Angola e as críticas
Enfiei a carapuça. Na viagem de José Sócrates a Angola, escrevi uma série de textos sobre direitos humanos naquele país. Paulo Gorjão vem perguntar se não se deveria fazer o mesmo, agora, que Amorim avança com negócios.
Importa esclarecer umas coisas:
1. O trabalho sobre direitos humanos que escrevi tinha notícia. Por exemplo, um dos relatórios que citei (o da Mpalabanda) tinha sido publicado dias antes e sem que nenhum órgão de C.S. se tivesse debruçado ainda sobre ele.
2. O trabalho sobre direitos humanos saiu depois de José Sócrates ter elogiado por duas vezes, em dois dias diferentes, os progressos sociais em Angola, no sentido da democratização e da construção de um Estado de direito.
3. No trabalho não há críticas a José Sócrates. As críticas estão no editorial do jornal. No trabalho há, isso sim, referências aos elogios de José Sócrates ao processo em curso, que servem de justificação para depois decidir falar com um conjunto de angolanos activistas de direitos humanos.
4. O que eu fiz foi exercer o contraditório. Depois de ouvir Sócrates e Eduardo dos Santos a falar de paz social, democracia e Estado de direito, fui perguntar a pessoas habituadas a lidar com o sistema de justiça angolano e com o Exército se era como mo pintavam. Escrevi o que essas pessoas me dissera, da mesma forma que tinha escrito o que os governantes tinham afirmado.
5. Paulo Gorjão tem razão em duas coisas. Não há nada que impeça que os negócios de Amorim sejam pretexto para se voltar ao tema dos direitos humanos em Angola. Também não teria feito mal nenhum que se tivesse escrito sobre direitos humanos na visita a Marrocos. Mas também não sei - não estive lá - se José Sócrates andou por Marrocos a elogiar o esforço de democratização do rei marroquino.
6. Para terminar um testemunho sobre a polícia angolana, presenciado por algumas pessoas da comitiva, à frente do hotel. Uma mulher com filho ao colo espera que o trânsito pare para atravessar a rua. Divide uma banana com o filho. Uma pick up da polícia aproxima-se com agentes sentados na caixa aberta. Ao passar pela mulher, um dos polícias estica-se e rouba a banana da mão da mulher. Os outros polícias riem-se enquanto o polícia-ladrão engole a banana.
7. Foi este estado de coisas que José Sócrates elogiou.