A escolha da instabilidade
Na Europa, já não estávamos habituados a eleições com eleitorados divididos ao meio e vitórias arrancadas por uma unha negra. No domingo, houve duas votações com esse perfil, em Itália e Hungria, mas antes registara-se fenómeno semelhante na Alemanha. Claro que também há exemplos de eleições democráticas com resultados evidentes; e, na maior parte dos países europeus, é normal existirem diferentes coligações de partidos a adaptarem-se a novas situações.
Mas, em Itália, a diferença entre as duas coligações foi mínima e o futuro poder será instável, de tal forma o centro-esquerda é heterogéneo; na Hungria, a eleição será decidida na segunda volta, com duas coligações a disputarem círculos uninominais; tudo indica que a diferença final será de poucos deputados, a favor da esquerda ou da direita, o que equivale a ameaça de instabilidade.
Os dois casos têm, pois, semelhanças: a bipolarização extrema está a originar disputas cerradas; por outro lado, os partidos podem fazer promessas típicas da esquerda ou da direita, mas a governação dirige-se cada vez mais para o meio termo, típico do centro. Tudo isto confunde o eleitorado, penaliza a sinceridade e dá vantagem à política do carisma.
Os alemães parecem ter saído deste ciclo vicioso através do pragmatismo da grande coligação e da nova chanceler. Os países europeus em maior crise que conseguirem imitar a Alemanha terão maior oportunidade de resolver os seus problemas. Italianos e húngaros escolheram a via mais desordenada.