quinta-feira, novembro 22, 2007

Um conto com final feliz


Tenho uma ideia para um conto que aqui deixo a quem queira aproveitá-la: A personagem principal é redactor na filial portuguesa da Multinacional do Medo. Em cubículos exíguos, semelhantes ao de um call center, é apenas um entre muitas centenas de outros, responsáveis por escrever e enviar mensagens de correio electrónico com boatos geradores de pânico que, depois, os ingénuos e desinformados receptores disseminam por todos os seus amigos e conhecidos, aliviados por cumprirem o papel de denúncia, de vigias em prol de um mundo melhor.
O redactor sabe que não. Que quem reencaminha os e-mails do medo é apenas outra minúscula engrenagem na fábrica desse medo, outro degrau na pirâmide do spam: A criancinha que desapareceu no supermercado ou numa loja de chineses, os animais geneticamente modificados transformados em hambúrguer, o iogurte que causa doenças, o refrigerante que foi desenvolvido pela CIA e chegou aos hipermercados, o homem que morreu ao beber por uma lata com urina de rato, são apenas os mais corriqueiros.
A imaginação dos redactores da Multinacional não tem limites. O seu trabalho é trazer para a superfície os mais irracionais boatos, rumores e receios. É um trabalho criativo, de certa forma. Pelo menos assim pensa o nosso herói quando precisa de justificar-se o ganha-pão. Não pode dizer o que faz a quem quer que seja, imagina as represálias e treme.
Mas um dia, em que se encontra bloqueado e nenhuma ideia lhe ocorre, não resiste a escrever: «Existe uma Multinacional do Medo que inunda as caixas do correio com boatos falsos e assustadores para criar listas de spam e provocar o caos nos servidores e nas mentes de pessoas em todo o Mundo! É preciso denunciá-los!!! Envia este aviso para todos os contactos na tua caixa de correio». Surpreso, vê a mensagem bater todos os recordes da história da Companhia. É nomeado empregado do mês.
Inspirado na notícia do Pedro Sousa Tavares hoje no DN, «DECO alerta para falsos avisos que circulam na Net». Obrigado Pedro.

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