Eu não nasci para a música
Quando estreou «A Insustentável Leveza do Ser», passei o filme inteiro a tentar decidir se me apetecia mais ir para a cama com a Juliette Binoche ou com a Lena Olin e invejando o protagonista Tomás por ir para a cama com as duas. Para além delas (com destaque para a famosa cena do chapéu de coco), só recordo o momento em que, num restaurante refinado, a Sabina interpretada por Olin exige ao chefe de sala que desligue aquela «merda». A «merda», entenda-se, era a música que saía de umas invisíveis colunas.
Vem esta confidência a propósito do antológico artigo de António Barreto, ontem no Público, sobre outra praga que não a cidade checa. A praga da musak. A musiquinha irritantezinha omnipresente que nos entra, aos incautos, pelo encéfalo adentro em tudo o que é lugar, incluindo os mais inesperados. No mesmo texto, António Barreto diz que existe já, lá fora, um guia de locais onde a música e a televisão estejam ausentes para bem da sanidade dos visitantes. Convido, desde já, aqueles que me lêem a juntarem-se a mim para a edição de semelhante roteiro em Portugal. Se há acção cívica obrigatória, é sem dúvida esta.
Adenda: E são estudos como esse que transformam a praga numa pandemia, Marta.