O prometido é devido
Entrevista a João Villalobos, distinto colaborador do “blog” Corta –Fitas
Manuel Leão: Boa tarde, Sr. João Villalobos!
João Villalobos : Boa tarde.
ML. :A razão que me traz a esta entrevista, tem que ver com um “post” seu, publicado no Corta-Fitas, no dia 9 de Janeiro, intitulado “O que eles querem sei eu”.
JV : Porquê esse em especial?
ML : Porque o João desenvolve um raciocínio, assaz curioso, para justificar a sua posição de recusa ao referendo sobre o Tratado de Lisboa.
JV : Como assim?
ML : Se bem entendi, “CDS, PCP, Bloco de Esquerda e Verdes reclamam referendo” porque defendem o «Não».
JV : Isso mesmo. Os únicos que querem o referendo defendem o «Não».
ML : Mas não podem?
JV : Não, porque o que eles querem é aproveitar o referendo para fazer “uma campanha durante a qual se debatesse tudo menos o Tratado de Lisboa e as suas implicações para os portugueses e a Nação”.
ML : Mas se o Sr. tem a certeza que ganha o «Sim», que mal faria? Afinal, hoje em dia, mal se podem distinguir quais as consequências na situação económica e social que derivam das políticas da EU ou das que emanam do Governo. E, por outro lado, há pessoas que votam «Sim» e, no entanto, querem o referendo.
JV : Mas repare bem: se eu defendo o «Sim», é lógico que considere que o «Não» é inaceitável. E, ainda por cima, todas as sondagens dão a vitória ao «Sim». É claro que, com isso, o que eles demonstram é não saberem perder. E não só. Demonstram, também, ser maus portugueses ao insistir no referendo. O que pretendem é fazer gastar inutilmente dinheiro do Orçamento de Estado, para realizar eleições, agravando ainda mais o défice. Ao menos as sondagens são pagas pela comunicação social e servem muito bem.
ML : Mas, o que o Sr. está a dizer é que – se amanhã as sondagens indicarem, claramente, uma vitória do Partido X - não serão de “autorizar” eleições, a bem da contenção orçamental e da redução do défice.
JV : É evidente! Mas não é só. Para além disso, não podemos esquecer a tranquilidade que isso representa para quem governa, que o mesmo é dizer para a Nação.
ML : Estou a ver… Mas o que diz ao argumento de que os povos cada vez se sentem mais ignorados no processo da construção da Europa?
JV : Eu sei que “há algumas pessoas que genuinamente pensam que ainda faz sentido discutir Portugal fora da Europa. Mas essas estão dentro da Máquina do tempo e é deixa-las viajar”
ML : Lamento dizer-lhe, mas a sua teoria não é original!
JV : Como assim?
ML : Por exemplo, Salazar e os seus apoiantes também não gostavam de eleições, pelo que representavam de perda de tempo. Afinal eles também estavam convencidos que as suas propostas eram sempre o melhor para a Nação. Lembra-se: “A Nação não se discute”? É pena que, depois de tanto trabalho argumentativo, não possa colher os louros da originalidade.
JV : Mas o meu raciocínio trilhou sempre uma lógica irrefutável.
ML : Eu compreendo. Para si, tanto trabalho merecia melhor sorte. Mas a vida, por vezes, é ingrata.Se me permite um conselho …
JV : Qual?
ML : Vá por mim, eles não merecem o seu esforço. O melhor é dedicar-se a uma tarefa menos exigente e mais tranquila. Digamos, por exemplo, a pesca. É mais calma e sempre pode levar umas tainhas para casa.
JV : Hum!
ML : Olhe, já agora nunca caia na tentação de entrar na “máquina do Tempo”. O mais certo era aterrar, algures, no Século XVII. Pelo menos…
Disclaimer: As passagens incluídas entre aspas, são transcrições do referido “post”, da autoria do meu ilustre entrevistado: João Villalobos.
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