Aerial – O Retorno de Kate Bush
Tinha que escrever sobre isto: Um dos maiores prazeres de que tenho usufruído nos últimos meses, é a audição do último disco da cantora (poeta, compositora e pianista) Kate Bush. Há muitos anos que um álbum de música dita “popular” não me entusiasmava tanto.
Como tantos outros descobri esta cantora britânica em 1978, através do seu álbum de estreia “The Kick Inside”. Um daqueles raros discos em que cada uma das suas 13 faixas (lembram-se das “faixas”?) devidamente divulgada na rádio era digna de lançar a artista nas tabelas de vendas. Foi o que aconteceu ao tema Wuthering Heights.
Kate Bush, oriunda de uma família de músicos, é antes de uma “invulgar voz”, uma excelente compositora, com muito bom gosto nos arranjos musicais. Uma artista completa, que acompanha a sua poesia ao piano com invulgar competência.
Depois do seu primeiro álbum, “The Kick Inside” acompanhei os álbuns seguintes com expectativa muito alta, Lionheart (1978), Never for Ever (1980), The Dreaming (1982), Hounds of Love (1985), The Sensual World (1989), mas confesso que à parte algumas inegáveis pérolas, mais nenhum álbum me convenceu inteiramente. Parece-me agora, à distância que as suas melodias foram anoitecendo, desvanecendo em cada vez mais complexos e abstractos temas e ritmos pesados, que sempre houve quem o fizesse melhor. O seu ultimo The Red Shoes (1993) nunca conheci.
Depois de treze anos de absoluto silêncio, Kate Bush surge, corajosa quarentona, com um poderoso duplo CD: Este Aerial é uma obra prima em dois discos (A Sea of Honey e A Sky of Honey) de 40 minutos cada, à boa maneira do antigo vinil.
Envolvidos em vozes de crianças e cantos de pássaros, sons de ventos: “(...) Is that the wind from the desert song? Is that an autumn leaf falling? Or is that you, walking home? Is that a storm in the swimming pool? (…) “ somos levados tema a tema por “recordações” fantásticas, como em “A Coral Room”. Visitamos Joana D’ Arc no campo de batalha em “Joanni”: “All the banners stop waving, And the flags stop flying, And the silence comes over, Thousands of soldiers, Thousands of soldiers (...)”. Em PI somos literalmente hipnotizados com um poema feito de números declamados aleatoriamente... Quase oitenta minutos de gozo, e às vezes de arrepiar.
Pesquisei sobre a cantora na net. Fiquei a saber que nada se sabe da vida particular e que não fala à imprensa sem ter alguma coisa para dizer. Assim é que é: A sua música é que nos interessa!