Casa vazia
Em política, tenho conhecimentos suficientes para manter uma conversa com o meu barbeiro, mas a ausência de deputados, na semana passada, não me surpreendeu. Ela revela o enorme afastamento que existe, na nossa democracia, entre eleitores e eleitos: se um deputado sentisse que seria penalizado por faltar a uma votação, nomeadamente que os seus eleitores pediriam responsabilidades na eleição seguinte, ele não faltaria; muito menos iria ao parlamento apenas para assinar o livro de presenças. Há demasiados deputados na Assembleia da República. Do total de 230, mais de cem não passam de figuras sem importância na tomada de decisões. Assisti a reuniões de comissões especializadas (onde está o verdadeiro poder deste parlamento) e lembro-me de ficar chocado com a ignorância de alguns deputados sobre os assuntos que eram ali discutidos. Se existe gente a mais, se estão ali só para fazer número, porque não um parlamento só com 120 ou 150 deputados? Os que ficassem teriam salários mais altos. Quanto ao argumento de que os pequenos partidos não tinham eleitos, penso que isso não seria tão líquido, se acabassem as listas distritais e houvesse uma única, nacional. Desde quando é que o cabeça de lista por Viseu é mesmo de Viseu? O facto é que as quotas, as intrigas partidárias e os maus salários estão a afastar as melhores pessoas da política. Há um nivelamento por baixo, que se vê bem nestas ocasiões. Desta vez, a opinião pública deu pelo absentismo parlamentar por ter havido falta de quorum, mas é muito frequente estar a casa quase vazia, apenas com o número indispensável para haver quorum, e ninguém dar por nada.