domingo, outubro 15, 2006

A descolonização nunca existiu

José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, esteve recentemente internado em duas unidades hospitalares do Rio de Janeiro - a clínica de São Vicente e o Hospital de Botafogo. Abdelaziz Bouteflika, presidente da Argélia, foi operado no luxuoso Hospital de Val-de-Grâce, em França. Lansana Conté, presidente da República da Guiné, foi evacuado para a Suíça com graves problemas de saúde. Levy Mwanawasa, presidente da Zâmbia, deu entrada de emergência num hospital de Londres. Quatro décadas depois dos "ventos da História" terem expulso os europeus do continente negro, os dirigentes africanos dão hoje o exemplo em sentido contrário: mal adoecem, vão tratar da saúde o mais longe possível das suas decrépitas capitais. Isto diz bem da confiança que depositam nos tratamentos médicos ministrados nos países que governam, onde a miséria impera, a esperança de vida mal ultrapassa os 40 anos e a mortalidade infantil atinge níveis criminosos perante a eterna passividade das boas consciências ocidentais. Pena que o cidadão comum de África não possa dar-se ao mesmo luxo que os seus "líderes" ou forçá-los a frequentar hospitais africanos. Às vezes até parece que a descolonização nunca existiu.