A solidão aliada às coisas exteriores (IV)
Sophia preferia falar ao telefone do que manter uma correspondência activa, chegando muitas vezes a escrever cartas a Sena que este jamais leria. O incómodo de “ir à Baixa”, para despachá-las por correio, desencorajava-a com frequência. Sena, pelo contrário, era de escrita mais copiosa e regular. Mas as marcas do exílio – primeiro no Brasil e depois nos Estados Unidos – tornaram-no num ser amargurado, que ressumava azedume em relação às letras portuguesas, à “comunistada honorária” que ditava regras à esquerda e ao próprio país onde não conseguiu garantir o sustento da sua família numerosa antes e depois da Revolução dos Cravos. “Como essa pátria, tirando o povo e uns raros, é vil, canalha e mesquinha”, desbafava numa carta de Janeiro de 1968.