A solidão aliada às coisas exteriores (V)
Sena e Sophia nasceram no mesmo ano (1919), na mesma cidade (o Porto) e partilharam traços identitários, com destaque para a formação católica. A pulsão para o activismo político, por imperativo ético, também uniu estes dois escritores que só aos 50 anos, na sequência de uma breve deslocação de Sena a Portugal (já Marcelo Caetano substituíra Salazar) começam a tratar-se por “tu”. Este é, aliás, um dos aspectos documentalmente mais interessantes da Correspondência. De lamentar, além da perda de algumas cartas de Sena apreeendidas pela PIDE na casa de Sophia e jamais recuperadas, é a omissão total de correspondência no biénio 1974-75, tão decisivo para Portugal. Sena faleceu em 1978, sem se reconciliar com a pátria-mãe. Sophia viveu mais um quarto de século, fiel a um lema que tão bem expressou num dos seus poemas: “Meu signo é o da morte porém trago / uma balança interior, uma aliança / da solidão com as coisas exteriores.”
Correspondência. Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena. Edição Guerra & Paz, Lisboa, 2006. 158 páginas.
Classificação ***