quarta-feira, janeiro 16, 2008

Fazer história

Aproxima-se o centenário da revolução republicana que, não sendo uma data feliz, é uma data histórica e como tal será assinalada. Se para os seus devotos se trata de comemorar, para nós monárquicos e cidadãos livres trata-se tão só de rememorar.
Garantidos estão já discursos laudatórios e pomposas evocações: o regime celebrará a data do seu nascimento e a sua sobrevivência por um século. As comemorações oficiais não se debruçarão sobre a república proclamada em 5 de Outubro de 1910, mas sobre um regime idealizado e abstracto, sobre generosas intenções que se presumirão nos republicanos de 1910, e das quais os políticos comemorantes se pretenderão afirmar-se herdeiros.
Acontece que estas celebrações, pela intrujice histórica em que se sustentam, constituem uma oportunidade única de sobrepor alguma verdade histórica à descarada propaganda oficial. Assim, beneficiando da democrática ferramenta de comunicação em que se tornou a Internet, um grupo de cidadãos juntou-se com a intenção de desenvolver uma plataforma informativa on line, o www.centenariodarepublica.org. Ainda em construção, neste sítio pretende-se coligir informação histórica, desde simples dados estatísticos a imagens e transcrições da época, acontecimentos e ensaios, até artigos de opinião que terão lugar privilegiado no blogue associado http://centenario-republica.blogspot.com que esperamos que se afirme a curto prazo como um privilegiado espaço de fervilhante polémica e o aceso debate.
Idealizada a iniciativa pelo Carlos Bobone e por mim há quase um ano num primaveril almoço, cedo desfiámos um pequeno núcleo de voluntariosos colaboradores para o arranque do projecto; são eles o nosso Duarte Calvão, João Paulo Carvalho, Nuno Pombo, e o Paulo Cunha Porto.
O trabalho a sério vai começar, e esperamos que venha a revelar-se uma eficiente contribuição, uma boa fórmula de contrariar a propaganda que o regime prepara para a efeméride sob a batuta do “suspeitíssimo” Prof. Vital Moreira e para a qual contamos com a participação de todos que assim o desejarem.
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Na ilustração: logótipo da Plataforma do Centenário, composto por uma caricatura destacada do jornal Papagaio Real nº 7 do ano de 1914 representando a guarda republicana em perseguição dum ardina que distribuía jornais monárquicos.

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quarta-feira, outubro 10, 2007

Uma boa causa

Poucos dias passados sobre o cinco de Outubro, e com um estranho sentido de oportunidade, André Abrantes Amaral surpreendeu-nos com um texto no Insurgente arrogando a inviabilidade da monarquia e onde vitupera os monárquicos portugueses.
Tenho a dizer que compreendo alguns dos argumentos apresentados. Como o André, eu reconheço que o sistema monárquico sempre foi mais maltratado pelos próprios simpatizantes do que pelos seus opositores. A primeira razão sempre foi a sua manifesta incapacidade de pragmatismo e unidade em torno do "fundamental". Depois sempre houve o frívolo ruído oriundo do típico “marialva” ou pseudo fidalgote “de bigode retorcido” ansioso dum estéril protagonismo social. Tudo gente simpática aos poucos mas activos jacobinos da nossa praça.
Também sou forçado a concordar com o André, que os desafios práticos e concretos da realidade portuguesa, o nosso endémico atraso cultural e económico, a mentalidade paternalista, dificilmente seriam resolvidos pela simples deposição da república.
Mas acontece que, como diz o André, a república em Portugal nasceu de um equívoco. E a mim parece-me que há demasiado tempo que fazemos tábua rasa a demasiados equívocos. E, impassíveis, adulteramos a nossa história, mascaramos o presente e comprometemos o futuro.
Assim, não me parece sábio que se deixe cair o ideal monárquico, mesmo que ele aparente ser despropositado. Poucos anos antes do regicídio, a monarquia aparentava fimeza, os republicanos eram apenas uma franja marginal no palco político. Mas as agendas da história reservam-nos sempre espantosas surpresas.
Por mim, parece-me que somos um povo confuso nos valores e uma sociedade sem referências. Um país cujas cidades ostentam os nomes de Elias Garcia e Cândido dos Reis (quem conhece as suas obras?) nas suas mais importantes artérias. Um país que só no futebol descobre os seus símbolos é um país sem alma, em deficit de identidade. Confundido, estéril. Os símbolos de uma nação inspiram a ética e um ideal comum...
Finalmente, também concordo com o André que a discussão da “monarquia” poderá ser “bafienta”. Assim sendo, cabe então a nós elevar-lhe o nível! Estranho por exemplo, como num pais pretensamente civilizado, tardam em assumir-se núcleos de monárquicos nos partidos políticos. Custa-me a perceber de que se escondem os tão valorosos (e conhecidos) simpatizantes monárquicos na vida pública nacional. Será bafienta cobardia, ou apenas medíocre calculismo?
A monarquia é um assunto sério, e eu acredito que pode comportar a regeneração nacional. Para já, cabe à minha geração não deixar morrer a discussão, antes revitalizá-la, enriquecê-la. A largueza de perspectivas só pode beneficiar o pais, sem prejuízo da gestão corrente do Portugal possível.
Pode ser amanhã, na próxima geração ou daqui a duzentos anos. A monarquia constitucional, é um sistema intemporal e civilizado, é um ideal legítimo e patriótico. Preparemo-nos para o são e sério debate, pois a res publica merece e oportunidades não faltarão nos próximos anos.

