segunda-feira, janeiro 08, 2007

O Movimento do Nim

Notícia hoje no Público: «Movimento Responsabilidade pelo "Sim" diz não ao aborto». Surpreendente? Nem por isso. Antes uma manobra táctica de grande eficácia. O Movimento afasta-se da esgrima de argumentos com o coração na boca e centra-se na questão que, em termos práticos, é a única capaz de motivar as/os indecisas/os ao voto favorável. «Nós vamos votar Sim mas somos contra o aborto», dizem as dirigentes do movimento, explicando que votam para «pôr fim a uma lei injusta que persegue criminalmente as mulheres».
Para quem tem seguido de fora as abordagens de um e de outro lado, esta é de longe a mais lúcida das até agora apresentadas, do ponto de vista «político». Mesmo que seja, evidentemente, uma treta. Ao ler outras afirmações na notícia, como a de que «cabe às mulheres e aos homens "o poder de planear as suas vidas e ter os filhos que pretendem», ao ver que se inclui no Movimento a Associação para o Planeamento da Família e surge na notícia, como defendendo os seus argumentos, a Plataforma Não Obrigada, percebemos que este MCRS e o seu conjunto de iniciativas são uma espécie de falsa terceira via.
Ou seja, este não é o Movimento do Nim, é mais um grupo de pressão pelo Sim. Muito inteligentemente, os defensores do Sim entenderam que fazia falta um discurso mais moderado para capitalizar uma margem de abstenção que, embora compassiva face à questão da penalização, teme (e faz bem em temer) o efeito desse seu voto no aumento do número de abortos. Acreditando neste argumento, podem votar com a consciência mais tranquila. «Voto Sim, mas sou contra o aborto». Ora aí está uma lógica que faria corar Aristóteles. Politicamente, no entanto, dou-lhes a mão à palmatória: É uma jogada digna do próprio Kasparov.

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