segunda-feira, janeiro 08, 2007

O deserto de ideias

Embora tardiamente, acho que o Tugir - um dos blogues de esquerda que o Corta-Fitas mais respeita - merece uma resposta a este meu post da semana passada. Diz o Carlos Manuel Castro que Ségolène Royal "veio dar um sangue novo ao PSF, carregado de dinossauros com uma leitura arcaica da realidade na era da mundialização" e que a senhora "está a apresentar a sua forma de ser e a dar bons sinais, de que com a sua chegada ao Eliseu, as coisas vão mudar para melhor em França e na Europa, como fez questão de referir no último Congresso do PSE, realizado em Dezembro passado no Porto".
Caro CMC, não concordo consigo. É certo que não estive no 'conclave' do Partido Socialista Europeu no Porto, onde você diz que a senhora fez grandes revelações, mas a esta distância não consigo reter uma única coisa nova que Ségolène Royal tenha dito. Também é verdade que naqueles dias não era fácil fazer passar uma mensagem forte, com uma lista de oradores de tão grande nível e com uma audiência recheada de tantas sumidades...
Tenho pena que o CMC tenha optado por não debater o essencial, do alto do seu fascínio pela senhora. Optou antes por descrever as imensas qualidades que a candidata decerto terá e que eu ainda não vislumbrei: "Desde que foi consagrada candidata presidencial pelos militantes socialistas, Ségolène já recebeu diversos rótulos. E, até ao fim da campanha, provavelmente, receberá muito mais. Tudo se procurará fazer para desacreditar a candidata socialista. Primeiro, era mulher. Não pegou. Depois, por não ter ideias. Também não pegou. Agora é demagógica, porque expressa algo constatado por todos. Ségolène não inventou a roda, nem descobriu o fogo, está a apresentar o que considera melhor para a França".
Gostava de saber o que pensa o CMC sobre a recente deriva "direitista" de Ségolène, com um discurso securitário que faz Sarkozy parecer um menino de coro. O que pensa sobre os "tribunais populares" para julgar certos actos dos políticos. O que pensa por exemplo das ideias da senhora em matéria económica e o que quer dizer a "ordem económica justa", o "reequilíbrio entre o capital e o trabalho" a favor deste último.
A verdade, meu caro, é que, para além de ter relativamente bom aspecto físico, ninguém sabe o que a senhora pensa. O que é perigoso, para a França e para a Europa. Ao contrário do que você diz - "afinal, os socialistas não são apenas modernos nas palavras, mas também nos actos" - a vacuidade e o deserto de ideias em que navegam alguns líderes da nova esquerda europeia pode custar caro. Aqui ao lado, em Espanha, há milhões arrependidos com o voto em Zapatero após o 11 de Março. Por isso é melhor pensar antes de votar e não sofrer depois as consequências.
Já agora, estou de acordo com o epíteto que o João Gonçalves lhe atribuiu. E acrescento: Ninguém se chama Ségolène. Nem em França.

P.S. - Não será por acaso que o Tugir 'linka' o 'site' de Ségolène Royal na sua barra lateral, com a assinatura da dita senhora e tudo. Ao menos são sinceros, não disfarçam. O que é uma grande vantagem nos dias que correm. Respeitosos cumprimentos.