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terça-feira, setembro 25, 2007

Ainda o Aquilino e a festança dos jacobinos

Os monárquicos não querem Aquilino em Santa Engrácia por causa da sua eventual participação no regicídio, os órfãos do Dr. Afonso Costa querem-no em Santa Engrácia precisamente por isso.
Sobre os dislates da jornalista Fernanda Câncio, a respeito da monarquia constitucional e o regicídio, ler na integra o brilhante texto de Pedro Picoito no Cachimbo de Magritte.

P.S.: Ó Pedro, tem paciência, mas confessa lá onde gamaste esta preciosa ilustração, e eu prometo não te chamar monárquico!

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terça-feira, agosto 07, 2007

História de algibeira (26)

Debaixo de grande polémica, Carolina Beatriz Ângelo, médica, viúva e "chefe de família", ousou votar nas primeiras eleições republicanas a 28 de Maio de 1912 aproveitando as indefinições existentes no enunciado da Lei.
Na sequência da controvérsia, é aprovada pelo senado em 1913 a Lei Eleitoral da República (nº 3 de 3 de Julho) onde pela primeira vez num texto legislativo se determina expressamente o sexo dos cidadãos eleitores: “são eleitores dos cargos políticos e administrativos todos os cidadãos portugueses do sexo masculino, maiores de 21 anos, ou que completem essa idade até ao termo das operações de recenseamento, que estejam no gozo dos seus direitos civis e políticos, saibam ler e escrever português e residam no território da República Portuguesa".
O direito de voto às mulheres foi concedido (precariamente) pela primeira vez em Portugal, em 1931 sob o patrocínio legislativo do Estado Novo (lei nº 19:694 de 5 de Maio), restringido àquelas com o curso dos Liceus. Em 1934 nas eleições legislativas foram eleitas pela primeira vez mulheres para a assembleia nacional: Domitília Hormizinda Miranda de Carvalho, Maria dos Santos Guardiola e Maria Cândida Pereira.

Fonte: “A Concessão do Voto às Portuguesas” por Maria Reynolds de Souza, 2006 - Colecção Fio de Ariana editada pela Comissão Para a Igualdade e Para os Direitos das Mulheres.

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domingo, agosto 05, 2007

A luta continua

A “soviética” revolução de Outubro, violentíssima génese do mais sanguinário regime conhecido, celebra 90 anos dentro de alguns meses, e é razão para entusiásticas celebrações na próxima festa do “Avante!”, órgão oficial do sistémico Partido Comunista. A inteligenzia apaniguada do regime fechará convenientemente os olhos à ignóbil celebração. Para tanto basta um convite para uma pública passeata no santuário do Seixal que logo o tinto carrascão e umas febras fumegantes, adormecem a sua sensibilidade democrática. A boa propaganda assim aconselha, pois afinal não é tudo tão “relativo”?
Entretanto, à conta do erário público, preparam-se os nacionalíssimos festejos do centenário da velha e caduca república do não menos passado Dr. Vital Moreira. Celebremos então a carbonária, a formiga branca e o camião da morte. Rejubilemos com as perseguições e o ressentimento sanguinário, o assassinato politico, a desregulação democrática, enfim, o completo caos.
A gananciosa fidalguia regimental, em plena posse da máquina de propaganda, rejubila com a previsível festança para o pagode iletrado. Para o povo historicamente analfabeto e acrítico, hoje alienado com as ilusões da fortuna pós-moderna: viagens enlatadas, telemóveis topo de gama, unhas de gel e outros ídolos do jet 7. Uma vertigem de prazer inusitado.
Abaixo da superfície, uma ligeira vibração é perceptível. Sinais de que a história não acaba aqui e de que a luta continua.

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sexta-feira, maio 25, 2007

A quem possa interessar...

A implantação da república portuguesa é um assunto pacifico e arrumado, conquanto não se aprofunde muito o assunto, não se levantem demasiadas lebres. Com noventa e tal anos de propaganda não se conseguiu mascarar a história, apenas iludir um povo ignorante e indolente. Vamos então pôr as mãos na massa, desfolhar a história e enfrentar tabus? Gloriosos tempos se avizinham!

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