sábado, outubro 14, 2006

Impunidade?

A crise norte-coreana entrou na fase crucial, com possíveis desenvolvimentos nas próximas horas. Tudo indica que a explosão realizada pelo regime de Kim Jong-il resultou da deflagração de um engenho obsoleto, mas nuclear. Tudo aponta para sanções limitadas da ONU, pois China e Rússia deverão bloquear qualquer resolução que possa incluir eventual força militar.
O regime irresponsável do ditador norte-coreano sofrerá bloqueios económicos e novas carências energéticas e alimentares, mas não suficientemente extensos para causar o seu colapso. Isso só irá piorar a situação lamentável da população. O embaixador americano nas Nações Unidas, John Bolton, dizia cinicamente que o povo norte-coreano já baixara o seu peso médio e altura média, portanto o ditador também podia fazer dieta. Ele referia-se a produtos de luxo que serão incluídos nas sanções, mas tocou no ponto essencial: a miséria dos inocentes é uma realidade.
A queda do regime de Kim Jong-il não interessa nem a russos nem a chineses, mas é uma perspectiva que assusta a Coreia do Sul (que seria obrigada a liderar a reunificação da península) e talvez os próprios EUA (quem sabe o que pode acontecer numa transição destas?). No tempo de Kim il-Sung, que iniciou a Guerra da Coreia (a que se refere esta pintura de propaganda), Moscovo e Pequim pareciam ter mais influência. O estranho é que já não consigam controlar os caprichos do “querido líder”.
Em resumo, o teste pode ficar impune, com sanções pouco mais fortes das que sofreram Índia e Paquistão, em situações idênticas. A ditadura comunista acabará um dia, mas não será da mesma forma que ditou o fim do regime de Saddam Hussein. E a argumentação usada na altura podia muito bem ser utilizada agora.
Se o crime de desenvolver e testar armas nucleares compensa para Pyongyang, também compensará para Teerão. A proliferação nuclear é inevitável. E existe um perigo arrepiante: o querido líder, num desespero, pode decidir vender os seus engenhos a grupos ou regimes fanáticos, com agendas ainda mais perigosas. Esta é uma crise muito preocupante e a única saída será o recuo incondicional de Kim Jong-il. Esperemos que as sanções sejam suficientes.

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