Passar das marcas
Não resisto ao humor fácil: A publicidade, por vezes, passa das marcas.
Exemplo? Peguem no último exemplar da "Única" e atentem na contra-capa, onde quatro modelos penteadinhas e maquilhadas, com ar agressivo, seguram um cartão de papelão. Nele está escrito: «Mais aos pequenos. Menos aos grandes».
Reivindicação social? Nem pensar! «Quem fala assim tem Teka», desvenda-nos a assinatura da marca de electrodomésticos. A parede de fundo do anúncio, o papelão, tudo nos remete para o território urbano dos sem abrigo.
Suponho que a ideia deve ter sido a de provocar pelo menos o esboço de um sorriso. Em mim, espoleta uma úlcera nervosa. Recordo que há anos, uma revista (a Icon) promoveu-se sendo fotografada aberta sobre a cabeça de um desses desalojados. Uma revista aliás de indubitável qualidade e que falava de design, resorts e outras coisas boas da vida.
Entre essa campanha e agora esta há um mesmo tom jocoso, piscando o olho ao abissal fosso entre quem pode ter e quem nunca terá. Eu não acho isto cómico. Até porque tenho Teka e não falo assim.