A tragédia europeia
Há uma direita portuguesa que defende o modelo liberal e a sociedade conservadora, o que não deixa de ser uma notável mistura ideológica. Esta nova direita gosta de fustigar os europeus e defender tudo o que vem dos Estados Unidos, nomeadamente criticar a UE e elogiar a estratégia iraquiana da administração Bush. A ideia é a seguinte: no Iraque, as coisas compõem-se e, na Europa, decorre uma tragédia. O artigo de Luciano Amaral no DN é, a todos os títulos, sintomático do que me parece ser um típico erro de perspectiva.
A análise centra-se nos problemas da França, Itália e Alemanha e parte do pressuposto não explicado, segundo o qual o “projecto europeu” foi raptado por dirigentes “radicais” que pretendem construir uma Europa contra os Estados Unidos, em vez de se limitarem ao projecto original de uma zona de livre comércio. Ora, a Europa não está a ser construída contra os EUA e o projecto original não visava apenas o livre comércio.
No que respeita aos problemas do trio de países, a interpretação esquece vários pontos. Concordo que nestas eleições, em Itália, a escolha era péssima, com duas opções lamentáveis. Mas a política italiana sempre foi assim, com a diferença de que desta vez havia alternativa.
Em França, a situação parece bloqueada, mas isso é uma ilusão; haverá eleições em 2007 e, seja a esquerda ou a direita a ganhar, sabemos que haverá uma nova geração de políticos após essa votação.
Na Alemanha, a grande coligação serve para executar reformas limitadas, por consenso. A definição só virá depois, presumivelmente com poderes acrescidos para Merkel.
Ou seja, não há uma tragédia europeia, mas sim uma mudança europeia.