vida», vai gastar 2,5 milhões de euros para converter o abandonado Museu de Arte Popular em Belém num Museu do Mar da Língua.
Acho este nome lindo. Evoca-me, sei lá, o oceano de saliva que nós, brava mas desgraçadamente, percorremos de cada vez que o Estado dá à luz uma ideiazinha que se revela - mas é que é sempre - cópia de outra ideia qualquer já finada e enterrada.
O Estado não sabe velejar. Em lugar da bolina, sempre com costa à vista, prefere meter o pouco ouro que lhe resta no porão e fazer-se ao largo. Sem mapa e sem bússola. Depois naufraga e alguém lá vai salvar uns despojos para reconstituir idêntica aventura.
Não sei o que é isso do «Mar da Língua» mas imagino culposas referências às Descobertas repletas do habitual remorso do Homem branco mescladas com o nosso serôdio orgulho, de outrora como de hoje: Os Palop, a CPLP, «irmões» que somos todos e sempre seremos. Um disparate.
O Mar da Língua é onde nos afundamos há décadas. Palavras, leva-as o vento como diz o povo. Normalmente, até ao recife mais próximo.