segunda-feira, abril 10, 2006

Obviamente é candidato


A revogação, porque é disso que se trata, do chamado Contrato Primeiro Emprego (CPE) em França é um acto com várias consequências, umas mais previsíveis, outras menos. Em primeiro lugar, a decisão de Jacques Chirac vem demonstrar que a força da "rua" sobrepõe-se à autoridade de Estado, o que é lastimável e terá resultados nefastos a curto e médio prazo. Depois, o primeiro-ministro Dominique de Villepin fica extremamente enfraquecido na luta pelo Eliseu que vem travando com o até agora homem-forte do Executivo, Nicholas Sarkozy. O ministro do Interior com a sua posição pró-substituição do CPE acaba por ultrapassar o seu rival na sucessão de Chirac, com o apoio deste (será?). O Presidente francês, considerado um gaffeur por natureza nos meios políticos, universitários e culturais, acaba por fazer justiça ao epíteto. O CPE está morto e enterrado e dali vai nascer um "mecanismo" que visa favorecer a entrada dos jovens no mercado de trabalho. A ver vamos no que isto tudo vai dar, com a certeza de que Chirac agiu com o Eliseu em mente. A recandidatura ainda é possível, como há uns dias atrás defendia Marcelo na RTP1. Eu concordo. Acho que o septenato não lhe chegou e que ele quer ficar, tentando agora ser eleito com o apoio dos votos do centro-esquerda, esfrangalhando o seu RPR e a União para uma Maioria Presidencial (UMP). Obviamente, Chirac é candidato, mas será que o demite (ao Monsieur de Villepin?)...
José Sócrates, que se encontra em Paris para uma cimeira com o chefe de Estado e o chefe do Governo francês, ainda não abriu a boca sobre o CPE. Esteve de manhã cedo com Chirac e à saída nada disse. Veremos o que dirá depois de ir ao Matignon, se bem que me parece que a lógica diplomática falará mais alto e, enquanto não pisar solo português, nada feito. Estou curioso, até pelas medidas que têm sido implementadas por cá e que se afastam cada vez mais do Estado Social à grande e à francesa.