
Poucos dias passados sobre o cinco de Outubro, e com um estranho sentido de oportunidade, André Abrantes Amaral surpreendeu-nos com um
texto no
Insurgente arrogando a inviabilidade da monarquia e onde vitupera os monárquicos portugueses.
Tenho a dizer que compreendo alguns dos argumentos apresentados. Como o
André, eu reconheço que o sistema monárquico sempre foi mais maltratado pelos próprios simpatizantes do que pelos seus opositores. A primeira razão sempre foi a sua manifesta incapacidade de
pragmatismo e unidade em torno do "fundamental". Depois sempre houve o frívolo ruído oriundo do típico “
marialva” ou pseudo fidalgote “de bigode retorcido” ansioso dum estéril protagonismo social. Tudo gente simpática aos poucos mas activos jacobinos da nossa praça.
Também sou forçado a concordar com o André, que os desafios práticos e concretos da realidade portuguesa, o nosso endémico atraso cultural e económico, a mentalidade paternalista, dificilmente seriam resolvidos pela simples deposição da república.
Mas acontece que, como diz o André, a
república em Portugal nasceu de um
equívoco. E a mim parece-me que há demasiado tempo que fazemos tábua rasa a demasiados equívocos. E, impassíveis, adulteramos a nossa história, mascaramos o presente e comprometemos o futuro.
Assim, não me parece sábio que se deixe cair o ideal monárquico, mesmo que ele aparente ser despropositado. Poucos anos antes do regicídio, a monarquia aparentava fimeza, os republicanos eram apenas uma franja marginal no palco político. Mas as agendas da história reservam-nos sempre espantosas surpresas.
Por mim, parece-me que somos um povo confuso nos valores e uma sociedade sem referências. Um país cujas cidades ostentam os nomes de Elias Garcia e Cândido dos Reis (quem conhece as suas obras?) nas suas mais importantes artérias. Um país que só no futebol descobre os seus
símbolos é um país sem alma, em deficit de identidade. Confundido, estéril. Os símbolos de uma nação inspiram a
ética e um ideal comum...
Finalmente, também concordo com o André que a discussão da “monarquia” poderá ser “bafienta”. Assim sendo, cabe então a nós elevar-lhe o nível! Estranho por exemplo, como num pais pretensamente civilizado, tardam em assumir-se núcleos de monárquicos nos partidos políticos. Custa-me a perceber de que se escondem os tão valorosos (e conhecidos) simpatizantes monárquicos na vida pública nacional. Será bafienta cobardia, ou apenas medíocre calculismo?
A monarquia é um assunto sério, e eu acredito que pode comportar a regeneração nacional. Para já, cabe à minha geração não deixar morrer a discussão, antes revitalizá-la, enriquecê-la. A largueza de perspectivas só pode beneficiar o pais, sem prejuízo da gestão corrente do
Portugal possível.
Pode ser amanhã, na próxima geração ou daqui a duzentos anos. A monarquia constitucional, é um sistema intemporal e civilizado, é
um ideal legítimo e patriótico. Preparemo-nos para o são e
sério debate, pois a
res publica merece e oportunidades não faltarão nos próximos anos.